Repórter News - reporternews.com.br
Cidades/Geral
Terça - 20 de Fevereiro de 2024 às 10:14
Por: Por Sofia Pontes, g1 MT

    Imprimir


O abrigo rupestre data da época pré-colonial, possui diversas gravuras e está localizado dentro de uma fazenda, às margens do rio Araguaia — Foto: MPF

O abrigo rupestre data da época pré-colonial, possui diversas gravuras e está localizado dentro de uma fazenda, às margens do rio Araguaia — Foto: MPF

O município de Torixoréu, a 577 km de Cuiabá, aguarda o resultado de uma investigação sobre um possível novo sítio arqueológico localizado às margens do Rio Araguaia, no sudoeste de Mato Grosso, após pesquisadores encontrarem diversas gravuras rupestres. Os registros foram constatados durante a 1ª Expedição ao Rio Araguaia, organizada pela Câmara de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural (4CCR) do Ministério Público Federal (MPF), no final de 2023.

O g1 teve acesso ao relatório técnico que a equipe de expedição registrou sobre o que foi encontrado no local. O abrigo rupestre da época pré-colonial está localizado dentro de uma fazenda, às margens do Rio Araguaia. Nas imagens que compõem o relatório, é possível ver gravuras em espiral, além de painéis com gravuras rupestres. (Veja abaixo)


Detalhe do painel de gravuras rupestres, localizado na parede do abrigo rochoso, na parte superior. — Foto: MPF

Detalhe do painel de gravuras rupestres, localizado na parede do abrigo rochoso, na parte superior. — Foto: MPF

Segundo a arqueóloga e fundadora do Museu de História Natural de Mato Grosso, Suzana Hirooka, a arte rupestre é uma importante pista para entender como nossos antepassados pensavam e conviviam.

“Estamos falando das primeiras manifestações artísticas da nossa humanidade, em um período que não existia a escrita. A arte é uma manifestação que torna possível entender os sentimentos de povos do passado e que não existe outra maneira de compreendê-los a não ser por ferramentas e gravuras”, explica.

Apesar da descoberta, é visível a presença de pichações e manchas sobre as gravuras, causadas por intervenção humana recente e marcas do tempo de exposição a fenômenos da natureza, como ventos e chuvas.

“O sítio apresenta um estado de degradação avançado. Dezenas de gravuras encontram-se sobrepostas por pichações e outros tipos de interferências (rabiscos, raspagens), visando a escrita de nomes, frases e números. O painel principal, embora localizado em ponto mais alto, não ficou a salvo das pichações”, diz trecho do relatório.
Apesar da descoberta, é visível a presença de pichações e manchas sobre as gravuras — Foto: MPF

Apesar da descoberta, é visível a presença de pichações e manchas sobre as gravuras — Foto: MPF

Entre os principais problemas identificados pela perícia técnica do MPF, estão:

  • impactos de natureza física – desprendimento de blocos/placas das paredes e do teto das cavidades que formam o abrigo;
  • impactos de natureza química – presença de umidade/infiltração e limo que causam manchas sobre as gravuras;
  • impactos de natureza biológica – presença de fezes de pássaros, animais de pequeno porte, casas de insetos, entre outros;
  • impactos de natureza antrópica – pichações sobre gravuras rupestres, seja com tinta spray seja com tintas e pigmentos de outras naturezas, raspagens e rabiscos (inclusive a carvão), entre outros impactos.

Para a arqueóloga, as pichações e danos às gravuras geram perda de informações para a história, mas que infelizmente são muito comuns no estado.

“Os sítios arqueológicos de Mato Grosso são constantemente noticiados como em perigo. As artes rupestres estão na natureza, esse tipo de ação causa um dano enorme para a arte em si e para as informações que poderíamos ter”, diz.

O MPF estipulou o prazo de 60 dias para que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) realize vistoria e cadastre o sítio arqueológico no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos (CNSA/Iphan).

⌛Polo arqueológico

Sítio arqueológico de Santa Elina, em Jangada — Foto: Reprodução

Sítio arqueológico de Santa Elina, em Jangada — Foto: Reprodução

Mato Grosso é destaque no ramo arqueológico. O estado abriga o sítio arqueológico mais antigo das Américas, o Abrigo Rupestre Santa Elina, no município de Jangada, a 82 km de Cuiabá.

“Mato Grosso tem uma importância mundial na arqueologia, esse sítio de Santa Elina conta a história do homem na terra, conta sobre a nossa trajetória e são relíquias da nossa história e humanidade que são destruídos pelas ações humanas”, explica a arqueóloga.

🌀Imagem em espiral

Gravura com círculos concêntricos, localizado em parede lateral do abrigo rupestre — Foto: MPF

Gravura com círculos concêntricos, localizado em parede lateral do abrigo rupestre — Foto: MPF

As espirais são onipresentes nas estruturas humanas nos campos da arte, design e arquitetura, tanto laicas quanto religiosas — como a Grande Mesquita de Samarra, no Iraque, que data do século 9, ou a escada em espiral do Museu do Vaticano.

De acordo com a arqueóloga, os símbolos em espiral são muito conhecidos na arqueologia e podem representar diversas coisas.

“Esse signo é muito comum no mundo todo, e é muito difícil falar de significados de uma arte feita no passado e por uma pessoa que não sabemos quem é ou quando. Porém esses círculos poderiam representar várias coisas, desde o sol até aldeias, mas não podemos ter certeza", conclui.




Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/463333/visualizar/