A presidente Dilma Rousseff disse nesta terça-feira que a entrada da Venezuela no Mercosul dá maior dimensão geopolítica e econômica ao bloco e sinalizou que o Paraguai só será novamente aceito no grupo quando normalizar sua situação institucional.
O ingresso da Venezuela no bloco de livre comércio foi oficializada pelos presidentes dos países que compõem a aliança, com exceção do Paraguai, que segue suspenso desde junho após o processo que levou ao impeachment do ex-presidente Fernando Lugo.
O fortalecimento econômico do bloco com o novo membro foi o principal argumento na defesa para a entrada da Venezuela, país membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), com uma das maiores reservas de petróleo do mundo.
"A Venezuela aumenta as potencialidades do bloco, dando-lhe ainda mais dimensão geopolítica e econômica", disse Dilma em sua declaração, ao lado de Chávez e dos presidentes da Argentina, Cristina Kirchner, e do Uruguai, José Mujica.
O processo de adesão se arrastava desde 2006, mas o país não havia conseguido cumprir os prazos para adequar-se às normas do bloco, criado em 1991. Esta é a primeira expansão de membros plenos do acordo.
O Brasil, que ocupa a Presidência rotativa do Mercosul, propôs aos demais membros acelerar o processo de incorporação da Venezuela para que o país possa iniciar o processo de liberalização comercial já a partir de 2013.
A entrada da Venezuela, quinta maior economia da América Latina, elevará o Produto Interno Bruto (PIB) do Mercosul a 3,3 trilhões de dólares e abre uma nova fatia de mercado a diversos setores, expandindo territorialmente o bloco até o Caribe.
"Há tempos desejamos um Mercosul ampliado em suas fronteiras e com capacidades acrescidas", disse Dilma na declaração após a reunião de cúpula que oficializou o ingresso da Venezuela.
A ideia, defendida pelo Brasil, é revisar prazos e condições de entrada de novos países para fortalecer o bloco. Os primeiros candidatos seriam Bolívia, Equador, Suriname e Guiana, mas economias maiores do continente, como Colômbia, também poderão ser beneficiadas.
CHÁVEZ VEIO, PARAGUAI NÃO
A reunião foi um ato simbólico para o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que realizou a primeira viagem oficial de 2012 em meio a dúvidas sobre seu real estado de saúde, após um diagnóstico de câncer.
O presidente socialista, de 58 anos, submeteu-se à retirada de dois tumores malignos e se disse totalmente curado neste mês depois de passar por um agressivo tratamento de radioterapia e quimioterapia em Cuba. O presidente, candidato à reeleição, intensificou sua agenda nas últimas semanas em meio à campanha para o pleito de outubro.
"A entrada coincide com um novo ciclo político, constitucional, que se iniciará muito rapidamente na Venezuela. Termina um período constitucional e começa outro, em janeiro de 2013", disse Chávez, que lidera as pesquisas de opinião.
"Para o nosso projeto nacional de desenvolvimento, nada melhor do que este evento de hoje". A entrada da Venezuela no Mercosul só foi possível com a suspensão política do Paraguai, cujo Congresso era justamente o único a não ter aprovado o ingresso do país no bloco.
A decisão de incorporar o país caribenho, anunciada em reunião do bloco em junho na cidade argentina de Mendoza, foi alvo de críticas por ter sido tomada sem a presença paraguaia. O Paraguai foi suspenso do Mercosul devido ao processo que levou ao impeachment do ex-presidente Fernando Lugo, considerado uma ruptura democrática pelos demais países do bloco.
"Nossa perspectiva é que o Paraguai normalize sua situação institucional interna para que possa rever seus direitos plenos no Mercosul", disse Dilma, destacando que o bloco é contra a imposição de punições econômicas ao país e que os fluxos comerciais foram mantidos.
O retorno paraguaio só deverá ocorrer após a eleição de um novo presidente, segundo o Ministério de Relações Exteriores brasileiro. Um novo pleito estava inicialmente marcado para abril de 2013.
O ingresso venezuelano provocou ainda uma saia justa entre Brasil e Uruguai, após o ministro de Relações Exteriores uruguaio, Luis Almagro, ter acusado o governo brasileiro de fazer pressão pela entrada do vizinho. O Brasil negou a alegação. Antes da cúpula, Dilma e Mujica reuniram-se no primeiro encontro bilateral desde a polêmica entre os dois países.
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