O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), foi quem designou esse grupo de assessores que analisam as auditorias feitas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em obras do Dnit que envolviam a construtora apontada pela Polícia Federal como um dos braços do esquema de corrupção que levou à prisão de Carlinhos Cachoeira. "Pedi ao TCU todos os contratos que envolvam a Delta, inclusive os relacionados às obras no Rio de Janeiro. Já os contratos do Dnit envolvem várias gestões e não só a do Pagot", destacou Dias.
O parlamentar acredita que, com esse material, os requerimentos de convocação apresentados pela oposição na CPI terão mais embasamento e dificultarão qualquer movimento com o objetivo de preservar pessoas, inclusive o empresário Fernando Cavendish, presidente afastado da Delta.
Na próxima segunda-feira, o senador tucano pretende reunir os técnicos para avaliar em que pé está a análise dos contratos recebidos do TCU. "O pessoal está trabalhando e o importante é verificar os aditivos feitos aos contratos. A estratégia da Delta era bem clara. Apresentar um preço bem baixo nas licitações e apresentar, depois, uma série de aditivos aos contratos reajustando os preços".
O presidente do Democratas (DEM), José Agripino Maia (RN), disse que o seu partido não participa dessas análises. Ele considera mais importante, agora, o ordenamento dos trabalhos pelos deputados e senadores que atuam na CPI.
Para Agripino, nada adiantaria para a comissão o depoimento de Pagot sem que antes os parlamentares tenham os contratos estabelecidos pela Delta pormenorizados. "Se Pagot vier à CPI sem que os parlamentares tenham avaliado os contratos e as quebras de sigilos da Delta, ele vai falar o que quiser sem qualquer possibilidade de contraponto", completa.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.
Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.
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