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Esportes
Sábado - 16 de Julho de 2011 às 07:58

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Turbinados com dinheiro vindo dos cofres públicos, 60 clubes começam hoje a disputar as Séries C e D, as divisões mais baixas do Campeonato Brasileiro.

A maior dificuldade será financeira, já que a CBF não repassa verba aos times. Com pouco apoio empresarial e renda de bilheteria, cartolas batem na porta do governo.

Entre os 20 times da terceira divisão e os 40 da quarta, muitos partiram em busca de ajuda estatal para a disputa pelo acesso, que vai até o fim do ano. Os quatro melhores de cada série sobem de divisão. Os quatro últimos da Série C caem para a Série D.

No Acre, por exemplo, o governo estadual desembolsará R$ 750 mil até o fim das competições, divididos entre Rio Branco, na Série C, e Plácido de Castro, na Série D. "Ainda é pouco. Mesmo com esse dinheiro, a gente vem lutando precariamente", afirma Josué Carvalho, presidente do Plácido de Castro, clube da cidade de mesmo nome.

O Guarany, atual campeão da quarta divisão, terá R$ 650 mil do governo do Ceará e da Prefeitura de Sobral.

No Rio Grande do Norte, o governo está prestes a firmar contrato de patrocínio de R$ 525 mil com três clubes potiguares nas divisões menores. O Ministério Público Estadual, porém, recomendará que o repasse seja suspenso. E pode entrar com ação por improbidade administrativa contra o governo, conforme declarou o promotor Sílvio Brito.

"O patrocínio tem motivação política. Só serve para angariar simpatias com os torcedores dos clubes. É um voto barato que o gestor pode comprar", disse o promotor.

A recomendação, que será oficializada na próxima segunda-feira e foi obtida com exclusividade pela Folha, afirma que "fere o Princípio Constitucional da Moralidade repassar recursos públicos a empresas privadas [os clubes] sem qualquer atuação social em detrimento do interesse da coletividade".

Segundo o Ministério Público, "há evidente necessidade de serem alocados recursos públicos para suprir as deficiências nas áreas de educação, saúde, segurança, saneamento básico, esportes comunitários, lazer, entre outros."

O governo potiguar justifica o repasse. Afirma se tratar de um investimento na divulgação do Estado, que será uma das sedes da Copa-2014. Em troca do dinheiro público, América, Alecrim e Santa Cruz terão estampado em seus uniformes o nome do Estado e da capital, Natal.

A Emprotur (empresa estadual de turismo) contesta o promotor. "Consigo provar que é um investimento vantajoso", declarou Caio Magno, diretor de marketing da Emprotur. "Para cada real que o Estado investe em divulgação, voltam dez", afirma ele. "É uma divulgação que gera mídia espontânea, gera reportagem na imprensa. Quem já foi a Natal vai lembrar da cidade e pensar em ir de novo."

Por outro lado, para o governo acriano, o repasse de dinheiro público é uma estratégia para "salvar" o futebol do Estado. "Os clubes aqui não conseguem sobreviver sozinhos. A ideia é que, aos poucos, eles cortem esse cordão umbilical [com o governo] e cresçam", disse Mauro de Deus, secretário adjunto de Esporte.

As longas distâncias e a dificuldade de transporte na Amazônia são apontadas como responsáveis por aumentar os gastos dos times.

"Eles não podem tirar nem diminuir [financiamento] da saúde, saneamento básico, merenda escolar. Mas se tirar de áreas como propaganda, acho válido. Afinal, estamos representando o Estado", diz João Galvão, técnico e cartola do Águia, do Pará. O clube ainda corre atrás de conseguir algum dinheiro do governo.

Apesar de pedirem dinheiro, os próprios cartolas concordam que a dependência do governo não é a situação ideal. Reclamam, porém, que o setor privado não tem interesse em apoiar o futebol.

Nem clubes com muita torcida, que teoricamente dependeriam menos do governo, querem ficar longe do dinheiro público. O Paysandu, do Pará, já recebeu R$ 900 mil dos cofres estaduais para disputar o estadual e já busca outros R$ 300 mil para Série C.

No Amazonas, cada representante na Série D --Penarol e Nacional-- receberá R$ 1,7 milhão em patrocínio conseguido pelo governo estadual. Segundo a secretaria estadual de Esporte, o dinheiro é oriundo de duas empresas privadas: a Coca Cola e o Bradesco. O banco, porém, não confirmou o patrocínio e se limitou a dizer, através de sua assessoria de imprensa, que não comentaria o assunto. A fábrica de bebidas confirmou o patrocínio, mas não os valores.

A dificuldade em conseguir se financiar leva equipes a abdicar da disputa do Nacional. Rondônia e Roraima, por exemplo, não terão representantes em nenhuma série do campeonato. Os times desses Estados desistiram alegando não ter condições de se manter.






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