Após se dizer traído por Cachoeira, Demóstenes vai hoje à CPI
Depois de ter prestado depoimento ao Conselho de Ética do Senado na terça-feira, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) volta a ser o centro das atenções na Casa nesta quinta-feira, às 10h15, quando será ouvido pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. Ele é acusado de usar o cargo para favorecer as atividades do contraventor. Mas não se sabe quais novidades o senador poderá trazer às investigações, uma vez que falou longamente ao conselho negando quaisquer irregularidades e dizendo passar pelo "pior momento de sua vida".
Seu advogado, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, já antecipou que o parlamentar não falará durante a sessão. Ele esteve no Senado, na quarta-feira, para pedir à CPI que o senador seja dispensado do depoimento, alegando que Demóstenes já disse tudo que deveria falar sobre o assunto no Conselho de Ética. O pedido, entretanto, foi negado pelo presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB). "Se por acaso ele tiver que comparecer, ele comparecerá, mas usará do direito de permanecer calado", disse o advogado.
Em seu depoimento na terça, Demóstenes admitiu que recebeu um Nextel do contraventor e que usou o aparelho - que também permite a comunicação via rádio - por comodidade, devido às suas constantes viagens para fora do País. Questionado sobre quem pagava a conta do celular, Demóstenes respondeu que era Cachoeira. Ele confirmou sua amizade com o bicheiro, mas negou ter feito lobby a favor da legalização dos jogos no Brasil e afirmou se sentir traído por Cachoeira, que, segundo o senador, havia dito ter abandonado o jogo do bicho. "Ele disse que não estava mais na contravenção. E disse isso a várias pessoas. E eu acreditei."
Acusado de ter sociedade nos negócios da construtora Delta, o senador afirmou ainda que teve o nome usado por executivos da empresa sem o seu conhecimento. Demóstenes tentou demonstrar que Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta no Centro-Oeste e preso pela Polícia Federal, buscava fortalecer a empresa ao usar o nome de um senador goiano, para medir forças com os concorrentes. "Eu não posso ser responsável pelo que os outros dizem de mim. Sócio oculto da empresa Delta não sou eu. Cláudio Abreu dizia que era meu sócio para aumentar força da empresa diante da concorrência".
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o PSOL representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir ouros políticos, agentes públicos e empresas.
Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.
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