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Ciência/Pesquisa
Sábado - 13 de Agosto de 2011 às 09:06

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Em termos da evolução humana, muita coisa dependeu da bondade de estranhos. Nossa espécie é particularmente cooperativa. Ajudar outras pessoas é uma ação rotineira – sejam parentes ou estranhos – mesmo quando não recebemos uma recompensa ime­­diata.

A preocupação que os humanos têm pelos outros faz parte dos alicerces das sociedades complexas, de vizinhos a nações. Os cientistas têm se perguntado há quanto tempo nosso comportamento pró-social evoluiu. Em estudo pu­­blicado nesta semana em Proce­­edings of the National Academy of Sciences, uma equipe de pesquisadores da Universidade Emory aborda essa questão estudando os chimpanzés, um de nossos parentes vivos mais próximos.

Ao contrário de testes laboratoriais anteriores, os cientistas da Emory concluíram que os chimpanzés realmente estão dispostos a fazer favores pelos ou­­tros. Por­­tanto, nosso comportamento pró- social pode remontar a vários mi­­lhões de anos. “Esses novos resultados sugerem que os chimpanzés podem ajudar os outros de for­­ma proativa simplesmente porque entendem que eles precisam de ajuda”, disse Brian Hare, antropólogo da Universi­­dade Duke.

Os pesquisadores da Emory decidiram levar o estudo a cabo por causa de uma contradição na literatura científica. Al­­guns ex­­perimentos de laboratório com chimpanzés falharam ao mostrar a disposição em ajudar, mas primatólogos que observavam chim­­­­panzés na natureza selvagem vi­­ram muitos exemplos do que pa­­recia ser ajuda.

“Eles dividem comida e se ajudam em brigas – havia um grande descompasso entre o que estava acontecendo em campo e no la­­boratório”, afirmou Victoria Horner, principal autora do estudo. Ela e seus colegas suspeitaram de que o formato dos primeiros estudos de laboratório fosse complexo demais para os chimpanzés en­­tenderem. “Parecia-nos que os chimpanzés não compreendiam o que estava acontecendo”, disse Horner. Eles formataram o que acreditam ser uma experiência muito mais simples.

Num estudo anterior, eles treinaram chimpanzés cativos a lhes dar fichas coloridas em troca de comida. Para o presente estudo, eles usaram as fichas para que sete fêmeas tivessem a chance de ajudar colegas chimpanzés. Em cada experimento, dois chimpanzés se sentavam um ao lado do ou­­tro, capazes de se verem em jaulas adjacentes.

Elas receberam 30 fichas, me­­tade de uma cor e me­­tade da ou­­tra. Se um chimpanzé desse aos cientistas uma ficha de determinada cor, recebia um pacote de comida e o parceiro fi­­cava sem nada. Se desse da outra, ambos comeriam. Pela previsão dos cien­­tistas, se os chimpanzés não se importassem com o bem-estar de seus similares, eles pegariam as duas cores com a mesma frequência. Não foi o que ocorreu.

Todas as fêmeas mostraram maior probabilidade de escolher a cor generosa, em 66,7% das ve­­zes. Elas não demonstraram pre­­ferência por parentes sobre chimpanzés não aparentados. Os pesquisadores também efetuaram sessões de controle, nas quais os chimpanzés ganhavam comida somente para si mesmos, indepen­­dentemente da cor escolhida. Nes­­sas sessões de controle, não havia tendência na es­­colha de cores.

“Isso agora tem a ver com as evidências vistas na natureza selvagem”, disse Hor­­ner. Ela especula que o humano que ajudava evoluiu a partir do tipo de tendência que ela e os co­­legas veem nos chimpanzés, à medida que a probabilidade de ajudar aumentou em nossos an­­cestrais.

“Não quer dizer que te­­nhamos uma habilidade única, mas o número de exemplos de quando o fazemos é completamente diferente”, assegurou.

Habilidade

Vários especialistas elogiaram Horner e seus colegas. “Pela primeira vez, eles conseguiram du­­plicar o que os pesquisadores de campo já sabiam ser uma habilidade natural dos chimpanzés”, declarou Christophe Boesch, primatólogo do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária, da Alemanha.

Já Michael Tomasello, também do Instituto Max Planck, achou que o estudo tem um formato deficiente. “Os resultados não são interpretáveis”, afirmou. Ele observou que os cientistas da Emory realizaram as sessões de controle após as experimentais. “Talvez os chimpanzés estivessem somente cansados de escolher entre dois tipos de comida quando ocorreram as sessões de controle”. Tomasello e seus colegas publicaram experimentos próprios sobre o comportamento pró-social em chimpanzés, o mais recente na edição de julho da Nature.

Sua pesquisa o levou a uma conclusão diferente da de Horner. “Os chimpanzés se ajudam, mas não abrem mão de comida para que outros possam comer”, disse Tomasello. “Assim, eles são pró-sociais quando não é custoso, mas quando é, não são tanto assim”






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