Lenine foi quebrou o silêncio durante depoimento na CPI que investiga o caso no Senado. (Foto: Agência Senado)
Apontado como contador da organização criminosa desmembrada pela operação Monte Carlo da Polícia Federal, Lenine Araújo de Souza nega que tenha corrompido servidores públicos. O réu reclamou das condições em que ficou encarcerado e disse ter se sentido "humilhado".
"Não corrompi ninguém nem dei vantagem ilícita a nenhum servidor público", disse. "Todo o meu patrimônio, até o que consta depois de 2007 (quando a prática dos bingos foi declarada ilegal) consta no meu Imposto de Renda e é legal", argumentou.
Primo de Cachoeira, Lenine refutou as provas colhidas e preferiu não responder à maioria das perguntas. "Não aceito elas como legais nem as gravações, nem a autoria de website contábil destinado a mim", disse. Lenine se calou quando indagado se conhecia o tenente-coronel da PM Deovandir Frazão, apontado como um dos beneficiados do esquema.
Antes de depor, Lenine e os demais réus tiveram 20 minutos para conversar com seus advogados. O suposto contador disse que nunca foi preso, indiciado ou algemado. Ao dar informações complementares sobre o caso, apelou para sua vida pessoal. "Eu tenho 46 anos, casado há 17, pai de dois filhos, me formei de Administração de Empresas em 1987. Sou filiado ao Conselho de Administração desde 2002. Sou católico fervoroso, frequentador do movimento da igreja Terço dos Homens em Valparaíso - colaborador na manutenção de uma creche Paraíso dos Sonhos alimentando mais de 200 crianças", declarou.
Preso pela operação Monte Carlo, Lenine Araújo é apontado como integrante da organização comandada por Carlinhos Cachoeira. De acordo com os requerimentos de convocação, o investigado era gerente do jogo do bicho e responsável pela contabilidade do grupo.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.
Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.
Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senad
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