Agropecuária já ocupa quase metade do Cerrado, diz monitoramento do MapBiomas Agropecuária já ocupa quase metade do Cerrado, diz monitoramento do MapBiomas
A agropecuária já ocupa quase metade do Cerrado, bioma que corresponde a um quarto do território nacional e alcança 12 estados e o Distrito Federal. Ao todo, 44,2% da área é destinada ao setor. Pastagens para o gado ocupam 47 milhões de hectares, pouco mais que o dobro da agricultura, que corresponde a 23 milhões de hectares. Os dados são do projeto MapBiomas, programa de monitoramento do uso da terra que reúne várias instituições e especialistas, como universidades, ONGs e empresas de tecnologia.
Entre 2010 e 2020, segundo o levantamento, foram perdidos 6 milhões de hectares de vegetação nativa do Cerrado, 3,1 milhões deles na região conhecida como Matopiba, iniciais dos estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Num período mais longo, de 1985 a 2020, a agropecuária abocanhou 26,2 milhões de hectares do bioma.
“A conversão para pastos e cultivos agrícolas está concentrada e mais acelerada justamente na região do Matopiba, onde existe hoje a maior parte do que restou da vegetação nativa. O Matopiba tem 44% do que está ainda preservado no bioma e se tornou uma das áreas mais ameaçadas”, diz a coordenadora científica do MapBiomas, Júlia Shimbo, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, responsável no projeto pelo Cerrado.
O município de Balsas, no Maranhão, apresentou a maior área desmatada em 2020 no Cerrado. O mapa de conflitos ambientais e de saúde da Fiocruz, com dados do Fórum Carajás, mostra que os pequenos agricultores da região têm sido impactados pela chegada de grandes monoculturas, como soja e cana-de-açúcar, que têm provocado assoreamento de rios, erosão no solo e poluição de águas por agrotóxicos.
O professor Arilson Favareto, da Universidade Federal do ABC, afirma que poucos municípios do Matopiba concentram o PIB das atividades agrícolas, gerando enclaves de riqueza. Segundo ele, enquanto as monoculturas ocupam as partes altas de terra, a população mais pobre acaba deslocada para os chamados baixões. A expectativa de emprego também não é alta, já que as culturas são altamente mecanizadas e a proporção é de um emprego para 200 hectares de área plantada de soja, por exemplo.
Segundo maior bioma brasileiro e considerado a savana com maior biodiversidade do mundo, o Cerrado já teve 45,5% de sua área total desmatada. Hoje, apenas 11,9% da vegetação nativa remanescente está em áreas protegidas, como unidades de conservação e terras indígenas. A maior parte do solo do Cerrado é propriedade privada. Pelo Código Florestal, as propriedades privadas devem manter preservados até 20% com vegetação nativa. O Cerrado ainda tem 54% de vegetação nativa preservados, mas a aceleração do desmatamento preocupa especialistas.
“O Código Florestal afirma que “até 20%” devem ser preservados, mas este não é o limite. Em cada bacia hidrográfica, é preciso que estados e municípios estabeleçam limites e um desenho inteligente das áreas de proteção, porque a conta é a redução da vazão dos rios e é distribuída para a toda a população”, diz a professora Mercedes Bustamante, da Universidade de Brasília (UnB), integrante da Academia Brasileira de Ciências e uma das principais pesquisadoras do Cerrado no Brasil.
Procuradas, a Confederação Nacional da Agricultura e a Sociedade Rural Brasileira não comentaram o levantamento do MapBiomas. Mas para uma fonte do setor agropecuário, somente o pagamento pelos serviços ambientais fará com que os proprietários rurais recuperem e concordem em aumentar as áreas preservadas no Cerrado.
O proprietário, segundo a fonte, vê essas áreas como custo, por não poder usá-las integralmente. Além disso, se houver um incêndio em uma área de preservação, por exemplo, o responsável será punido e terá de investir para restaurar os danos, deixando de usar o dinheiro em novos investimentos para incrementar a produção. Para esse pecuarista, o benefício da preservação é coletivo, mas o custo não é.
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