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Economia
Terça - 21 de Junho de 2022 às 10:44
Por: Juliana Steil e Isabella Lima/Redação Terra

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O dia de Dinamara Correia Maria, de 54 anos, começa antes mesmo do sol nascer. De terça-feira a domingo, o despertador da feirante toca entre 4h e 5h da manhã. Por volta das 6h, ela já está na rua a caminho da feira em Santos, no litoral paulista. Vinda de uma família de feirantes, Dinamara trabalha vendendo frutas, legumes e verduras em sua própria barraca há 30 anos.

"Geralmente, as mulheres não montam barracas, elas só arrumam. Quem vai no início da madrugada são os homens", revela.

Dinamara tem como sócio seu ex-marido, que sai de casa ainda mais cedo, por volta da 1h30 da madrugada, para armar a barraca e comprar a mercadoria no Mercado Municipal. A rotina sempre funcionou bem, até que a pandemia de Covid-19, em 2020, obrigou a feirante a mudar sua forma de vender.

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Dinamara tem sua própria barraca na feira há 30 anos

Dinamara tem sua própria barraca na feira há 30 anos

Foto: Reprodução/Instagram

Se as pessoas não estavam indo à feira, era preciso levar as frutas, verduras e legumes até elas. Foi a partir daí que Dinamara expandiu seu negócio para entregas a domicílio, por meio do perfil Feirante 013. O sucesso foi tanto que, na contramão de outros setores durante o período de isolamento, ela precisou contratar funcionários.

"Dali para frente começamos a ter muitas entregas [...] porque todo mundo precisava de mercadoria de feira. Foi na pandemia que a gente se reinventou", conta.

Antes da pandemia, ela e o ex-marido tinham apenas um ajudante. Hoje, no total, são quatro funcionários empregados pela dupla.

A geração de empregos entre os pequenos e microempreendedores pode até surpreender, mas, segundo o Sebrae, são esses setores os maiores contratantes do Brasil. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), de março de 2022, indicam que os micro e pequenos empresários foram responsáveis por quase 90% das contratações.

"O Brasil era informal e dessa forma não havia como aplicar políticas públicas. Ao formalizar, trouxemos milhões de pequenas empresas e MEIs. Foi muito positivo. A gente hoje considera que esse time formalizado sustenta 86 milhões de brasileiros. É muito bonito isso", destaca o presidente do Sebrae Nacional, Carlos Melles.


Sete a cada dez empresas são MEIs

Com o investimento em formalização, hoje, sete a cada dez empresas ativas no Brasil são de microempreendedores individuais (MEIs). Em números absolutos, divulgados pelo Ministério da Economia no início de junho, das 19,3 milhões de empresas brasileiras, 13,4 milhões são de microempreendedores.

Sandra Helena Ciclini se encontrou na montagem de móveis após perder clientes na pandemia

Sandra Helena Ciclini se encontrou na montagem de móveis após perder clientes na pandemia

Foto: Divulgação/Achei Montador

Uma dessas é Sandra Helena Ciclini, de 54 anos, que abriu um Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) para assumir alguns serviços fixos da pequena oficina de carpintaria da família, após a morte do pai, em 2019. O cadastro foi uma saída para ela, que ficou sem alunos no personal trainer que mantinha como profissão, devido às recomendações de distanciamento e isolamento social durante a pandemia de Covid-19.

Sandra aproveitou uma oportunidade e aprendeu a profissão de montadora de móveis em um projeto do aplicativo Achei Montador em parceria com o Sebrae. Sem horário fixo, ela percorre toda a capital paulista para atender às demandas de clientes.

"Dar o primeiro passo é o mais difícil, principalmente quando a gente não tem apoio. Mas estou indo, cumprindo os desafios que tenho para enfrentar", diz.

Quem também abriu o MEI por necessidade foi Camilla Prado, de 31 anos. Moradora da comunidade de Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo, ela participou do 'Costurando Sonhos' e logo conseguiu trabalhos dentro do próprio projeto. A costureira ficou no grupo até o final de 2021, quando decidiu sair para investir em seu negócio.

Camila Prado trabalha com costura para ter mais tempo de ficar com a filha

Camila Prado trabalha com costura para ter mais tempo de ficar com a filha

Foto: Arquivo pessoal

Foi assim que ela abriu seu CNPJ como MEI e passou a trabalhar de forma independente em casa. Desde então, tem reunido entre seus clientes os vizinhos da comunidade e até mesmo moradores de outras regiões da capital paulista, que chegam até ela por indicação do projeto.

"Abrir o MEI foi o primeiro passo e foi muito importante, porque é uma segurança, já que com ele temos os direitos garantidos e conseguimos emitir nota fiscal", aponta.

Camila conta que fez diversos cursos de capacitação com o Sebrae e agora está construindo seu próprio ateliê. A renda que ganha mensalmente já tem garantido melhorias para sua vida e da família. Segundo conta, ela consegue em uma semana de trabalho o que faria em um mês como prestadora de serviço.

"Às vezes as pessoas questionam o preço do nosso trabalho como costureira, mas produzir roupas e acessórios é bastante trabalhoso, demanda tempo e dedicação", defende. "Hoje, consigo fazer meu próprio horário, ter mais tempo com minha família e até para mim".

Projeto Costurando Sonhos emprega atualmente 78 mulheres

Projeto Costurando Sonhos emprega atualmente 78 mulheres

Foto: Reprodução/Instagram

O projeto 'Costurando Sonhos', fundado por Suéli do Socorro Feio e Maria Nilde Santos, capacita mulheres socialmente vulneráveis e permite que elas tenham a própria renda por meio da formação em cursos de corte e costura. Além disso, muitas alunas que recebem a capacitação passam a trabalhar para a marca de roupas do próprio projeto, lançada dois anos após sua fundação.

"Já capacitamos mais de 600 mulheres. Com a pandemia, vimos a oportunidade nas máscaras, então, temos costureiras que não passaram fome", conta Suéli.

De acordo com o economista Luiz Gustavo Barbosa, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a necessidade de funcionários para sua atividade-fim faz das micro e pequenas empresas "amortecedoras de crises".

"As micro e pequenas empresas, nos últimos anos, são quem estão segurando muito a questão dos empregos. Elas são fundamentais para termos um emprego mais estável na economia brasileira, até porque, como elas são menos propensas à aquisição de máquinas e equipamentos caros, precisam dos empregados para fazer sua atividade", explica.

Formalização é oportunidade de crescimento

A formalização como microempreendedor individual é também oportunidade de crescimento, segundo apontam especialistas. Com um número de CNPJ, é possível ter acesso a empréstimos, descontos e investimentos que permitem planejar até uma expansão.

É o que pretende a confeiteira Elilia Mota, de 48 anos, que deixou a carreira corporativa após 20 anos para seguir o sonho de produzir bolos e doces. Com o preparo dos quitutes na cozinha do apartamento de três quartos, onde mora com o marido em Salvador, ela agora quer montar seu próprio ateliê.

"Hoje, eu não tenho horário para terminar. Se algum cliente mais antigo liga à noite pedindo um bolo para a manhã seguinte, eu não nego. Com um ateliê fora de casa, seria mais fácil impor limites e horários", explica.

Elilia Mota montou seu próprio ateliê em casa após ser demitida na pandemiaElilia Mota montou seu próprio ateliê em casa após ser demitida na pandemiaFoto: Arquivo pessoal

Embora positiva, a expansão do negócio demandaria também a contratação de mais pessoal para trabalhar na confeitaria. Hoje, Elilia possui apenas uma funcionária, como estabelece a regulação do MEI. Mas, se o Congresso aprovar um projeto em tramitação na Câmara dos Deputados, a baiana pode passar a ter até dois funcionários regulares.

Proposto pelo deputado Coronel Tadeu (PSL-SP), o Projeto de Lei Complementar 252/20 aumenta para dois o número de empregados que poderão ser contratados por MEIs ou por empreendedor que exerça as atividades de industrialização, comercialização e prestação de serviços no âmbito rural. O texto está sob análise da Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara.

"Hoje eu chego a rejeitar cliente, justamente porque eu não tenho mais gente. Sou só eu e outra pessoa. Não dou conta, mas espero conseguir quando expandir meu negócio", diz Elilia.

O sonho da expansão é uma realidade de poucos MEIs. De acordo com o economista Luiz Gustavo apenas 10% dos microempreendedores costumam expandir suas operações.

"O restante ou segue como pequeno negócio ou não sobrevive", acrescenta.

Segundo ele, 60% dos novos negócios abertos anualmente fecham em até três anos de operação.

*Com edição de Estela Marques

Fonte: Redação Terra





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