A quarta sessão do julgamento do mensalão durou pouco menos de cinco horas.
Cinco defensores falaram no púlpito do Supremo Tribunal Federal (STF) em defesa de seus clientes. Além dos quatro ligados a Valério, falou ainda o ex-ministro José Carlos Dias, advogado da ex-presidente e atual acionista do Banco Rural Kátia Rabello.
Dias negou que o banco fizesse empréstimos fictícios ao grupo de Valério. O dinheiro, segundo a Procuradoria Geral da República (PGR), era usado para o pagamento de propina a políticos em troca de apoio ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso Nacional.
O advogado Castellar Modesto Guimarães Filho, que defende Cristiano de Mello Paz, afirmou que seu cliente é réu “somente pelo fato de ter sido sócio de Marcos Valério”.
O defensor de Rogério Tolentino, Paulo Sérgio de Abreu e Silva, afirmou seu cliente náo era sócio de Marcos Valério e que Tolentino foi denunciado para justificar a atuação de um “quadrilhão”, em relação ao fato, segundo o advogado, de que o procurador quis acusar um número elevado de pessoas.
Leonardo Isaac Yarochewsky, que defende Simone Vasconcelos – diretora de uma das agências de Marcos Valério –, argumentou que ela deu dinheiro a políticos “a mando” do chefe e que não tinha conhecimento de um suposto esquema de compra de votos.
A defesa de Geiza Dias afirmou ainda que sua cliente era uma "funcionária mequetrefe" de Valério.
As sustentações orais desta terça foram repletas de frases de efeito. Confira algumas das frases ditas pelos advogados dos réus do mensalão aos ministros do STF.
O julgamento
O julgamento do mensalão começou na última quinta-feira (2) com a leitura do resumo da ação penal feita pelo relator Joaquim Barbosa, que apresentou o nome dos réus e explicou a quais crimes eles respondem.
Na sexta-feira (3), o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu ao Supremo Tribunal Federal a condenação de 36 dos 38 réus do processo e apontou o ex-ministro José Dirceu como líder do grupo criminoso.
Nesta segunda (6), os advogados de José Dirceu e José Genoino negaram a existência do mensalão. A defesa de Delúbio Soares e Marcos Valério, no entanto, confirmaram a existência de caixa dois - uso de recursos não declarados - após a campanha presidencial de 2002.
Para esta quarta-feira (8) estão previstas as sustentações orais dos advogados dos réus José Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório, ligados ao Banco Rural, além do deputado federal João Paulo Cunha e do ex-ministro Luiz Gushiken.
Veja abaixo um resumo do que disse o defensor de cada réu nesta terça.
Advogado de Cristiano Paz diz que não há provas
O advogado Castellar Modesto Guimarães Filho, que defende Cristiano de Mello Paz, afirmou que não há provas contra seu cliente.
“Faltam aos autos, instrumentos, provas necessárias para embasar o seu pedido de condenação. A prova, volto a insistir, não autoriza a procedência da denúncia. [....] Há necessidade de individualizar a conduta referente a Cristiano de Mello Paz. Inexiste a individualização de conduta. Cristiano Paz era sócio da SMP&B. E me parece que, somente pelo fato de ter ele sido sócio de Marcos Valério e Ramon Hollerbach, se vê a responder esse processo”, afirmou o advogado, que falou por quase 40 minutos.
Defesa de Tolentino afirmou que PGR tentou justificar "quadrilhão"
O advogado Paulo Sérgio de Abreu e Silva, que defende RogérioTolentino, disse que a intenção da Procuradoria foi aumentar o número de acusados. Citou que a denúncia do mensalão parece um "roteiro para novela das oito".
"Essa denúncia é roteiro para novela das oito. Foi pegando aqui, ali e lá e chegou no astronômico número de 40 [réus]. A impressão [é de] que, quando ia sendo feita a denúncia, eu tenho por mim que alguém ou algum auxiliar da Procuradoria começou a tomar nota de quem recebeu dinheiro. Para criar o quadrilhão. Tem um quadrilhão de 40. Mas eu não vou criticar a denúncia”, afirmou Abreu e Silva.
O defensor negou que seu cliente tenha feito lavagem de dinheiro, mas disse que Tolentino recebia por meio de recursos não declarados, o chamado caixa dois, das empresas de Marcos Valério.
Defesa de Simone Vasconcelos diz que ela agiu "a mando" de Valério
O advogado Leonardo Isaac Yarochewsky, que defende Simone Vasconcelos, disse que sua cliente nãoo sabia sobre a destinação do dinheiro.
“[Simone] em momento algum negou que, a mando de Marcos Valério, entregou várias quantias em dinheiro para vários parlamentares, mas Simone não sabia quem eram esses parlamentares, não conhecia a composição partidária. [...] Isso é problema do patrão”, afirmou Yarochewsky, que falou por quase uma hora em defesa da cliente.
O advogado Leonardo Yarochewsky citou o fato de sua cliente ter usado, em uma oportunidade, um carro-forte para transportar dinheiro que seria entregue a políticos. "Ela tinha verdadeiro pavor de sair com o dinheiro, porque o dinheiro não era dela. Ela pegou carro-forte, sim. E como sair da agência com aquele monte de dinheiro, em caixa? Tinha que ser em carro-forte mesmo, e era ordem do patrão."
Advogado de Geiza Dias diz que ela era "batedeira de cheque"
O advogado Paulo Sérgio Abreu e Silva, que defende Geiza Dias, chamou a cliente de "funcionária mequetrefe" e "batedeira de cheque".
"Era uma funcionária mequetrefe. Era uma batedeira de cheque. Eram cinco, seis funcionários para bater cheque. De 100 a 200 por dia eram batidos na SMP&B", disse o advogado, que usou cerca de 30 minutos em defesa de sua cliente.
Segundo o advogado, Geiza não conhecia nenhum réu do Banco Rural ou do que a PGR classificou como núcleo político do mensalão. O advogado chamou ainda a denúncia de "monstrengo jurídico" por apontar como ré uma pessoa que entregou dinheiro que não sabia a origem nem o destino.
Advogado de Kátia Rabello nega empréstimos fictícios
O advogado José Carlos Dias afirmou que Kátia Rabello, ex-presidente do Banco Rural, “não pode ser responsabilizada por atos que não praticou”. Segundo a denúncia, o banco concedeu "empréstimos fictícios" às empresas de Marcos Valério e ao PT no esquema do mensalão.
“Ela não pode de maneira nenhuma ser responsabilizada por atos que não praticou”, afirmou o advogado. Segundo ele, a única atitude de Kátia Rabello com referência às operações de débito das empresas de Valério foi, quando assumiu a presidência do banco.
Segundo o advogado, ela teve uma conversa com Valério para que ele pagasse o débito. “Foi dado um prazo para que ele pagasse. A partir daí ela não cuidou mais.” Para o advogado, "se o empréstimo fosse fictício, era mais fácil fazer um compromisso distante a perder de vista”.
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