Mãe sai de Várzea Grande, pega 2 ônibus com filho cadeirante para receber doações de ossos
Cidadãos de bairros distantes do CPA 2 e até de Várzea Grande enfrentam horas de caminhada e no transporte coletivo para buscarem doações de ossinhos e sacolões. Toda essa peregrinação em busca dos alimentos é difícil e se torna ainda mais sacrificante quando se tem dois filhos pequenos, um deles cadeirante.
Há anos Mariluce Silva Azevedo,36, faz o mesmo trajeto. Ela sai do bairro São Simão, pega duas conduções, chega à casa de carne no CPA 2 e repete o percurso na volta. Isso ocorre pelo menos uma vez por semana.
“Há muitos anos que eu venho aqui. Samara sempre fez doação para mim”, conta a mulher. Samara Rodrigues citada é a dona do açougue que faz distribuição de ossinhos.
Luiz Leite
O filho mais velho, João Hamilton,12, nasceu com microcefalia e paralisia cerebral. A vida da dona de casa é dedicada a cuidar do menor, que agora já não tem mais problemas de saúde que exijam internação, mas houve época de passar mais tempo com o menino internado do que em casa por conta de crises de pneumonia.
O marido trabalhava com carteira assinada, mas passou a ser autônomo para ajudar mais nos cuidados com o filho deficiente. Porém, com a pandemia, os trabalhos sumiram e a família recorre à ajuda de conhecidos e doações como as feitas pelo açougue.
“Meu esposo faz de tudo, mas com a pandemia ficou fraco de trabalho. O que aparece ele está fazendo. Ele ficou em casa para me ajudar mais com ele”, conta a mulher.
Ela conta que vai buscar as doações com o filho cadeirante e o menor de 3 anos, pois não tem com quem deixá-los. Relata que a maioria dos ônibus que precisa pegar tem rampa e elevador de acesso e os motoristas atendem com boa vontade, porém há situação de grande dificuldade, quando o condutor não tem paciência e os destrata, assim como quem está ao redor e ignora o fato deles precisarem de ajuda para locomoção.
“A pessoas fingem que não enxergam. Como não vê uma cadeira deste tamanho. Mas a gente tem que vir, tem que se virar e isso acontece às vezes”, narra.
A saga também é a mesma quando o menino fazia tratamento para reabilitação em uma universidade privada de Cuiabá, duas vezes na semana. Tinha que pegar dois ônibus para ir e para voltar, porém por conta do risco de contágio pelo novo coronavírus, o menino não frequenta mais o local. Ele também não foi mais para a escola.
“Eu fiquei com medo de mandar ele, na pandemia não tem muita segurança”, conta.
No dia em que a equipe do Gazeta Digital esteve no local de doações, a fila se estendia por dois quarteirões. O número de pessoas em busca dos ossinhos só aumenta a cada dia.
Houve campanhas do governo do Estado, Prefeitura de Cuiabá e Organizações Não Governamentais (ONG’s) para distribuição de sacolões e cadastro de famílias em situação de vulnerabilidade, contudo a fome persiste e o valor dos alimentos sobe a cada dia, agravando ainda mais a situação de quem está sem emprego.
Quem puder ajudar Mariluce com todo tipo de doação, pode entrar em contato com ela pelo telefone (65) 984 53 1652.
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