O ex-ministro José Dirceu esteve em Porto Alegre (RS) para lançar seu livro ’Tempos de Planície’. (Foto: Daniel Favero/Terra)
O ex-ministro da Casa Civil do governo Lula José Dirceu (PT), apontado como um dos "cabeças" do esquema de distribuição de propina que ficou conhecido como mensalão, criticou o que considera "pré-julgamento" e "linchamento" de ministros do governo Dilma Rousseff acusados de envolvimento em denúncias de corrupção. A declaração foi feita durante uma sessão de autógrafos para o lançamento de seu livro Tempos de Planície, na noite de sexta-feira (18) em Porto Alegre (RS).
"A única coisa que eu não aceito, nem se deve aceitar é o pré-julgamento, o linchamento, não dar presunção da inocência, não esperar o devido processo legal. Chega um ponto no qual o ministro pede para sair, a família pede para sair, como aconteceu com Orlando Silva (do PCdoB, ex-ministro do Esporte). Não há nada contra o (Carlos) Lupi (do PDT, ministro do Trabalho) especificamente na Polícia Federal, nem no Ministério Público. Há denúncias de irregularidade em convênios, de ilicitudes que precisam ser apuradas, agora, não há nada que diga que ele é o responsável", disse Dirceu, que deixou o governo de Lula sob acusações de comandava um esquema de compra de votos no Congresso.
Ele disse que as denúncias não necessariamente indicam que há envolvimento de líderes do executivo e das respectivas pastas. "O presidente Fernando Henrique Cardoso disse que o governo do presidente Lula foi um sistema de corrupção de fisiologismo. Pois bem, eu fui nos arquivos e encontrei 64 escândalos do governo dele. Isso quer dizer que o Fernando Henrique é corrupto, que o governo dele era um sistema de corrupção, que os ministros que estavam nas pastas onde ocorreram aqueles escândalos eram corruptos? Não."
Ex-ministro comemora Comissão da Verdade
Dirceu, que foi preso e torturado durante o regime militar, comemorou a criação da Comissão da Verdade - sancionada pela presidente Dilma hoje -, que vai apurar os crimes cometidos durante a ditadura, como um dos acontecimentos mais importantes de para sua geração.
"Acho que é um acontecimento histórico no Brasil. Nós devemos isso aos familiares, aqueles que lutaram desde a época da anistia pelo esclarecimento dos crimes da ditadura, para que as famílias tivessem de volta os restos mortais dos seus filhos, pais irmãos e também da presidenta, que cumpriu com a sua história, fez jus à sua biografia, e articulação política, tanto do ministro da Justiça como da articulação do governo, que conseguiu quase uma unanimidade que tivemos para aprovar essa lei", disse.
Ele defendeu ainda que apenas os repressores sejam alvo de investigação, porque quem lutou contra a ditadura já foi condenado. "Quem lutou, lutou porque estava defendendo um Estado do direto, a ordem constitucional. Estava defendendo aquilo que até a Carta das Nações Unidas garante, que é o direto de rebelião, porque o que houve no Brasil um golpe militar, uma ditadura, e os crimes que foram cometidos precisam ser apurados. Não tem nada a ver com aqueles que pegaram em armas, lutaram e defenderam. Até porque nós já fomos condenados, exilados, assassinados, outros desaparecidos. Eu fiquei 10 anos sem nacionalidade, banido do Brasil, tive que voltar clandestino para o País, fiquei 11 meses preso, e muitos com o próprio (José) Genoino foram barbaramente torturados, a nossa presidente também."
O livro
Durante a sessão de autógrafos, Dirceu aparentava bom humor e tirava fotos com todos que solicitavam. O primeiro a receber sua dedicatória foi o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), a quem o ex-ministro se referiu como "grande mestre". Durante o evento, Dirceu foi muito saudado pelo público, composto, em grande parte, por militantes do PT.
O livro reúne textos e artigos escritos por Dirceu, um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, sobre sua visão do partido, governo e das relações que estabelecidas com a sociedade.
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