“Presos saem pior que entram; 80% são reincidentes”, diz Perri Desembargador defendeu ressocialização por meio da educação e trabalho; MT tem 11 mil presos
O desembargador Orlando Perri, do Tribunal de Justiça, revelou que cerca 80% dos 11 mil presos no sistema penitenciário de Mato Grosso são reincidentes.
“A imensa maioria das pessoas que estão recolhidas voltaram a cometer novos crimes. Estima-se que nós tenhamos 80% de reincidentes em Mato Grosso e no Brasil. Isso significa dizer que a cada 100 presos que deixam o sistema prisional, 80 voltam a cometer novos delitos. E que mostra que o Estado falha no sistema de ressocialização”, afirmou Perri.
O desembargador é supervisor do Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e Socioeducativo de Mato Grosso (GMF) e concedeu uma entrevista coletiva nesta tarde para apresentar um levantamento sobre os presídios.
Segundo Perri, o sistema prisional deve ser tratado com um dos pilares da Segurança Pública pelo Estado.
“Não é possível se pensar em Segurança Pública esquecendo do sistema prisional. A Segurança Pública deve começar pelo sistema prisional, porque se nós não estamos conseguindo ressocializar, estamos enxugando gelo”, disse.
“As pessoas que entram no sistema prisional estão saindo piores. E todos nós ficamos reclamando da violência no Estado. Mas nós, como cidadãos, temos feito nossa parte?”, questionou.
Segundo ele, é preciso dar dignidade e condições de trabalho e emprego para os presos.
“A pena não tem apenas o caráter punitivo, mas ressocializador. E não se consegue ressocialização tratando preso sem dignidade que ele merece como ser humano”.
Trabalho e educação
O desembargador apontou que a sociedade brasileira ainda é “punitivista e preconceituosa” em relação aos detentos.
“O trabalho é importantíssimo, e as estatística mostram que o preso que deixa o sistema prisional e é empregado não comete crimes. Mas o fato é que a verdade precisa ser dita: temos uma sociedade punitivista e preconceituosa. E isso tem fomentado a criminalidade”.
Segundo ele, quando a barreira do preconceito é quebrada, os empresários que contratam os antigos presidiários não demonstram arrependimento.
“Tanto que estamos conversando com nossos empresários e comerciantes para que possam oferecer oportunidade a essas pessoas que já cumpriram suas penas, e querem apenas uma oportunidade na sua vida para que possam viver com dignidade. Os empresários que absorveram a mão de obra do reeducando, nenhum deles se arrependeu. São os melhores empregados que eles poderiam ter em suas empresas”, destacou.
Escritórios sociais
Um dos programas defendidos pelo grupo é do escritório social, que já existe em Cuiabá.
“O Estado de Mato Grosso está fomentando a criação de escritórios sociais para que nós possamos trabalhar o reeducando seis meses antes dele deixar o presídio. Com acompanhamento de psicólogo e assistente sociais, e com seus familiares”, explicou o desembargador.
Já estão instalados aguardando a abertura os escritórios de Jaciara e Mirassol D'Oeste, e demostraram interesse as comarcas de Rondonópolis, Cáceres, Lucas do Rio Verde, Sinop, Barra do Garças e Primavera do Leste.
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