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Nacional
Quinta - 24 de Novembro de 2011 às 20:16
Por: Camila Neumam

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O câncer de estômago é o segundo tumor mais frequente entre os homens que vivem nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. Proporcionalmente, essa incidência é maior do que nas demais regiões do país, nas quais o mesmo tumor ocupa a quarta posição entre seus habitantes do sexo masculino.

As informações fazem parte da publicação Estimativa 2012 – Incidência de Câncer no Brasil, do Inca (Instituto Nacional do Câncer), divulgada nesta quinta-feira (24). Para o ano de 2012, o Inca estima que 520 mil casos novos de câncer surjam em todo o país.

Em 2012, estima-se que 20.090 pessoas devam ser acometidas pela doença em todo o país, destas a grande maioria de homens (12. 670) e o restante de mulheres (7.420). Em todo o Brasil, o número de casos caiu em relação ao ano passado, assim como sua prevalência em homens. Em dados do Inca de 2010/2011, a previsão era de que 21.500 casos, sendo, a época, o terceiro tipo de tumor mais comum nos homens.

Na população masculina brasileira, a doença fica atrás apenas do câncer de próstata (62,54 por 100 mil/hab.), traqueia, brônquio e pulmão (17,90 por 100 mil/ hab.) e cólon e reto (14, 75 por 100 mil/ hab.).

Já nas regiões Norte (10,67 por 100 mil/hab.) e no Nordeste, (8,99 por 100 mil/hab.), a ocorrência de câncer de estômago chega à segunda colocação entre os homens por diferentes motivos, em geral socioeconômicos, segundo especialistas consultados pelo R7.

Coeficientes de Incidência estimados para 2012* para os tipos de câncer mais frequentes
(exceto pele não melanoma) em homens, Brasil e regiões geográficas

 

 
 
  Brasil Região
Norte
Região Nordeste Região
Centro-Oeste
Região
Sudeste
Região
Sul
Próstata (62,54) Próstata (29,72) Próstata (43,08) Próstata (74,65) Próstata (77,89) Próstata (68,36)
Traqueia, Brônquio e Pulmão (17,90) Estômago (10,67) Estômago
(8,99)
Traqueia, Brônquio e Pulmão (16,64) Cólon e Reto (22,12) Traqueia, Brônquio e Pulmão (37,02)
Cólon e reto (14,75) Traqueia, Brônquio e Pulmão (8,11) Traqueia, Brônquio e Pulmão (8,52) Cólon e Reto (14,30) Traqueia, Brônquio e Pulmão (19,73) Cólon e Reto (18,07)
Estômago (13,20) Cólon e Reto (3,99) Cavidade Oral (6,15) Estômago (13,84) Estômago (15,52) Estômago (15,72)
Cavidade Oral (10,41) Leucemias (3,54) Cólon e Reto (5,31) Cavidade Oral (8,58) Cavidade Oral (14,61) Esôfago
(15,27)

 

Fonte: *por 100 mil habitantes
MS/INCA/ Estimativa de Câncer no Brasil, 2011/ MS/INCA/Conprev/Divisão de Informação e Análise de Situação

Bactéria e falta de saneamento são fatores de risco

O câncer de estômago tem como base a infecção pela bactéria Helicobacter pylori (a mesma da gastrite), facilmente encontrada em água contaminada e em alimentos sem refrigeração adequada.

Outro fator que contribui para o surgimento desse tipo de câncer é uma alimentação com alto consumo de alimentos industrializados, defumados, com corantes e conservados em sal, a exemplo da carne seca e de outros alimentos curtidos muito disseminados nessas regiões, explica o oncologista Felipe José Fernandez Coimbra, diretor do núcleo de cirurgia abdominal do hospital A. C. Camargo, em São Paulo.

- Sabe-se que o câncer de estômago está muito ligado a costumes alimentares das regiões e sua incidência é maior nos países em desenvolvimento do que nos desenvolvidos. Está ligado ao baixo consumo de frutas, alta ingestão de carne vermelha e de alimentos em conserva que liberam uma substância cancerígena chamada nitrosamina.

De acordo com Luiz Porto Pinheiro, presidente do Comitê Estadual de Controle do Câncer do Ceará, a falta de saneamento básico e mesmo de geladeira em muitas casas do Estado contribui para aumentar o risco de adquirir a bactéria.

- Provavelmente os mecanismos de contaminação são mais comuns no Norte e Nordeste porque somos a área do Brasil com  menos saneamento básico.

Pinheiro dá como exemplo um trabalho realizado na Rússia onde o eletrodoméstico foi doado pelo governo para diminuir os casos da doença. O alimento congelado protege contra a contaminação pela bactéria.

"Essa realidade faz com que a doença seja mais comum nas cidades interioranas do que nas capitais e mais mortal do que o câncer de próstata, o campeão de incidência entre os homens no Ceará e nos demais Estados nordestinos", diz Pinheiro.

No Pará, Estado com maior prevalência de casos de câncer de estômago da região Norte, médicos estão indo às escolas municipais para alertar à população sobre os riscos, afirma o oncologista Antenor Madeira, coordenador da Rede Paraense de Controle de Câncer. 

 - A falta de uma alimentação adequada, sem frutas e verduras, é o fator principal, sem considerar fatores genéticos, o que acomete principalmente as regiões mais pobres. 


Mulheres sofrem com outros fatores de risco

Já entre as mulheres, o câncer de estômago é o sexto mais frequente no Nordeste e o quinto na região Norte, pelos dados do Inca. A causa dessa diferença, no entanto, não é consenso entre os especialistas.

De acordo com Pinheiro, a mulher nordestina está mais em contato com fatores de risco que causam outros tipos de câncer, como o de colo do útero e de mama, mexendo nos números da "balança".

- Há que se considerar aí um aspecto socioeconômico. O segundo lugar na mulher é o câncer de colo de útero, que está associado a menos higiene, mais pobreza e pela contaminação pelo HPV.

Já para o oncologista do A. C. Camargo, o fator genético pode levar os homens a serem mais suscetíveis à doença.

- Acredita-se que essa diferença se dê por uma questão de gênero, porque a incidência é de duas a três vezes maior entre os homens em todo o mundo.

Já foi constatado mundialmente que a pobreza em si é fator de risco da doença.

De acordo com o levantamento, a região Norte lidera com 11 casos por 100 mil habitantes, seguido por Nordeste com 9 casos para cada 100 mil, 16 casos na região Sul, 15 no Sudeste e 14 no Centro-Oeste.

Como se prevenir?

Comer mais frutas e verduras, higienizar os alimentos e evitar enlatados, além de fazer exames periódicos, podem ajudar na prevenção e na descoberta precoce de um tumor no estômago, explica o oncologista.

Segundo ele, a doença tem um caráter letal no Brasil porque geralmente é descoberta em estágio muito avançado.

- Só 10% a 15% [dos pacientes] chegam ao especialista para tratar o tumor precoce no Brasil. Enquanto no Japão e na Coreia, países com os maiores índices da doença no mundo, cerca de 60% chegam na fase inicial.

A doença é descoberta por meio da endoscopia digestiva alta, geralmente realizada quando há desconforto abdominal intenso e queixas de gastrite e úlcera, sintomas que, costumam mascarar a doença.

Dado o diagnóstico, se faz a cirurgia para retirar o tumor e quimioterapia como procedimento padrão, explica Coimbra.

Estimativa do número de casos novos, segundo sexo, Brasil, 2012

 

 
Localização Primária Casos novos %
Próstata 60.180 30,8
Traqueia, Brônquio e Pulmão 17.210 8,8
Cólon e Reto 14.180 7,3
Estômago 12.670 6,5
Cavidade Oral 9.990 5,1
Esôfago 7.770 4
Bexiga 6.210 3,2
Laringe 6.110 3,1
Linfoma não Hodgkin 5.190 2,7
Sistema Nervoso Central 4.820 2,5
Leucemias 4.570 2,3
Pele Melanoma 3.170 1,6
Outras Localizações 43.120 22,1
Todas as Neoplasias sem pele*  195.190  
Todas as Neoplasias 257.870  
 




Fonte: Do R7

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Localização Primária Casos novos %
Mama feminina 52.680 27,9
Colo do útero 17.540 9,3
Cólon e Reto 15.960 8,4
Glândula Tireoide  10.590 5,6
Traqueia, Brônquio e Pulmão 10.110 5,3
Estômago 7.420 3,9
Ovário 6.190 3,3
Corpo do útero 4.520 2,4
Linfoma não Hodgkin  4.450 2,4
Sistema Nervoso Central 4.450 2,4
Cavidade Oral 4.180 2,2
Leucemias 3.940 2,1
Pele Melanoma 3.060 1,6
Bexiga 2.690 1,4
Esôfago 2.650 1,4