Agenda eleitoral leva Obama a assumir risco
Na quarta-feira, o presidente dos EUA, Barack Obama, defenderá ante os membros das Nações Unidas a negociação direta entre Israel e Autoridade Palestina (AP) como única via para alcançar a paz na região. Dois dias depois, no Conselho de Segurança, deve vetar o reconhecimento da Palestina na ONU. Movidas por princípios, mas também por interesse eleitoral, essas escolhas empurram a Casa Branca para o isolamento, na companhia de Israel.
Obama não está preocupado com o impacto dessa sua decisão nos rumos da política externa americana. Segundo o embaixador Dennis Jett, hoje aposentado do Departamento de Estado e professor da Universidade Estadual da Pensilvânia, sua posição trará danos profundos e talvez permanentes para a ação internacional dos EUA se for acompanhada de uma decisão do Congresso ou da própria Casa Branca de cortar a ajuda financeira aos palestinos.
No final dos anos 80, a ameaça de corte foi usada pelo presidente George H. Bush para demover os palestinos de pleitear o reconhecimento de seu Estado na ONU. Hoje, essa questão está em aberto.
A visão americana da solução apenas pela negociação direta será reforçada por Obama em seu discurso na Assembleia-Geral, segundo o conselheiro-adjunto de Segurança Nacional, Ben Rhodes. A ex-secretária de Estado, Madeleine Albright, defendeu essa via ao jornal Politico, assim tem feito o Council on Foreign Relations, centro de estudos influente no governo americano.
Segundo Thomas Mann, sócio-sênior do Brookings Institution, Obama vetaria essa resolução mesmo que estivesse "com a vitória certa ou já reeleito". Apesar de Binyamin Netanyahu não ser popular nos EUA, explicou, Israel é uma democracia genuína, o que confere legitimidade a seus líderes. "Ninguém no governo e poucos no país acreditam que esse passo possa acelerar o estabelecimento de um Estado palestino viável", afirmou Mann. "Se essa questão tiver de ser resolvida, será por meio de negociações entre as partes."
Jett acredita que a política americana para o Oriente Médio está sendo guiada pelas eleições de 2012. "No primeiro mandato, o presidente dos EUA só pensa em ser reeleito. No segundo, só pensa em entrar para a História", resumiu. "A política doméstica americana é, muitas vezes, destrutiva para a política externa. Os EUA vão perder esse bonde da história", completou Jett, que serviu na embaixada em Israel.
Obama está na primeira fase e, com o desconforto da economia estagnada e do elevado desemprego no país, concorre a mais um mandato em 2012. Para Jett, a posição da Casa Branca sobre o pleito da Autoridade Palestina reflete o temor do presidente dos EUA de perder o voto e o apoio financeiro da fatia de 78% do eleitorado judeu conquistados em sua campanha de 2008. Os pré-candidatos republicanos já se esgueiram sobre esses eleitores, atentos a qualquer indisposição da Casa Branca em relação a Israel. Em especial, o governador do Texas, Rick Perry.
Inevitavelmente, a negociação entre israelenses e palestinos seria uma alternativa para Obama "entrar para a história" em seu eventual segundo governo e justificar seu Prêmio Nobel da Paz de 2009. No atual mandato, a Casa Branca mostra-se desgastada pelos recuos de Israel na tentativa de relançamento das negociações diretas em setembro de 2010. Em seu discurso sobre Oriente Médio, em maio, Obama defendeu a solução dos dois Estados e, inusitadamente, a negociação com base nas fronteiras de 1967 - ou seja, a retirada de Israel de áreas-chave na Cisjordânia. Pouco antes de deixar o posto de secretário da Defesa, Robert Gates acusou Netanyahu de ser "um ingrato", diante da ajuda militar americana. Em uma reunião do Conselho de Segurança Nacional, conduzida por Obama, Gates também advertiu para o fato de Netanyahu lançar seu país em um perigo maior ao manter Israel isolado e ao pretender controlar a Cisjordânia.
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