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Politica Brasil
Domingo - 13 de Maio de 2012 às 11:51

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Dirigente remunerado do DEM (salário declarado de R$ 18 mil líquidos) e candidato a vereador, o ex-prefeito do Rio Cesar Maia defende as obras feitas pela Delta no seu governo. "

Não tenho reclamações da Delta", diz. Ele afirma acreditar que o envolvimento do senador Demóstenes Torres com Carlos Cachoeira não será tão prejudicial ao DEM quanto foi o caso de corrupção que em 2010 levou à cassação do governador José Roberto Arruda, do Distrito Federal. "Arruda era nosso principal quadro."

No Rio, Maia está unido ao ex-adversário e deputado federal Anthony Garotinho (PR) na campanha à prefeitura da chapa formada pelos filhos dos dois, os deputados federal Rodrigo Maia (titular) e estadual Clarissa Garotinho (vice). Ele diz que o atual prefeito, Eduardo Paes (PMDB), aliado do governador Sérgio Cabral (PMDB), é beneficiado pelo apoio das Organizações Globo à sua reeleição. As Organizações Globo afirmam que, por princípio, não apoiam candidatos. Paes não quis comentar a entrevista.

FOLHA - O caso da Delta afetará a eleição no Rio no Rio? Paes não foi atingido.
César Maia --Foi atingido sim, pelo amor de Deus. Na hora em que a coisa abre para o governador Sérgio Cabral (PMDB), abre para o associado dele. Quanto pega? Vamos ver, depende muito da oposição. O Marcelo Freixo (PSOL) vai ter problema devido ao pouco tempo de propaganda na TV. Terá que cristalizar um patamar antes, para que possa ter chance de ir para o segundo turno, que no Rio em geral é inexorável. No caso de Rodrigo e Clarissa, nossas pesquisas, já medindo a rejeição a Cesar Maia e a Garotinho, dão 20% para a chapa.

Paes não está tão seguro como indicam as pesquisas?
Veja a ofensiva dele para criar fatos novos, para tentar sair da associação com Cabral. Inventa negócio de publicidade, de bicicleta elétrica. Inventa e o "Globo" promove, bota lá para cima.

E qual será o discurso de Rodrigo e Clarissa?
Será suave e propositivo, crítico em relação aos vetores em que o Eduardo tem desgaste: o servidor público, que odeia ele, a humilhação dos pobres no programa Choque de Ordem e a privatização da educação e da saúde.

Que privatização?
Na saúde, os contratos com as OSS (Organizações Sociais de Saúde). Na educação, tem gastos com Instituto Ayrton Senna, Instituto Sangari, Fundação Roberto Marinho, Abril. Acabou a revista da prefeitura, entrou a "Nova Escola", da Abril. O Sangari tem um pacote de ciências desenvolvido na Alemanha, contrariando Paulo Freire.

Então vai ser um discurso de esquerda?
Não sei se é de esquerda. Os valores da família também serão um ponto forte.

Como o Serra tentou fazer na campanha presidencial?
O Serra foi um desastre na campanha.

Intelectuais tucanos estão apoiando o Fernando Haddad em São Paulo...
Estão levando a Claudia Costin [secretária municipal de Educação do Rio] para lá para tentar agradar a Abril [Costin foi da Fundação Victor Civita], para tentar agradar a Fundação Roberto Marinho. Não adianta porque o Haddad foi ministro, foi secretário da Marta, foi professor universitário. Eles sabem os problemas que tiveram com Haddad nessa esfera do público e do privado. Isso não é julgamento nem crítica. Se fosse dono do sistema Globo, faria o que eles fazem. Agora, quando você se sente afetado, reage. No Rio a gente sabe que o sistema Globo vem com tudo para cima do Eduardo, então temos que ver como reagir.
O Rodrigo é bom para isso porque é diferente de mim. Eu aprendi a fazer política no combate. O Rodrigo foi deputado federal com 27 anos, aprendeu a fazer política de articulação, e a relação que tem com os meios de comunicação em Brasília é muito boa. Eu e o Garotinho, na base, vamos ter o nosso estilo, combativo, duro.

Quando o sr. era prefeito a Globo não apoiava o sr.?
No meu último governo, a oposição foi sistemática. Quando eles se envolvem na política, eles têm um projeto, e eu deixei de fazer parte desse projeto.

E o peso de Lula e Dilma na campanha de Paes?
Dilma não é Lula, nem Lula 2012 é Lula 2010. Não tem a caneta, não tem a mobilidade que tinha. Depois, há um espalhamento para 500 cidades, não são 27 Estados. A Dima vai basicamente fazer gravação de TV. O que ela agrega pedindo voto? Nada.

Não é uma fragilidade da chapa Rodrigo-Clarissa o fato de o sr. e Garotinho terem sido adversários?
Ninguém está se iludindo. Coligação você faz por convergência de ideias ou por oposição a um terceiro. Nossa associação no Estado tem como foco derrotar o PMDB em 2012 e em 2014.

No governo Lula, o DEM ficou marcado pela figura do Demóstenes Torres. Qual é o futuro do partido?
O caso do Demóstenes não maculou nada. Ele não tinha laço com ninguém do DEM. O José Roberto Arruda sim [Arruda teve o mandato de governador do DF cassado em 2010, depois de um escândalo de corrupção]. Arruda diz que era injustiça falar de mensalão do DEM. Claro que não havia um fluxo mensal, mas, quanto a usarem o nome do partido, o que a gente vai fazer? Era nosso principal quadro, quem sabe candidato a presidente, tinha uma popularidade imensa. A gente também sofreu esse percalço da criação do PSD, mas o PSD, sem fundo partidário e se não conseguir tempo de TV, ele acaba.

Quantos deputados federais vocês perderam?
Perdemos 14. Mas, com exceção da senadora Kátia Abreu, quem saiu do DEM foi baixo clero. O PSD pode ter levado os deputados, mas não os eleitores. Se o DEM crescer depois de 7 de outubro, vamos para 2014 para recuperar o que perdemos em deputados. Se diminuiu, é um caso muito delicado, e temos consciência disso.

O DEM não falava antes em valores morais, ao contrário da direita americana. Vai falar agora? Isso funciona?
Na Internacional Democrata de Centro, da qual sou vice-presidente, um dos vetores do discurso é que a crise dos derivativos financeiros é uma questão de valores. O banco sabia que aquilo que estava vendendo ia estourar. Mas fez o negócio, tirou o seu antes e quebrou o aplicador.

Garotinho fica na moral privada, ataca casamento gay...
Eu e Garotinho estamos de acordo que nenhum de nós pode estar contra ou a favor de duas pessoas do mesmo sexo quererem viver juntas e terem um contrato. O que a gente não admite é usar a palavra casamento, que é um sacramento de Jesus, como batismo, crisma.
Eu fui o primeiro prefeito do mundo a dar direito a pensão a companheiros do mesmo sexo de funcionários públicos. Portanto, nada tem a ver com a vida privada das pessoas. Agora, não usem a expressão casamento, tem que respeitar um setor majoritário da opinião pública que é católico, protestante etc.

O dono da Delta, Fernando Cavendish, disse que a empresa era elogiada quando o sr. era prefeito, por ter reduzido o preço das obras.
Não tenho reclamações da Delta. Quando voltei para a prefeitura, em 2001, acabei com o BDI (Bônus e Despesas Indiretas), pago quase no Brasil inteiro. Sobre o custo da obra, paga-se 20% a 30% de custo fixo. Alegamos que esse custo está diluído em tudo que a empresa faz. Também acabei com as regras de licitação que permitiam direcionamento. Isso gerou uma competitividade muito grande.

O que as demais construtoras dizem é que impossível fazer obras com os preços que a Delta oferecia.
A associação de empreiteiras do município ficou indignada com as regras que eu criei, dizendo que isso inviabilizava a participação das empresas menores. Disseram que era impossível a Delta estar ganhando com aquele preço. Pediram ao Eider Dantas [então secretário de Obras] que fizesse uma apresentação de aditivos de todas as obras. A Delta ficou abaixo da média deles.

OUTRO LADO

Em resposta ao ex-prefeito Cesar Maia, as Organizações Globo afirmaram que, "por princípio, não apoiam candidatos".

"Empresas e instituições mantidas pelas Organizações Globo mantêm relações com a Prefeitura do Rio de Janeiro, bem como com outros órgãos públicos de diferentes níveis, sempre de forma ética e com total respeito à lei", acrescentou o grupo, por meio de sua assessoria.

A Abril afirmou que não é contra a candidatura de Fernando Haddad em São Paulo, ao contrário do que diz Maia. "A Abril reconhece o importante papel que ele teve na melhoria do ensino público durante seus anos à frente do Ministério da Educação", disse a empresa, por meio de sua assessoria.

A Abril informou que a Fundação Victor Civita não tem contratos com a Prefeitura do Rio: "A instituição fornece produtos e serviços para professores e gestores escolares de todo o Brasil a preço de custo".

A assessoria do prefeito Eduardo Paes disse que ele não comentaria a entrevista e não forneceu o valor dos contratos com as entidades citadas pelo ex-prefeito.

No portal Rio Transparente, constam R$ 110,8 milhões em contratos com a Fundação Roberto Marinho desde 2006. Um deles, de R$ 11,5 milhões, para a restauração de uma igreja, foi assinado em 2006, quando Maia era prefeito. A fundação recebeu já R$ 26,7 milhões pelo projeto do Museu do Amanhã e R$ 26,6 milhões para a restauração do edifício que abrigará a Pinacoteca do Rio, ambos na zona portuária.

No site, não constam pagamentos no mandato de Paes aos institutos Ayrton Senna e Sangari, que recebeu R$ 299,9 mil do governo de Maia. O site do Sangari cita a existência do projeto Cientistas do Amanhã, do qual participam 2.000 professores e 150 escolas cariocas. A Fundação Victor Civita recebeu em 2010 da prefeitura R$ 423 mil, relativos, segundo o site, à compra de material.






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