Povos indígenas reagem ao projeto que tira MT da Amazônia Legal A mata e o cerrado são sagrados para a população indígena; professor lança campanha contra
O projeto do deputado federal Juarez Costa (MDB), que propõe tirar Mato Grosso da Amazônia Legal, tromba com os interesses da etnia xavante.
O professor de Ciências Humanas, Xisto Tserenhi Ru Tserenhimi Rami, diretor da Escola Indígena Hambe, na aldeia Nova Esperança, da Terra Indígena São Marcos, em Barra do Garças (509 km a Leste de Cuiabá), destaca que seu povo é oriundo da Terra Indígena Marãiwatsédé, que, em sua linguagem, significa Amazônia.
Além de demonstrar preocupação com o projeto de Juarez Costa, Xisto pede mobilização contra a ideia e lança a campanha: "Fica Mato Grosso na Amazônia Legal!".
Xisto demonstra preocupação com a redução da área preservada, o que, na visão dele, influenciará no clima e nas águas, "aumentando a ferida nas matas".
Além disso, ele apela pelo lado sentimental: "Meu povo xavante se identifica com a Amazônia Legal porque viemos daquela região. Meu povo está na Terra Indígena Marãiwatsédé, que, para nós, significa Amazônia. Então, meu povo, que está espalhado em vários município,s veio de Marãiwatsédé. Então, a gente defende Mato Grosso nesta Amazônia Legal e agradeço os que defendem essa causa que é de todos".
A mata e o cerrado são sagrados para os povos indígenas.
Aumentar a área desmatada fora de suas terras, as deixa mais vulneráveis, porque, além da cobertura vegetal, também seriam afetadas as águas e a vida animal.
É assim que pensa Marcelo Manhuari Munduruku, escritor e professor na aldeia Nova Munduruku, na Terra Indígena Apiaka-Kaiabi, em Juara (709 km ao Norte da Capital).
Concluindo mestrado em Empréstimo da Língua Munduruku para o Português, ele divide o tempo entre a Universidade do Estado (Unemat), em Barra do Bugres (168 km ao Norte de Cuiabá) e seu aldeamento, onde a informação sobre o projeto de Juarez Costa acabou de chegar e preocupa sua comunidade.
"Vejo como retrocesso muito grande tirar Mato Grosso da Amazônia Legal. Penso que essa proposta não leva em consideração os povos nativos e as políticas públicas para as comunidades nativas, os quilombolas e as comunidades não indígenas que dependem do ecossistema para garantir sua renda, já têm uma convivência com a natureza e o sentido de pertencer ao ambiente que é muito natural. Vejo que seria uma perda muito grande se aprovada essa proposta. Ela causaria impacto ambiental e cultural muito grandes, e inclusive impacto espiritual porque os povos indígenas não têm desligamento entre físico e metafísico na questão do ambiente. Para nós, indígenas, a terra é como se fosse um ser que pertencesse a nós, um ser que nos complementa, nos dá alimento e sustância para os nossos filhos, nossos netos e a gerações que ainda virão. Sei que alguns indígenas professam outras religiosidades, mas eles não podem fugir dessa realidade", destacou.
Em Brasnorte (579 km a Noroeste de Cuiabá), na Terra Indígena Rikbaktsa, o projeto foi recebido com os dois pés atrás.
O professor Paulo Henrique Skiripi, chamado de Paulo Rikbaktsa, da Escola Estadual Indígena Myhyinmykyta Skiripi, alerta para a pressão socioeconômica que aconteceria em caso de aprovação da proposta de Juarez Costa.
Seu povo, disperso em três áreas em Brasnorte, Juara e Cotriguaçu, vive em aldeamentos circundados por fazendas, que se expandirem suas terras agricultáveis pressionarão internamente os aldeados.
Ele observa que povos isolados e não contactados devem existir nas florestas entre Pará, Mato Grosso e Rondônia, e poderão ser dizimados pela rápida chegada da colonização em seu entorno.
"No modelo ambiental da Amazônia Legal ainda conseguimos assegurar nossas vidas e tradições, mas se houver a redução da reserva legal acontecerão acidentes e surgirão problemas e inevitáveis conflitos", resume.
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