Ameaça de devastação
Pantanal deve ter período de seca severa, com risco de queimadas Volume de chuvas nos últimos meses foi inferior às médias anuais, o que representa um risco para o bioma
As chuvas abaixo da média histórica que caíram no Pantanal, entre novembro de 2020 e março de 2021, não foram suficientes para inundar a maior planície alagável contínua do mundo.
Com isso, os prognósticos são de nova temporada de seca severa no bioma, com risco de repetição dos estragos ambientais registrados no ano passado.
O alerta é da pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Pantanal, Balbina Soriano, com base em dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e foi feito durante audiência pública da Comissão Externa da Câmara dos Deputados, destinada a acompanhar e promover estratégia nacional para enfrentar as queimadas em biomas brasileiros.
A reunião virtual foi coordenada pela deputada federal e professora Rosa Neide (PT-MT) e pelo deputado federal Nilto Tatto (PT-SP).
No ano passado, o Pantanal, que abrange Mato Grosso e o vizinho Mato Grosso do Sul, enfrentou extrema seca, considerada a mais intensa dos últimos 50 anos.
Entre as consequências, o bioma teve 4,5 milhões de hectares ou 29% de sua área devastados pelas queimadas.
De acordo com Balbina Soriano, os índices de chuvas nos primeiros três meses deste ano ficaram abaixo da média e, comisso, a seca de 2020 deve se repetir este ano, o que aumenta as chances dos incêndios.
“Por isso precisamos da realização de todas as iniciativas de prevenção para que a tragédia não se repita”, disse durante a sua apresentação.
“Já estamos entrando no período seco. Mais para a frente, teremos o mês em que o Pantanal queima mais, que é setembro”, acrescentou.
Segundo as informações da Agência Câmara de Notícias, a Embrapa desenvolveu um sistema de alerta de risco para incêndio no Pantanal (Saripan), baseado em dados climáticos, como quantidade de chuva, velocidade do vento e Uidade Relativa do Ar (URA).
Porém, a medição tem sido prejudicada pela falta de manutenção em algumas estações do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
A pesquisadora aponta para o risco de aumento da devastação no Pantanal diante da possibilidade de queimadas em áreas preservadas do fogo no ano passado.
“Sub-regiões como Miranda, Aquidauana e Porto Murtinho queimaram muito em 2019, não queimaram em 2020 e, se a gente tiver essa condição de seca em 2021, é bem provável que possam queimar novamente”, disse.
Na ocasião, a professora Rosa Neide afirmou que a Comissão faria um comunicado oficial ao Inmet e demais órgãos de governo para cobrar a efetiva manutenção das estações, bem como para a regularidade de todos os dados necessários visando a manutenção do Sistema de Alerta de Risco de Incêndio para o Pantanal (Saripan), desenvolvido pela Embrapa.
“Não podemos ficar sem esses dados no momento em que estamos saindo de uma situação traumática, que foram os incêndios, e entrando em um período de seca prolongada”.
No encontro, indígenas, quilombolas e ribeirinhos manifestaram preocupação sobre novos impactos socioambientais sem ainda terem se livrado dos prejuízos do ano passado. Eles relataram as dificuldades de restauração natural do Pantanal no pós-incêndio.
Representante da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), João Moisés Bispo, falou sobre as perdas com o cultivo da castanha de baru, também conhecida como cumbaru e denunciou as atividades mineradoras no entorno do bioma, em Poconé (110 Km ao Sul de Cuiabá).
A atividade tem contribuído para a poluição das águas do Pantanal e o “assoreamento dos rios Bento Gomes, Macaco e Sangradouro, que foram impactados pela seca em 2020 e, provavelmente, devem passar pela mesma situação este ano”.
Para proteção do bioma, a Embrapa Pantanal sugeriu a definição de um calendário com campanhas educativas, planos de queima prescrita e a retomada do projeto “Alô Pantanal”, com a difusão de informações, alertas e dicas via rádio para comunidades distantes sem sinal de celular.
AÇÕES - Em abril passado, o Governo de Mato Grosso informou que está investindo em um pacote de ações ambientais de combate e prevenção ao desmatamento ilegal e queimadas no Estado.
De um montante de 73 milhões, R$ 43,3 mi serão exclusivos para atender aos incêndios florestais de 2021.
Entre as medidas que serão implementadas com o recurso está a aquisição de um helicóptero no valor de R$ 21 milhões.
A aeronave irá auxiliar o Estado a prevenir incêndios florestais e queimadas irregulares com rapidez, reduzindo a área atingida, e fortalecer a resposta das forças de segurança pública ao fogo.
Também investirá R$ 2,8 milhões para a contratação de 100 brigadistas civis temporários estaduais, para atuarem prioritariamente, junto aos servidores, para a preservação das unidades de conservação (UC) estaduais e federais.
O recurso também prevê fardamento e equipamentos de proteção individual para os civis.
Outras ações que receberão aporte financeiro são a prevenção aos incêndios são a conscientização da população sobre o período proibitivo do fogo, a realização de aceiros em áreas estratégicas, a queima prescrita para reduzir o impacto dos incêndios e o aparelhamento do Corpo de Bombeiros (CB), que teve 1° Pelotão Independente (CBM-MT), inaugurado em fevereiro passado em Poconé.
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