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Ciência/Pesquisa
Domingo - 04 de Julho de 2021 às 10:15
Por: Liz Brunetto/Mídia News

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Midianews/Reprodução

Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) em Sinop descobriu que o veneno do sapo cururu pode ser empregado no tratamento da malária e do câncer de mama.

A pesquisa intitulada “Avaliação de venenos de bufonídeos [sapos] com potencial atividade antimalárica” está em fase inicial, mas os resultados obtidos são muito promissores.

As moléculas individuais do veneno foram isoladas e observadas. A partir dessa observação teve início a fase de testes com células in vitro. Essa fase acontece em um ambiente controlado - os laboratórios - com células isoladas em tubos de ensaio.

Durante o processo, uma das moléculas isoladas apresentou potencial para combater os parasitas causadores da malária. Além disso, foi constatado que a toxicidade dessa molécula em humanos é extremamente baixa.

Em outro experimento, os pesquisadores detectaram a funcionalidade do veneno também no combate ao câncer de mama.

“No sistema in vitro conseguimos ver o mecanismo de ação [da molécula], como ela age dentro dessas células”, explica o professor Bruno Antonio Marinho Sanches, de 39 anos, um dos coordenadores do projeto.

Temos cada vez menos um espectro de medicamentos que funcionam para determinadas doenças. Até mesmo para a malária, o parasita vem se tornando resistente aos principais medicamentos que estão sendo utilizados

Segundo o pesquisador, é fundamental que a busca por novas opções de tratamento, para essas e outras doenças, não pare.

“Temos cada vez menos um espectro de medicamentos que funcionam para determinadas doenças. Até mesmo para a malária, o parasita vem se tornando resistente aos principais medicamentos que estão sendo utilizados”, explica o docente.

“Descobrir um novo composto, uma nova molécula que possa atender à resistência dos medicamentos mais comuns que a gente tem, vai ser super importante”, complementa.

A descoberta se torna então o princípio de um sonho com múltiplas possibilidades de aplicação e benefícios.

“Se pensar no câncer, por exemplo, imagina ter uma droga que você consiga no início da doença administrar no paciente sem a necessidade de quimioterapia. É o sonho de todo pesquisador que desenvolve medicamentos: ter um medicamento oral de pouca reação adversa para o paciente”, diz.

Para além dos benefícios de uma nova droga, o projeto também mostra a riqueza da biodiversidade brasileira e o campo que ainda existe para ser explorado.


Ao todo, são conhecidas 454 espécies de sapos. No Brasil, a maioria delas é encontrada na Mata Atlântica e na Amazônia. A Rhinella marina, mais conhecida como sapo cururu, é a espécie mais comum no País.

A molécula do veneno do animal ainda tem potencialidade de ser testado em outros tipos de doenças parasitárias.

“Estamos fazendo um trabalho de bioinformática que utiliza softwares para analisar como esse medicamento pode ser absorvido e disponibilizado no organismo. Tendo essas informações em mãos, a gente consegue ampliar o espectro de utilização desse composto para outras doenças”, explica.

Arquivo pessoal

Pesquisador Bruno

Pesquisador Bruno Antonio Marinho Sanches

O caminho até a prateleira

Apesar de estar em um processo acelerado, com apenas quatro anos de existência, a pesquisa ainda tem um longo caminho até a produção comercial de um medicamento.

“Se a gente olhar a história do desenvolvimento de medicamentos, desde a sua ideia, triagem, isolamento de uma substância até ela virar uma cápsula e ir para a prateleira de uma farmácia, a média global é em torno de 25 anos. Muito tempo”, diz o professor.

As próximas etapas da pesquisa consistem na realização de testes em cobaias. Posteriormente vem a fase da triagem clínica, que avalia a eficácia e segurança do medicamento em seres humanos.

Após toda essa pesquisa experimental e clínica, a indústria pode produzir o medicamento para a comercialização em massa.

“O que precisamos agora é de recursos, mais investimentos do Governo Federal, das agências de fomento. Assim podemos continuar desenvolvendo o processo”, explica o pesquisador.

Dando valor a essa parceria entre universidade, ciência e estudo do nosso bioma a gente melhora a qualidade de vida da população

A expectativa, caso haja investimentos consideráveis no projeto, é de um medicamento pronto para o consumo nos próximos cinco ou seis anos.

O professor ainda cita o exemplo da vacina contra a Covid-19, lançada em tempo recorde. “Desde o início da doença até a formulação da vacina e aplicabilidade na população, foi muito rápido. Houve muito investimento, investimento no Mundo inteiro”, diz.

“Dando valor a essa parceria entre universidade, ciência e estudo do nosso bioma a gente melhora a qualidade de vida da população. Podemos fornecer um medicamento que às vezes está na nossa cara, como é o caso do sapo cururu, que sempre foi cantiga de criança e hoje a gente vê o quão importante ele pode ser para a ciência”.

Conquistas da pesquisa

Após a realização dos experimentos e a obtenção dos resultados, foram concedidas à instituição duas cartas patentes pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Uma delas referente à descoberta da ação do veneno contra a malária e outra contra o câncer de mama.

O documento confere exclusividade de uso, comercialização, produção e importação de determinada tecnologia no Brasil.

O projeto é realizado em parceria com as universidades federais do Piauí (UFPI) e de São João Del Rei (UFSJ).

A pesquisa recebeu, por meio de um edital em 2016, financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (Fapemat). Os trabalhos tiveram início no ano de 2017, após o recebimento do orçamento.





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