Baixa cobertura vegetal é um "sinal de alerta", diz doutora “Folhas não são sujeira, palmeira não é árvore e poda drástica causa danos ao ambiente”, avisa Jaçanan Milani
Doutora em Autoecologia de Espécies Arbóreas em Floresta Aluvial, Jaçanan Eloisa Milani, orientadora da pesquisa sobre vegetação urbana de Cuiabá, vê resultado da baixa cobertura vegetal, de 26,6%, como um sinal de alerta.
A baixa cobertura é apontada em pesquisa Análise Espacial da Cobertura Vegetal do Perímetro Urbano de Cuiabá, feita como dissertação de mestrado na Universidade Federal de Mato Grosso(UFMT)pelo engenheiro ambiental e tecnólogo em geoprocessamento Joelson Cardoso de Arruda.
“O que Cuiabá precisa fazer, com urgência, no meu ponto de vista, é repensar seus espaços”, diz a engenheira florestal, professora vice-coordenadora de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais da UFMT.
E, de acordo com ela, mesmo nas praças e parques existentes em Cuiabá, a cobertura vegetal não é compatível com o local.
Por isso, precisaria ser melhor trabalhada visando ao enriquecimento com a incorporação de mais espécies.
Ela explica que em Cuiabá, assim como em outras cidades, com a retirada da vegetação, uma consequência da expansão urbana, a população deixou de contar com a função das plantas na melhoria climática.
Sem vegetação, observa ela, a radiação solar da atmosfera não tem para onde refletir.
“Só temos materiais inorgânicos, que são o asfalto, prédios, casas e outras construções. O calor não se dissipa e por isso temos os aumentos brutais de temperatura”, explica.
Nas ruas, além de não haver árvores nos espaços que deveriam ter as espécies que existem, não são adequadas, segundo o apontamento da professora Jaçanan Milani.
Indo além, ela assinala que, para as ruas, não adianta plantar “mudinhas recebidas em doação”.
“É pouco provável que vão se desenvolver em condições tão limitadas”, esclarece.
São necessárias, indica, plantar de pelo menos 1,80 metro.
De forma taxativa, Jaçanan Milani sentencia que as palmeiras, uma das espécies que predominam em vias, jardim e outros espaços de Cuiabá, não são árvores.
“Palmeira não se enquadra como árvore. Não fazem sombra e nem beneficiam o microclima como outras espécies”, explica.
"Aqui, onde as pessoas insistem em plantá-la, a palmeira deveria ser limitada ao embelezamento ou adorno de monumentos e dentro de uma arborização de condomínio, não de ruas", reafirma ela.
Outras concepções para as quais ela reivindica mudança estão relacionadas à poda drástica e as “sujeiras” produzidas pelas árvores.
“Precisamos entender que mato e árvores não produzem sujeiras. Que árvores derrubando folhas não deveriam incomodar. Que ter uma árvore no quintal não é ter mais serviço, e sim desfrutar de benefícios”, analisa.
As folhas, lembra ela, ajudam na umidade do ar, faz fotossíntese.
Jaçanan fez críticas ao período e tipo de poda de árvores em Cuiabá.
Conforme ela, as podas são drásticas e ocorrem em épocas em que a população precisa da sombra, dos serviços prestados pelas folhas para melhorar o microclima e a umidade relativa do ar.
“Temos um problema muito sério sobre a poda. Olhamos para as vias e observamos e sentimos que não temos sombra porque destoparam toda a árvore”, reclama.
Na arborização urbana, conforme a análise dela, as árvores oferecem benefícios sociais, ecológicos e psicológicos.
Não há dúvida de que as áreas verdes ajudam na qualidade de vida.
Todos os dados, análises e críticas feitas, Jaçanan reconhece que perpassam por planejamento e recursos financeiros, para produção de mudas, estímulo na população o plantio e mudanças de conceitos, entre outras questões.
A situação é bem crítica e se não mudarmos essa percepção em relação a essa problemática e de forma efetiva começar a atuar, para os próximos anos a qualidade de vida estará comprometida.
Mas, segundo a professora, essa não é uma máxima somente de Cuiabá.
A situação é grave em um grande número de cidades brasileiras.
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