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Cidades/Geral
Sábado - 26 de Novembro de 2011 às 11:37

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Uma ação devastadora capaz de matar, deixar as pessoas dependentes, incapaz de reagir e com poder de manipular o cérebro do ser humano que passa a ser escravo do vício. Hoje, centenas - esse número dobra minuto a minuto - de dependentes perambulam. Caminham como se estivessem loucos, muitos nem se dão conta que estão fazendo gestos como se estivessem tendo alucinações no meio da rua, tanto na área central, como na periferia de Cuiabá e Várzea Grande.

 

 A cocaína e seus derivados - que vem matando gente, principalmente jovens de overdose, de bala, de faca, por estrangulamento, de pauladas e pedradas em crimes isolados e chacinas em Cuiabá, no Rio de Janeiro, São Paulo e outras cidades brasileiras -,  principalmente o crack entrou na vida do C.A., o “Cris”, que sozinho consome cinco gramas de crack por dia. Hoje ele é um ilustre desconhecido. Ele que nasceu em uma família classe média alta. Um rico de 34 anos de idade, 15 deles no mundo das drogas. Hoje, Cris é simplesmente um morador de rua, que abandonou os filhos e os pais por causa das drogas. Drogas pesadas como o crack, que ele usa enquanto trabalha lavando e guardando carros no “Corredor do Pó”.

O homem ainda jovem, mas de aparência idosa, não pelo tempo, mas pelos maus-tratos da violência das drogas, da fome, da sede, de um bom banho e das noites de sono mal dormidas. Ainda um pouco lúcido, ele abre o jogo e confirma: “A Avenida Rubens de Mendonça é o principal corredor de droga da Capital”. E tem mais, ele garante que a Polícia sabe quem é quem. Cris, no entanto, não cita nomes. Sobre traficantes ele silencia.
 
A reportagem do Portal de Notícias 24 Horas News conversou com exclusividade com o técnico em computação gráfica e processamento de dados, que contou sua vida normal até os 19 anos quando usou pela primeira vez cocaína até se viciar em crack, quando ainda morava em Polatina, no Paraná.
 
Divorciado em um casamento sem filhos, Cris, no entanto, tem dois filhos com antigas namoradas. Um deles, o jovem Gabriel, de 18 anos. O jovem é nada mais, nada menos que um campeão Brasileiro de Taekwondo. Ele também é pai da pequena Nátaly, de 10 anos. Os dois filhos de Cris moram em diferentes cidades de São Paulo, e também são filhos de mães diferentes. Mas apesar de tudo, Cris garante que seus rebentos ainda são uma pequena luz no final do túnel. E como seus orgulhos, também representam um pequeno fio de esperança de uma vida que agora caminha do nada para o nada.

Cris não esconde que sente muitas saudades dos filhos e dos pais. A mãe, empresária e doutora em Administradora de Comércio Exterior, e o pai, contador e empresário, já fizeram de tudo para que o filho largasse a droga. De uma vida rica, ele se transformou em um homem que vive e dorme na rua, não por falta de opção por outra vida, mas pela escravidão do vício.

Tanto é verdade, que Cris já passou por 16 clínicas de recuperação particulares e do governo, mas em  nenhuma delas ele conseguiu ajuda suficiente para mudar sua vida. Cris admite que também nunca fez muito esforço para deixar o vício, mesmo sabendo que  pode morrer a qualquer momento.

“Morro de saudades dos meus filhos e dos meus pais. Só que, o vício sempre falou mais alto e eu não consigo largar tudo e mudar de vida. Bicho é difícil. Por isso eu não recomendo a ninguém que pelo menos experimente. Não experimente. Não entre, caso contrário você estará  entrando num beco sem saída. Pior é que eu sei disso, mas a doença é mais forte”, admite.

Falando de sua vida como se estivesse descrevendo um filme, Cris para um pouco ao lembrar de um detalhe depois da pergunta da reportagem: Você já tem passagem pela Polícia? Em outra pausa o usuário baixa a cabeça como se estivesse tendo alucinações.

“Não. Não tenho nenhuma passagem pela Polícia. Aliás, graças a Deus eu até hoje carrego comigo esse orgulho. Uso muita droga. Já usei maconha não gostei muito. Já usei cocaína, e agora estou queimando a pedra do crack com a pasta base. Sou viciado. Aliás, uso droga o dia inteiro, mas não roubo ninguém”, afirma Cris.

O usuário lembra ainda que entre um trabalho e outro dá uma “tragadinha” na “marica” - cachimbo artesanal -, e volta para o trabalho que ele chama de “trampo”. “Eu ralo pra caramba. Passo fome, durmo na rua, pois até que ganho um bom dinheirinho, mas a droga é que é o meu mal. Queimo crack mas não mexo com o que é dos outros. Isso eu aprendi com a minha família”.

O jovem-moço-velho. Aparência que adquiriu pela grande quantidade de droga, principalmente de crack que usa todos os dias, não quis nem comentar sobre os fornecedores de drogas na Avenida Rubens de Mendonça, também conhecida como “Avenida do CPC”, que avança para se tornar a “Avenida Paulista” de Cuiabá”, mas garantiu que em menos de três anos como morador de rua da Capital, pode afirmar que o “pó corre solto, dia e noite.

“A gente só usa, mas não conhece ninguém. Aliás, não tem nem como. Os  grandões não passam por aqui e por lugar nenhum. Eles só mandam, e cada hora vem um diferente. Aliás, a gente nem liga para isso mesmo. Nós queremos e comprar e usar e nada mais. Só sei dizer que aqui é um dos principais corredores de pó dessa cidade quente por natureza, linda e maravilhosa porque também tem muito calor humano”, brinca.

Sobre a Polícia - pelo local circulam centenas de viaturas, todos os dias, dia e noite -, Cris também não quis se envolver muito no assunto. Cris também não quis falar sobre os “guetos” que circundam e cortam a Avenida Rubens de Mendonça, tanto pelo lado que demanda para os bairros Araés-Miguel Sutil-Consil-Alvorada, quanto para o lado dos bairros Bosque da Saúde-Canjica com acesso ao Pedregal e ao Jardim Leblon.

 “Olha meu caro repórter. Minha vida sempre foi um túmulo. Não gosto de abrir muito a boca não. Estou conversando contigo porque fui com a tua cara e sei que o que eu falar tu vai escrever. Portanto, não posso falar nada sobre polícia. A única coisa é eu sei é que ela sabe quem é quem na história”, concluiu Cris.

GUERRA URBANA

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Tráfico e sangue na
luta contra o medo

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Não é de hoje que a população brasileira se esconde com medo da violência e dos crimes urbanos. O tráfico de drogas, os seqüestros e a marginalidade estão presentes na história do Brasil há muito tempo. Nos anos 1990, episódios brutais mancharam de sangue o Brasil, e fizeram a violência urbana no país ser destacada em toda a imprensa internacional. O primeiro massacre ocorreu em julho de 1993, quando sete crianças de rua foram mortas em frente à Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro.

Houve aqueles que aplaudiram o fuzilamento de meninos e meninas usuáras de drogas e moradoras de rua, mas a história ficaria para sempre na memória do brasileiro como um dos atos mais violentos da história do país. Apenas dois meses depois, nova matança no Rio: uma quadrilha de PMs integrantes de um grupo de extermínio invade a favela de Vigário Geral com armamento pesado e massacra 21 inocentes.
 
Em Cuiabá, no bairro Altos da Serra -  periferia da Capital -, no final da década de 90, a Polícia registrou várias chacinas, uma delas ainda marcada e lembrada. Seis pessoas, todas envolvidas com tráfico e com uso de drogas foram executadas a tiros, facadas e pauladas. Duas crianças foram poupadas pelos matadores.

Matando, principalmente jovens, a violência das drogas e das balas não escolhem lugar. Ainda em Cuiabá, três meninos de menos de 12 anos foram fuzilados na chacina conhecida como "Beco do Candeeiro". As pequenas vítimas estavam envolvidas em pequenos furtos, cujo dinheiro usavam para comprar cola de sapateiro.

 As notícias sobre a corrupção dentro da polícia e o envolvimento das autoridades com o crime eram e são cada vez mais freqüentes. Já não é mais possível confiar na Polícia, como mostrou o episódio da Favela Naval, Diadema, na Grande São Paulo. Otávio Lourenço Gambra era tido como um policial modelo. Até o dia em que uma fita gravada por um cinegrafista amador mostrou Gambra no comando de um grupo de policiais que se divertia batendo e extorquindo quem passava.
 
 Num dado momento, depois de tomar o dinheiro de uma turma de amigos que voltava para casa num Gol, o PM deu dois disparos na direção do carro, que se afastava. Atingido pelos tiros, o conferente Mário José Josino morreu ao chegar ao hospital. Gambra era conhecido pelo apelido de Rambo. Era o fortão que, ao lado dos comparsas, costumava humilhar, agredir e roubar.
 
O CRACK

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Uma droga devastadora
com raiz na América do Sul
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O crack é preparado a partir da extração de uma substância alcaloide da planta Erythroxylon coca, encontrada na América Central e América do Sul. Chamada benzoilmetilecgonina, esse alcalóide é retirado das folhas da planta, dando origem a uma pasta: o sulfato de cocaína. Chamada, popularmente, de crack, tal droga é fumada em cachimbos.

Cerca de cinco vezes mais potente que a cocaína, sendo também relativamente mais barata e acessível que outras drogas, o crack tem sido cada vez mais utilizado, e não somente por pessoas de baixo poder aquisitivo, e carcerários, como há alguns anos. Ele está, hoje, presente em todas as classes sociais e em diversas cidades do país. Assustadoramente, hoje cerca de aqlguns milhões pessoas de todas as classes sociais são dependentes, somente no Brasil.

Tal substância faz com que a dopamina, responsável por provocar sensações de prazer, euforia e excitação, permaneça por mais tempo no organismo. Outra faceta da dopamina é a capacidade de provocar sintomas paranóicos, quando se encontra em altas concentrações.

Perseguindo esse prazer, o indivíduo tende a utilizar a droga com maior frequência. Com o passar do tempo, o organismo vai ficando tolerante à substância, fazendo com que seja necessário o uso de quantidades maiores da droga para se obter os mesmos efeitos.
 
 Apesar dos efeitos paranóicos, que podem durar de horas a poucos dias e pode causar problemas irreparáveis, e dos riscos a que está sujeito; o viciado acredita que o prazer provocado pela droga compensa tudo isso.
 
 Em pouco tempo, ele virará seu escravo e fará de tudo para tê-la sempre em mãos. A relação dessas pessoas com o crime, por tal motivo, é muito maior do que em relação às outras drogas; e o comportamento violento é um traço típico.
 
Neurônios vão sendo destruídos, e a memória, concentração e autocontrole são nitidamente prejudicados. Cerca de 30% dos usuários perdem a vida em um prazo de cinco anos – ou pela droga em si ou em consequência de seu uso (suicídio, envolvimento em brigas, “prestação de contas” com traficantes, comportamento de risco em busca da droga – como prostituição, etc.). Quanto a este último exemplo, tal comportamento aumenta os riscos de se contrair AIDS e outras DSTs e, como o sistema imunológico dos dependentes se encontra cada vez mais debilitado, as consequências são preocupantes.
 
Superar o vício não é fácil e requer, além de ajuda profissional, muita força de vontade por parte da pessoa, e apoio da família. Há pacientes que ficam internados por muitos meses, mas conseguem se livrar dessa situação.






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