Morador viveu enchente de 74 e diz 'nunca vi rio tão seco'
Morador da Passagem da Conceição, em Várzea Grande, desde que nasceu, o comerciante Ivo Nunes, 52, viu os extremos do rio Cuiabá: a enchente de 1974 e seca deste 2021. Ele garante que nunca viu a praia da Passagem tão rasa como agora.
Luiz Leite
Ivo Nunes mora no local desde que nasceu
Importante ponto turístico da região, a Passagem da Conceição é conhecida pela charmosa vila, praia para turistas e residentes se banharem no verão intenso, além do uso para pesca. O distrito também tem fama negativa pelo alto número de afogamentos. Há placas alertando para o perigo por toda margem do rio, mas os banhistas insistem em não tomar as precauções.
Luiz Leite
Há gerações, a família de Ivo Nunes reside no local. Com propriedade, ele afirma que nunca viu o rio tão seco. “Agora quem vem banhar aqui vai acabar indo para as áreas mais perigosas, mais para o meio do rio. Tem umas pedras na margem que eu nunca vi e agora estão expostas”, afirma.
Dono da Peixaria do Caju, a primeira da região, Ivo conta que era criança quando Cuiabá e Várzea Grande tiveram a pior enchente da história, em 1974. Ele conta que o rio subiu, cobriu as casas e derrubou a maioria delas. A residência em que ele morava com os irmãos e os pais era de adobe ( barro compactado) e também foi levada pela água.
“Eu era pequeno, mas eu lembro. A gente correu para a área mais alta para se abrigar na casa de vizinhos. Só duas casas resistiram e estão de pé até hoje”, lembra.
Ivo também viu o alagamento de 1995, que foi muito grave, mas menos trágico do que o dos anos 1970. “Em 1995 não dava nem pra ver o telhado da minha peixaria”.
Arquivo Pessoal
Balsa para atravessar o rio
O comerciante chegou a ser piloto da balsa que os moradores da região usavam para chegar a Cuiabá, mas o transporte foi desativado ainda nos anos 1980. O que sobrou da estrutura virou corrimão em uma rampa que dá acesso ao rio. Os cabos de aço ainda estão ali e parte da estrutura foi furtada.
Apesar de todo o mal causado pelas enchentes, também houve tempos de equilíbrio, quando quem morava na região sabia exatamente quando iria chover e épocas de seca. “Agora está tudo bagunçado”.
O comerciante atribui ao avanço da cidade, queimadas e desmatamento o desequilíbrio entre seca e chuva na região. Locais que antes eram tomados pelo rio hoje não tem mais água.
A equipe do Gazeta Digital esteve no local e encontrou pessoas se refrescando no rio e pescando. O que fortalece o comércio. Há várias peixarias no entorno.
Luiz Leite
Lennon Rodrigues pesca no local há 1 ano
Porém, a pescaria já não é produtiva. O motorista de aplicativo, Lennon Rodrigues, conta que frequenta o local há cerca de um ano. Adepto da pesca esportiva, ele vai ao local cerca de duas vezes por semana.
“Eu descobri aqui há 1 ano. É bom, mas o rio está mais baixo, bem mais baixo, o peixe sumiu também. Hoje consigo pescar menos”, afirma o pescador. Além dele, outro casal estava na beira do rio à espera de peixes em dia de semana.
Como agosto é um dos meses mais quentes do ano, com temperaturas recordes em 2021, a procura por rios e cachoeira sobe. Segundo o morador da Passagem da Conceição, aos fins de semana, salva vidas ficam no local por conta do elevado número de banhistas e risco de afogamentos.
Além de elevarem a chance acidentes, o alto volume de visitantes também é um perigo ao meio ambiente. Embalagens de cigarro, sacolas com garrafas de bebidas alcoólicas, latas e todo tipo de lixo estão por toda a margem do rio.
Volume do rio
Luiz Leite
Água recuou muito e expôs mais áres de terra na praia
O diretor da Defesa Civil de Cuiabá, José Pedro Ferraz Zanetti, afirma que o volume de água do rio está muito baixo considerando o esperado para a época do ano.
“Esta semana o rio Cuiabá chegou a apresentar cotas de 0,06, 0,07m lidas na régua limnimétrica, agora não está nem 0,12m. Nos últimos 5 anos, nesta mesma época, a média das alturas do rio era entre 0,25 e 0,32m. Estamos, portanto, abaixo do esperado para esta época”, alerta o diretor.
Zanetti recomenda o uso consciente da água, para evitar medidas mais rígidas de racionamento. Em Cáceres (225 km a Oeste), a prefeita Antônia Eliene Liberato Dias decretou estado de emergência por conta da seca e incêndios. Na cidade, está vetado o uso de água fornecida pela rede pública para encher piscinas, lavagem de muros, calçadas, fachadas, veículos e uso de lava jatos domésticos até que se normalize o abastecimento de água.
Segundo informações do 9º Distrito de Meteorologia de Várzea Grande, a última chuva registrada na região foi em 11 de junho, com precipitação de 9.2 milímetros.
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) tem alerta laranja de onda de calor e baixa umidade relativa do ar para os próximos dias em todo o estado.
O Clima Tempo aponta para possibilidade de chuva nos próximos dias.
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