O senador Pedro Simon (PMDB-RS) afirmou nesta sexta-feira ter convidado o ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antônio Pagot para falar ao Congresso, em uma sessão fora da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira, que na quinta-feira adiou a convocação de Pagot. Segundo Simon, que não integra o colegiado, o ex-diretor ficou de responder até a próxima terça-feira.
O depoimento de Pagot entrou na pauta do colegiado após entrevista do ex-diretor à revista IstoÉ., na qual ele denunciou um suposto esquema de desvio de verba na obra do Rodoanel para as campanhas dos tucanos José Serra à Presidência da República e Geraldo Alckmin ao governo paulista, em 2010, e outro de doações de empreiteiras à campanha petista no mesmo ano. À Época, Pagot também afirmou ter contrariado interesses do bicheiro Carlinhos Cachoeira e da construtora Delta quando estava à frente do Dnit, e que isso teria influenciado sua demissão, no ano passado, na "faxina" que a presidente Dilma Rousseff (PT) fez no Ministério dos Transportes.
Simon lamentou a decisão de adiar a convocação de Pagot, depoimento que considera "indispensável", principalmente porque o ex-diretor se colocou à disposição para falar na CPI. "Ele disse que fazia mesmo questão de ser ouvido, que tinha muita coisa para dizer", afirmou o senador ao Terra.
O peemedebista disse que a sessão com Pagot aconteceria fora da CPI, mas com membros da comissão que defendem o depoimento. Após a decisão de adiar a convocação do ex-diretor, na quinta-feira, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) anunciou que um grupo de parlamentares convidaria Pagot a ir ao Congresso. "E vamos começar a seguir o caminho do dinheiro e das cumplicidades no mundo político", disse o deputado.
"A repercussão (na CPI) vai ser impressionante, principalmente depois da recusa de convocá-lo", disse Simon, que criticou o fato de a bancada do PT ter votado contra os depoimentos de Pagot e Cavendish.
Simon espera que, caso o ex-diretor aceite falar, a sessão aconteça após o "recesso" de uma semana das sessões deliberativas, em função da participação de parlamentares na conferência Rio+20, no Rio de Janeiro. O evento encerra em 22 de junho.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.
Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.
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