O senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) chegou por volta das 10h05 desta terça-feira na Comissão de Ética do Senado, onde prestará depoimento sobre suas relações com o contraventor Carlinhos Cachoeira. A sessão estava marcada para 9h30. Ao iniciar sua fala, ele afirmou que vive "o pior momento" de sua vida.
"Devo dizer a Vossas Excelências que vivo o pior momento da minha vida, vivo um momento que jamais imaginaria passaria. A partir de 29 de fevereiro, eu passei a enfrentar algo que nunca tinha enfrentado: depressão, remédio para dormir, e que não faz efeito, fuga dos amigos e talvez a campanha sistemática mais orquestrada da história do Brasil", afirmou. "Pensei nas piores coisas, pensei em renunciar ao meu mandato."
O senador afirmou, porém, que "resistiu" porque queria ir ao Conselho de Ética responder as dúvidas de seus colegas e que a recuperação da sua fé ajudou. "Redescobri Deus. Parece um fato pequeno, mas acho que minha atuação era mais pautada pelos homens que por Deus. Eu cheguei aqui porque recuperei a fé."
Ele acrescentou que os "vazamentos sistemáticos" das conversas com Cachoeira, registradas pela Polícia Federal, tiveram como objetivo apenas de "enxovalhar" sua reputação. "Veremos durante aquilo que vou expor que muita coisa que foi dita é desmentida pelos próprios autos, teve importância relevada. A esmagadora maioria não tem relevância penal ou ética alguma."
Sobre sua relação com Cachoeira, Demóstenes confirmou a relação. "Reafirmo que tinha amizade com ele, sim." O senador acrescentou que o empresário também se relacionava com governadores e outros políticos, sem citar nomes.
Após seu depoimento, será dada a palavra ao relator Humberto Costa (PT-PE). Em seguida, será a vez dos demais membros do colegiado, que terão 10 minutos cada para formular perguntas. Terão voz ainda os demais senadores, pelo mesmo tempo concedido aos integrantes da comissão.
Processo no Conselho de Ética
Demóstenes é acusado de quebra de decoro parlamentar por manter estreitas relações com o contraventor. No seu relatório preliminar, Humberto Costa sustenta que o senador goiano usou o mandato para atuar em favor dos interesses de Cachoeira. Demóstenes teria repassado informações privilegiadas ao bicheiro, além de ter defendido durante o seu mandato a legalização de jogos no País - ao contrário do que diz em sua defesa encaminhada ao conselho.
Humberto Costa aguarda apenas a defesa de Demóstenes para elaborar seu relatório final. Ele promete finalizar o trabalho até meados de junho, para ser votado nas comissões e chegar ao plenário antes do recesso, marcado para iniciar no dia 17 de julho.
Antes da chegada de Demóstenes, Alvaro Dias (PSDB-PR), líder dos tucanos, afirmou que a defesa do colega é uma "missão impossível". Para ele, houve quebra de decoro por parte de Torres. "Os fatos são contundentes e nada pode reverter essa expectativa de cassação de mandato", disse.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o PSOL representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir ouros políticos, agentes públicos e empresas.
Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.
Com informações da Agência Senado.
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