Devastação
Fogo volta a ameaçar o Pantanal mato-grossense Incêndio de grande proporção teve início em uma propriedade particular, no km 47 da Transpantaneira
Um incêndio de grande proporção atinge o Pantanal na região de Poconé (110 km ao Sul de Cuiabá), em Mato Grosso. A ocorrência é registrada um ano após o bioma ter sido consumido pelas queimadas históricas que destruíram cerca de 30% da vegetação nativa e pastos naturais da planície alagada.
De acordo com o Instituto de Pesquisa Ambiental (Ipam) da Amazônia, em apenas dois dias, uma área de quase de mil hectares – o equivalente a mil campos de futebol – foi destruída pelo fogo. As chamas começaram no sábado (7) e até ontem (10) pela manhã ainda não tinham sido controladas.
“No Pantanal temos áreas de campo vastas e algumas ilhas de floresta. Essa característica, somada ao vento, contribui bastante para direcionar o fogo e faz com que o incêndio se espalhe mais rápido e fique fora de controle”, diz a diretora de Ciência no IPAM, Ane Alencar.
De acordo com informações do Governo do Estado, o incêndio teve início em uma propriedade particular, no km 47 da Transpantaneira. Um trator que estava sendo utilizado por um fazendeiro durante a produção de faixas de aceiros no campo pegou fogo e atingiu outras áreas fora da fazenda.
Acionadas, equipes do Corpo de Bombeiros Militar (CBM) atuam 24 horas por dia para combater o incêndio. A força-tarefa ganhou reforço no final da tarde desta última segunda-feira (9), com a chegada de uma aeronave “Air Tractor” que já entrou em ação lançando 3.100 litros d’água nos locais com maior incidência de fogo. Com o uso de um caminhão-pipa, os militares captam 16 mil litros d’água do Rio Pixaim e transportam para encher o avião.
“Fizemos o acionamento de todos os recursos, o Governo de Mato Grosso está dando uma resposta imediata para essa situação. Hoje (ontem), estamos com nossos militares e diversas outras equipes, entre brigadistas, voluntários e os proprietários rurais desta região, dispostos a contribuir para conter o fogo. Estamos empenhados, dando o nosso máximo para que tragédias iguais aquelas do ano passado não voltem a acontecer", afirma o comandante da Companhia de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais do Batalhão de Emergências Ambientais (BEA), 1° tenente Isaac Wihby.
Em outros pontos, os bombeiros estão com tratores construindo vários quilômetros de faixas de aceiros com cerca de 5 metros de largura para bloquear e impedir o avanço do fogo para outras áreas. Mesmo com todo esse mecanismo, o processo de ação natural do clima, a baixa umidade do ar e os fortes ventos na região, contribuem para o avanço do fogo nas demais áreas de vegetação seca, em virtude da estiagem.
Este é considerado o primeiro grande incêndio deste ano no Pantanal. De acordo com o Estado, balanço divulgado pelo CBM mostra que de 01 de janeiro até 05 de agosto de 2020, foram 1.023 focos. No mesmo período de 2021, foram contabilizados apenas 34 focos de calor, uma queda de 97%.
Em 2020, cerca de 30% do bioma no Estado foi devastado pelo fogo e, ainda não se recuperou totalmente. Na ocasião, as queimadas se alastraram por outras fazendas, áreas indígenas e ameaçou estrutura de hotéis e pousadas na região. Ao todo, o fogo consumiu 2 milhões de hectares na planície alagada.
Divulgado em julho passado, um cálculo foi feito pelos pesquisadores do Grupo de Estudos em Vida Silvestre (GEVS) apontou que pelo menos 9.500 macacos-pregos, 6.700 queixados e 3.600 jacarés morreram durante as queimadas de 2020 dentro da Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) Sesc Pantanal, que teve 93% de sua área atingida pelo fogo.
EXPEDIÇÃO - Pesquisadoras do Ipam e do Woodwell Climate Research Center, dos Estados Unidos, participam de uma expedição de campo para melhorar o uso de dados em combate às queimadas. A expedição tem como objetivo criar soluções para o controle mais eficiente de incêndios, que se agravam no período da seca. É uma parceria entre Ipam, Woodwell Climate e o BEA-MT e, além do Pantanal, compreende ainda o Cerrado e a Amazônia.
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