O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, defendeu nesta sexta-feira (13) a validade das gravações telefônicas feitas pela Polícia Federal que mostram diálogos entre o senador Demóstenes Torres (sem partido-DEM) e o bicheiro Carlinhos Cachoeira. O teor das conversas poderá ser usado como prova contra o senador no inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal para investigar a relação entre os dois.
Em evento do Supremo, Gurgel disse que o Ministério Público está "absolutamente tranquilo". "De acordo com a jurisprudência, não há qualquer nulidade, as provas são plenamente válidas", disse.
A defesa argumenta que, como o senador possui foro privilegiado, só poderia ter ligações gravadas com autorização prévia do STF. O pedido de anulação foi feito na última terça (10) e a decisão sobre o caso depende do relator do processo no STF, ministro Ricardo Lewandowski.
Segundo Gurgel, a descoberta da relação entre o parlamentar e Cachoeira foi o que se considera um "achado fortuito".
"O senador Demóstenes jamais foi alvo das interceptações telefônicas. As interceptações tinham por alvo Cachoeira e outras pessoas não detentoras de prerrogativa de foro e por isso podiam ser, como foram, autorizadas pela Justiça Federal em Goiás", argumentou.
O procurador afirmou que a Polícia Federal sequer analisou as falas de Demóstenes registradas nas conversas com o bicheiro, já que o senador não era alvo das investigações.
O advogado do senador, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, disse ao G1 que deverá pedir ainda na tarde desta sexta ao PGR a apuração do vazamento e divulgação das conversas.
Agnelo
Durante evento do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o procurador disse não ter encontrado ainda elementos suficientes para iniciar uma investigação sobre as possíveis ligações entre Cachoeira e o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT). Segundo ele, isso acontece porque até agora só feita uma análise parcial de toda a documentação encaminhada pela Polícia Federal.
Gurgel aguarda uma resposta do Supremo Tribunal Federal a um pedido de desmembramento do inquérito em três partes: uma, mais avançada, relativa ao senador Demóstenes, outra para pessoas que possuam foro, como deputados; e uma terceira com os demais investigados, que deve ser encaminhada à Justiça Federal.
"Estamos esperando o desmembramento ser feito para que possamos aprofundar esse exame e aí sim verificar se há ou não elementos suficientes em relação ao governador Agnelo", afirmou.
Vazamento
Nesta quinta (12), o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que determinou ao diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello Coimbra, que sejam investigadas as razões para as informações referentes à Operação Monte Carlo terem vazado.
"Eu pedi ao diretor-geral da Polícia Federal que apure a origem dos vazamentos. Se nós detectarmos isso, de onde saíram as informações, evidentemente agiremos da forma que a lei nos permite. Não houve por parte da PF nenhum tipo de vazamento", disse Cardozo.
Segundo o ministro, a Polícia Federal agiu de forma legal, e as interceptações foram autorizadas pela Justiça. "O que eu posso dizer é que a PF seguiu rigorosamente as determinações judiciais. A polícia cumpriu seu papel e colocou as informações na mesa. Da parte da Polícia Federal, não houve nenhum procedimento ilegal", afirmou o ministro.
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