O deputado Ivan Valente (Psol-SP), presidente nacional do partido, e o líder do DEM, deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (BA), avaliam que a cassação do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) piora a situação dos deputados investigados pela Câmara por associação com o bicheiro Carlos Cachoeira. Nesta quarta-feira, a Corregedoria deve divulgar o resultado das investigações sobre os deputados Rubens Otoni (PT-GO), Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) e Sandes Júnior (PP-GO). As informações são da Agência Câmara de Notícias.
"Só se a Casa for muito corporativa não teremos um desenlace semelhante ao do senador Demóstenes para alguns parlamentares aqui", disse Valente. O Psol pediu a investigação dos deputados na Câmara e do senador Demóstenes. Segundo o líder, há deputados com ligações telefônicas, empréstimos e outras doações comprometedoras.
Já o líder do DEM, antigo partido de Demóstenes, ressaltou que a cassação era a única saída para o caso do agora ex-senador. "Não haveria nenhuma hipótese de absolver Demóstenes. O Senado mostrou que impunidade não tem lugar no Congresso."
Neto também concorda que a decisão do Senado terá impacto nos deputados investigados. "É preciso que a Câmara tenha o mesmo compromisso do Senado e os deputados comprovadamente envolvidos com malfeitos precisam pagar o preço", disse.
O agora ex-senador Demóstenes Torres teve seu mandato cassado nesta quarta-feira por 56 votos favoráveis, 19 contra e cinco abstenções. Ele foi o segundo político a ser cassado no Senado por quebra de decoro parlamentar. Os senadores entenderam que ele usou o mandato para favorecer os negócios do grupo criminoso comandando por Cachoeira e recebeu vantagens pelo serviço.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.
Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.
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