A Executiva do Partido dos Trabalhadores (PT) do Tocantins irá convocar o prefeito de Palmas, Raul Filho (PT), para prestar esclarecimentos sobre sua relação com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. No encontro da executiva, realizado na noite desta terça-feira, os membros também defenderam que o petista deve ser ouvido na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira, no Congresso Nacional. Raul Filho deve ser convocado para depor na comissão em função da divulgação de um vídeo no qual Cachoeira oferecia custear um show para sua campanha, em 2004.
De acordo com o presidente estadual do PT, Donizeti Nogueira, a convocação do prefeito pode ser realizada ainda essa semana, fato que irá depender das agendas do partido e do prefeito. Nogueira afirmou que o partido vê as denúncias com preocupação e espera que a CPI vá além nas investigações.
"Isso revela o fracasso que é o sistema eleitoral brasileiro. A minha expectativa é que a CPI apresente para a sociedade brasileira um projeto de reforma política que dê conta de superar esse vício". declarou, se referindo ao financiamento de campanhas no País.
O líder do PT na Assembleia Legislativa (AL), deputado estadual Zé Roberto, disse que o partido só irá se posicionar sobre o assunto a partir do momento que tiver provas concretas sobre um possível caixa 2 na campanha de Raul Filho. "A gravidade do assunto, as provas irão mostrar. O que a gente quer dizer é que não temos nenhuma relação com as atitudes tomadas pelo prefeito da capital como administrador. Há anos que o PT como um todo se afastou da administração. O prefeito manteve um grupo ligado a ele", frisou.
Expulsão
Raul Filho chegou a ser expulso do PT no ano passado por apoiar publicamente o candidato João Ribeiro, do PR, à reeleição ao Senado nas eleições de 2010, enquanto o PT tinha seu próprio candidato, o ex-prefeito de Porto Nacional, Paulo Mourão. Porém, ele recorreu à Executiva Nacional, a qual entendeu que o prefeito não deveria sair da legenda.
Questionado sobre a possibilidade de Raul Filho ser expulso novamente do partido, Nogueira destacou que, se chegar à executiva um pedido de expulsão do prefeito, a direção estadual irá tomar as providências que o estatuto da legenda recomenda.
"Nesse momento, a direção está priorizando ouvir e esperar que sejam dados esclarecimentos. Entendemos que é importante ele dar o esclarecimento na CPI e na direção estadual", completou.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.
Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.
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