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Politica Brasil
Sexta - 05 de Agosto de 2011 às 09:58

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Em meio à onda de denúncias de corrupção atingindo vários órgãos federais, a presidente Dilma Rous­­­seff teve ontem de demitir um ministro não devido a irregularidades, mas por causa de uma crise provocada por excessos verbais. Nelson Jobim, agora ex-ministro da Defesa, foi obrigado a pedir exoneração após ter dado uma entrevista à revista Piauí em que fazia críticas às ministras Gleisi Hoff­­mann (Casa Civil) e Ideli Salvatti (Relações Institu­­­cionais). O ex-ministro das Re­­­lações Exteriores Celso Amorim foi convidado para a Defesa e aceitou. A posse ainda não tem data marcada.

Jobim é o terceiro ministro a cair em apenas sete meses de governo (os outros foram Antonio Palocci, da Casa Civil, e Alfredo Nascimento, dos Transportes).

Repercussão

Para Gleisi, declaração é “irrelevante”

A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, considerou “irrelevante” a declaração de Nelson Jobim, segundo fontes do Palácio do Planalto. Em entrevista à revista Piauí, Jobim disse que a ministra nem “sequer conhece Brasília”.

Já ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, procurou não polemizar com Jobim, embora tenha criticado a postura dele. Jobim afirmou que Ideli era “fraquinha”. “O ministro da Defesa talvez devesse se conter um pouquinho. Acho que tem declarações que não são necessárias”, disse ela. Mas o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), foi indelicado ao tentar defender Ideli. “A Ideli é até bem gordinha, não é bem fraquinha”, disse o senador.

As frases que derrubaram o ministro:

“O que se percebe hoje, Fernando, é que os idiotas perderam a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento.”

Durante discurso, no dia 31 de junho, em homenagem aos 80 anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Apesar de Jobim dizer que se referia a jornalistas, petistas entenderam como um recado a governistas.

“Eu votei no Serra. (...) [A relação] azeda quando você esconde. Eu não costumo fazer dissimulações, então não tenho dificuldades.”

Em entrevista à TV UOL, em 27 de julho, admitindo seu voto em José Serra na eleição de 2010 e dizendo que não escondeu o fato da presidente Dilma Rousseff.

“É muita trapalhada. A Ideli é muito fraquinha e Gleisi nem sequer conhece Brasília.”

Em entrevista à revista Piauí deste mês, criticando as ministras Ideli Salvatti, das Relações Institucionais, e Gleisi Hoffmann, chefe da Casa Civil.

Amorim terá de enfrentar agenda polêmica no Ministério da Defesa

O sucessor de Nelson Jobim no Ministério da Defesa, Celso Amorim, enfrentará uma agenda polêmica e as turbulências criadas pelo confronto entre o ex-ministro e o núcleo do governo Dilma Rousseff. Além do impasse com as Forças Armadas com a criação da Comissão da Verdade para apurar crimes cometidos pela ditadura militar (1964-1985), o ex-ministro negociava com o Planalto uma demanda de aumentos salariais para Exército, Marinha e Aeronáutica – algo que o Planalto vem dando mostras de que não pretende atender em plena fase de contenção de despesas.

Nas últimas semanas, Jobim vinha se desgastando ao dar declarações polêmicas que estavam desagradando Dilma, o PT e aliados (veja as frases ao lado). A gota d’água, porém, foi a entrevista cujo conteúdo foi divulgado ontem. “É muita trapalhada, a Ideli é muito fraquinha e Gleisi nem sequer conhece Brasília”, disse Jobim, em trecho da reportagem da Piauí.

Jobim negou ter feito a afirmação contra as ministras, que são da cota pessoal de Dilma. Disse que tudo fazia parte “de um jogo de intrigas”. “Em momento algum eu fiz referência dessa natureza”, disse ele. Já em nota publicada na página do Ministério da Defesa na internet, Jobim disse que a declaração foi tirada do contexto.

A revista informou que a polêmica frase foi dita, na frente da repórter que preparava um perfil de Jobim, ao senador Fernando Collor (PTB-AL). Collor havia sido procurado por Jobim para negociar o projeto de lei que libera a divulgação de documentos secretos.

Sem sensibilizar

Os argumentos de Jobim, porém, não sensibilizaram a presidente Dilma Rousseff. Durante almoço com os ministros Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), Gleisi, Ideli e Helena Chagas (Comu­­nicação), Dilma disse que tinha tomado a decisão de demiti-lo.

A presidente, então, ligou para Jobim, que estava em Tabatinga (AM) para um evento oficial, o lançamento do plano de segurança nas fronteiras, em solenidade conjunta com o vice-presidente da Colômbia, Angelino Garzón . “Ou você pede para sair ou saio com você”, disse Dilma, segundo pessoas que ouviram a conversa. A presidente, então, aguardou a volta de Jobim a Brasília para encontrar-se com ele e anunciar o novo ministro.

Na carta de demissão, Jobim disse que estava se exonerando “por razões pessoais e de forma irretratável”. O texto se encerra dizendo que “foi uma honra ter servido à senhora [Dilma] e a seu governo. Seja feliz”.

Cria de Lula

Jobim era mais um ministro herdado da administração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assim como Palocci e Alfredo Nascimento. Fiador de Jobim no governo Dilma, o ex-presidente Lula disse ontem que, se forem verdadeiras, suas declarações “criam uma situação constrangedora”. E comparou Jobim com Pelé: “Jobim é o homem que tem conduzido o Ministério da Defesa com muita grandeza. Um trabalho excepcional. Mas, se até o Pelé não estiver jogando bem, o técnico tira”.

Amorim desagrada ala do PMDB e militares

A nomeação de Celso Amorim para o Ministério da Defesa tem potencial de criar dois problemas para a presidente Dilma Rousseff: um com os militares e outro com uma parte do PMDB.

Militares dos altos comandos das Forças Armadas consultados ontem pela reportagem consideraram Amorim uma escolha ruim, principalmente em função de suas posições ideológicas à esquerda. Segundo eles, Amorim contrariou “princípios e valores” das Forças Armadas nos últimos anos, quando esteve à frente do Ministério das Relações Exteriores, durante o governo Lula.

Base melindrada

A indicação de Amorim, que é filiado ao PT, também pode criar atritos com o PMDB, o principal partido da base aliada de Dilma no Congresso. O ex-ministro Jobim é peemedebista. E, embora a legenda não o considerasse como um ministro da cota do partido, por ter sido uma indicação de Lula a Dilma, o fato é que o PMDB esperava ganhar a pasta.

Ontem, alguns peemedebistas falavam que o partido não reivindicaria a indicação do substituto de Jobim. Para o cargo, segundo eles afirmaram à reportagem, deveria ser indicado um nome da escolha pessoal da presidente.

Apesar disso, outra ala do PMDB já se articulava ontem para emplacar o nome do atual ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Wellington Moreira Franco, como substituto de Nelson Jobim. Essa articulação envolveria, segundo fontes ouvida pela reportagem, o vice-presidente Michel Temer, Moreira Franco e o próprio Jobim.






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