Exploração ilegal de madeiras ameaça reserva ecológica em MT Polícia Civil aponta possível envolvimento de agentes públicos, donos de madeireiras, engenheiros florestais e transportadores

A exploração ilegal de madeiras ameaça a Estação Ecológica Rio Ronuro, unidade de conservação (UC) de proteção integral com 102 mil hectares do bioma Amazônia, localizada no município de Nova Ubiratã (502 km ao Norte de Cuiabá).
Esse cenário é exposto pelas últimas operações realizadas, nesta semana, pela Polícia Civil, na região de Feliz Natal (536 km ao Norte da Capital).
Uma delas foi a Operação Orcs, que resultou na prisão de duas pessoas e três madeireiras embargadas.
A Estação Ecológica Rio Ronuro é uma área de preservação integral que abriga espécies importantes da fauna e flora do Cerrado e da Amazônia mato-grossense, sendo considerada uma das áreas prioritárias para conservação da biodiversidade no Estado.
Contudo, investigações da PC apontam que madeiras oriundas, principalmente, da “Rio Ronuro” vinham sendo extraídas ilegalmente e, depois de apreendidas pelos órgãos fiscalizadores ambientais, eram doadas por meio de licitações.
Além da retirada ilegal de madeira, a reserva enfrenta caça indiscriminada e incêndios.
A “Orcs” foi desencadeada pela Delegacia Especializada do Meio Ambiente (Dema), na quinta-feira (10), para cumprimento de 13 mandados judiciais contra uma associação criminosa que atua na extração ilegal de madeira, em Feliz Natal.
Foram cumpridos um mandado de prisão e 12 mandados de busca e apreensão domiciliar em endereços alvos, como residências e empresas dos investigados, em Feliz Natal, Sorriso e Sinop.
As ordens judiciais, expedidas pelo Juízo da Comarca de Feliz Natal, decorreram da investigação da Dema, iniciada a partir de requisição do Ministério Público (MP) de Feliz Natal para apurar crime ambiental envolvendo a extração, transporte e comercialização ilegal de madeira na região Norte de Mato Grosso.
Conforme a PC, são apurados crimes de extração ilegal de recursos naturais, crimes contra a administração pública ambiental, associação criminosa, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.
A operação teve a colaboração da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), que disponibilizou informações administrativas.
“A Polícia Civil apurou que a Sema não tinha conhecimento ou participação nos fatos investigados”, informou a polícia.
A “Orcs” resultou na apreensão de diversos documentos, aparelhos eletrônicos e outros materiais que serão analisados para o aprofundamento das investigações.
Um homem, de 40 anos, apontado como responsável pela logística do corte e retirada da matéria-prima de dentro da reserva ecológica, teve o mandado de prisão cumprido.
Além disso, três madeireiras foram embargadas pela Sema e uma pessoa foi presa em flagrante por porte ilegal de arma de fogo por ser encontrada duas pistolas calibre 22 durante o cumprimento do mandado de busca e apreensão.
Conforme indícios, as madeiras oriundas principalmente da “Rio Ronuro” eram extraídas ilegalmente e, depois de apreendidas pelos órgãos fiscalizadores ambientais, eram doadas por meio de licitações.
Em razão da legislação que permite a doação de madeiras licitamente pelos órgãos ambientais, a Dema apurou que as madeiras eram doadas ao grêmio desportivo, que por meio de licitação na forma de leilão fraudulento, retornava com as madeiras para os madeireiros do grupo criminoso.
Entre as irregularidades identificadas nas doações ao grêmio desportivo, estão a inexistência de formalização das circunstâncias das apreensões, ausência de termo de depósito indicando o responsável pela guarda dos materiais, falta de avaliação prévia das toras e de autorização judicial para venda das madeiras e a não regularização junto ao órgão estadual de meio ambiente.
Também identificou-se que algumas madeireiras investigadas mantinham intensa atividade comercial no sistema de Comercialização e Transporte de Produtos Florestais, tramitando diversos guias florestais com suspeita de fraude, indicando assim fluxo constante de madeira de origem ilegal.
As investigações apontam o possível envolvimento de agentes públicos, proprietários de madeireiras, engenheiros florestais com histórico de prática de crimes ambientais, transportadores e intermediários que facilitavam o escoamento da madeira extraída ilegalmente.
APREENSÃO – Ainda na quinta-feira (10), foram presos três homens, de 42, 51 e 57 anos, flagrados realizando extração de madeira dentro da Estação Ecológica Rio Ronuro.
Equipes da Dema e da Gerência de Operações Especiais (GOE) foram enviadas ao local após o recebimento de denúncias de que tinham várias pessoas praticando extração de madeira dentro da reserva e que havia um trator escondido na mata.
No local, os policiais encontraram toras de madeira derrubadas e outras serradas.
Ao entrar na mata, a equipe avistou um acampamento com dois suspeitos, de 42 e 57 anos, que disseram terem sido contratados para executar um serviço.
Segundo a polícia, o de 42 anos disse que sua função era fazer lascas e o de 57 de ajudar a descascar toras derrubadas e cortadas.
Questionados, ambos disseram que não sabiam onde estava o trator e que havia uma máquina estragada, que tinha sido levada para a cidade para ser consertada.
Os policiais ainda apreenderam uma motosserra, utilizada pelos suspeitos para cortes de toras e árvores, e encontraram um terceiro suspeito, de 51 anos.
Os acampamentos encontrados foram destruídos e a motossera, celulares e uma antena de internet de última geração foram apreendidos.
Comentários