Novas conversas telefônicas interceptadas pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo mostrariam o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o ex-senador Demóstenes Torres fazendo negócios em nome do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Os diálogos, que correm sob segredo de Justiça e foram divulgados pela revista Época neste final de semana, mostram a relação do governador com o grupo e indicam que ele teria direcionado a contratação de empresas sem licitação. Em uma conversa, um assessor do governo afirma que Perillo "deixou passar" à Delta um contrato que poderia render R$ 1,2 bilhão. Em outra, o governador teria ordenado, através de Demóstenes, que o Detran contratasse uma "empresa amiga".
Os diálogos divulgados pela Época mostram que o presidente do Detran de Goiás, Edivaldo Cardoso, teria sido nomeado por indicação de Cachoeira e era encarregado de fazer com que a Delta fosse beneficiada em contratos com o governo. O diálogo gravado pela PF mostra o bicheiro acertando com Cardoso a contratação da Politec a pedido de Perillo. A revista afirma ainda que um irmão do governador de Goiás teria um celular habilitado nos Estados Unidos para conversar com Cachoeira.
Em nota, o governo de Goiás afirma que a Época tenta, de "forma equivocada e sem consistência", envolver o governador em "atividades suspeitas, irregulares ou ilegais". "Época seleciona fragmentos de mais de 30 mil horas de gravações e, com essas conversas pinçadas, tenta construir situações que seriam para o governador no mínimo embaraçosas, se verdadeiras", diz o comunicado. "A revista mistifica os fatos, enfraquece os compromissos da imprensa com a democracia e, mais grave ainda, mente", afirma.
Por meio de sua assessoria, o governo afirma que a "própria matéria contradiz seu embasamento, que seriam as supostas relações do governador com o sr. Cachoeira" e que pelo que se ouve nos diálogos a contratação da Politec vai contra os interesses do próprio bicheiro. Além disso, a nota diz que "Época não aponta um único negócio ou contrato feito na atual gestão com participação ou interferência do sr. Antônio Perillo. Apenas sugere, a partir de diálogos que ela própria seleciona e encadeia ardilosamente, vínculo entre o governo, o sr. Antônio e o sr. Carlos Cachoeira.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.
Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.
Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.
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