Repórter News - reporternews.com.br
Cidades/Geral
Segunda - 17 de Maio de 2021 às 09:39
Por: Pietra Nóbrega/Mídia News

    Imprimir


O delegado Ruy Guilherme Peral da Silva, da Delegacia de Repressão a Crimes Informáticos
O delegado Ruy Guilherme Peral da Silva, da Delegacia de Repressão a Crimes Informáticos

Nos últimos meses - especialmente em razão do isolamento social - os crimes cibernéticos tiveram um crescimento de 30% em Mato Grosso. A informação é do delegado Ruy Guilherme Peral da Silva, da Delegacia de Repressão a Crimes Informáticos.

Em entrevista ao MidiaNews, Ruy Guilherme explicou quais os principais crimes cibernéticos aplicados atualmente e como evitá-los.

Uma vez vítima do golpe, o delegado afirmou que é necessário registrar o boletim de ocorrência o mais rápido possível.

"O que mais dificulta a nossa investigação é o fator tempo. Pois quando se fala em internet, a informação é mais volátil. Então o que dificulta é a vítima demorar um mês, uma semana para registrar o boletim de ocorrência", diz o policial.

Leia abaixo a entrevista na íntegra:

MidiaNews - As clonagens pelo WhatsApp parecem ter voltado com força nos últimos meses. Cresceram as denúncias na delegacia?

Ruy Guilherme Peral da Silva – Sim. Aumentaram as denúncias tanto de clonagem quanto de criação de perfis falsos. Há um dado estatístico de que os crimes virtuais aumentaram cerca de 30% nos últimos meses em Mato Grosso.

MidiaNews - Quais têm sido os golpes mais comuns?

Ruy Guilherme Peral da Silva – São estelionatos mediante a criação de perfis falsos; a invasão de dispositivo no caso da clonagem do WhatsApp, quando a vitima perde o acesso; há ainda o delito de falso intermediador de venda... Neste caso a grande maioria ocorre pela plataforma OLX. Há também o golpe da sextortion, no qual os criminosos se passam por mulheres nas redes sociais e fazem contatos com homens geralmente mais velhos e se inicia uma conversa. Em determinado momento, os criminosos enviam nudes de uma mulher e pedem nudes de volta.Tendo a pessoa enviado ou não, posteriormente um segundo criminoso faz contato com a vítima alegando ser pai da menina, que seria menor de idade, ou alegando ser da Polícia. Ele pede dinheiro e acaba extorquindo a vítima em valores que podem chegar a R$ 10 mil.

E também temos o crime do falso moto boy. Neste tipo, o criminoso se passa por funcionário de alguma loja ou da própria instituição financeira alegando que o cartão da pessoa foi clonado e que bandidos estão tentando fazer compras com ele. Neste caso, a vítima acaba fornecendo dados bancários para os criminosos. E eles, então, oferecem um serviço de retirada do cartão por meio do moto boy. E eles vão lá e pegam o cartão.

É importante pontuar ainda nessa modalidade do falso moto boy que os bandidos fazem contato com a vítima e se passam por policias federais. Eles vão na casa da vítima retirar o cartão. Gostaria de registrar que nem o banco, nem a Polícia, nem lugar nenhum manda ninguém buscar cartões nas residências e não pede senha de cartões nas chamadas telefônicas.

Também há os falsos leilões por meio de sites falsos que simulam praças virtuais. E a vítima acaba fornecendo dados pessoais. Para evitar esse golpe, o cidadão pode consultar o site www.leilaoseguro.org.br , os sites de leilões verdadeiros, leiloeiros oficiais... Uma outra dica importante é que o pagamento deve ser feito somente na conta do Poder Judicario e do leiloeiro oficial. Nunca na de outras pessoas.

MidiaNews - Muitas vítimas não registram queixas. Há muita subnotificação de casos?

Ruy Guilherme Peral da Silva – Com certeza! Como todo e qualquer crime, as pessoas acabam não registrando. Porém o que se percebe é que, com a criação do site da Delegacia Virtual, as pessoas passaram a registrar mais boletins de ocorrência. Elas têm denunciado pelos canais de comunicação, pelas redes sociais da Polícia Civil, pelo WhatsApp. Então nós temos vários canais onde as denúncias podem ser feitas.

MidiaNews - Como se dá o processo de clonar um telefone celular?

Ruy Guilherme Peral da Silva – Primeiro é importante diferenciar a clonagem da criação de perfil falso. Na clonagem, a vítima vai perder o acesso ao WhatsApp. E o criminoso passa a ter acesso a este perfil. Já no perfil falso, a vítima não perde o acesso ao WhatsApp. O que acontece é que o criminoso pega a foto da pessoa e coloca num outro perfil de Whats, em um número diferente. Geralmente a clonagem ocorre quando a vítima é enganada por meio de engenharia social, ou seja, qualquer história que o criminoso inventa. O que eles fazem é tentar manter contato com a vítima para conseguir dados pessoais. Aí, se a vítima passar esses dados, ela perde o acesso ao WhatsApp.

MidiaNews - Quais dicas o senhor dá para que as pessoas não caiam neste tipo de golpe?

Ruy Guilherme Peral da Silva – A primeira dica é não fornecer códigos que você recebe em seu celular. Senhas, dados... ninguém pede isso. Não forneça. Segundo: ative a verificação em duas etapas no WhatsApp. No Instagram você também pode ativar essa verificação, que é muito importante. Há várias situações de clonagem no Instagram em que o raciocínio é o mesmo. Checar fontes também é importante. Não clicar em todos os links que te enviam pelo celular. Existe também um site de fonte aberta que você pode checar o link que te enviaram, chamado virustotal.com.

MidiaNews - Como funciona a engenharia do golpe da OLX?

Ruy Guilherme Peral da Silva – Funciona assim: alguém que queira vender um veículo, por exemplo, anuncia o produto na OLX. O criminoso, então, faz contato com essa pessoa que está vendendo e fala que tem interesse em comprar o produto. E em seguida pede que o vendedor retire o anúncio do ar. Porém o criminoso publica um novo anúncio com as mesmas fotos e dados para enganar potenciais compradores. Eles agem como se estivessem vendendo o produto. E aí os potenciais compradores fazem contato com o criminoso. E o criminoso, quando encontra uma vítima, faz contato com o verdadeiro vendedor e fala: “Olha, vou mandar uma pessoa aí, mas não quero que você fale de preço com ela, nada. Ela só vai olhar o veículo e daí depois eu faço o pagamento com você”. Isso ele fala para quem está vendendo. Para quem está comprando, ele inventa uma outra história, como por exemplo: “Vai lá olhar o veículo. Está em tal lugar mas não acerte o pagamento e nem entre em detalhes, pois ele é meu devedor”. Então é isso: ele inventa uma história para que as pessoas que estão de fato vendendo e comprando se comuniquem pouco, não troquem informações e permanecem ali no engodo. E no final o bandido acaba ficando com o dinheiro.

MidiaNews - Como fazer para não cair neste golpe da OLX?

Ruy Guilherme Peral da Silva – Quem está comprando somente deve fazer o pagamento na conta do real vendedor do veículo. Então o cidadão vai comprar um carro. Ele foi lá, olhou o veículo. Converse com aquela pessoa. A lei do silêncio não é válida. Tem que ter diálogo. Quem está comprando tem que ter um diálogo com o vendedor. É preciso tentar explorar as circunstâncias da venda, pegar os dados dessa pessoa, dados bancários, e não depositar valores em contas de intermediários.

MidiaNews - A empresa pode ser responsabilizada pelos golpes, já que, ao que parece, nada é feito para evitá-los?

Ruy Guilherme Peral da Silva – A empresa geralmente faz a divulgação de algumas dicas de segurança e, caso não haja falha na prestação de serviço, não há o que se falar em responsabilização da empresa. Na grande maioria dos casos a falha está no cidadão que é enganado pelos criminosos e não tomam os devidos cuidados na hora de realizar as compras ou vender algo.

MidiaNews - Em relação aos cartões de crédito? O que é preciso fazer para evitá-los?

Ruy Guilherme Peral da Silva – Os golpes geralmente são aqueles em que os criminosos têm o dados do cartão da vítima. Muitas vezes a vítima não cobre o código verificador com adesivo. Aliás, essa é uma dica de segurança, pois às vezes a pessoa vai fazer uma compra e quem está atendendo age de má fé. E se aquela máquina de cartão está manipulada de alguma forma para registrar esses dados e posteriormente esses criminosos fazerem outros pagamentos, então a vítima pode ser prejudicada nesse sentido. Alem do mais, é tomar cuidado com o fornecimento de dados bancários em sites diversos, saber onde armazena as senhas do cartão.

MidiaNews - O fato destes golpes poderem ser aplicados de qualquer lugar do Mundo dificulta a investigação?

Ruy Guilherme Peral da Silva – O que mais dificulta a nossa investigação é o fator tempo. Pois quando se fala em internet, a informação é mais volátil. Então o que dificulta é a vítima uma semana, um mês, para registrar o boletim de ocorrência. Tem gente que demora até mais. E isso dificulta o processo de investigação. E se a situação ocorre fora do Brasil, há um grau de complexidade maior. Porém, a Polícia tem os mecanismos dela, existem os acordos de cooperação internacional assinados pelo Brasil. Se não estou enganado, são quase 30 países com os quais o Brasil tem acordo de cooperação penal internacional.

Queria acrescentar uma orientação para a população para acessar o site o Banco Central do Brasil e gerar relatórios na funcionalidade de extrato acerca de contas bancárias abertas em seu nome, acerca de chaves PIX cadastradas e financiamentos existentes. Não tem custo algum, é possível fazer pelo site deles também.





Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/443120/visualizar/