Pagot não detona ninguém
O "homem-bomba" que descontentes da base governista ameaçaram apresentar ao Senado não detonou ninguém, mas o saldo do depoimento do diretor afastado do Departamento Nacional de Infraestrutura em Transportes (Dnit), Luiz Antonio Pagot, acabou se transformando em um desafio ao Planalto. Em cinco horas de sessão, ele só distribuiu elogios à presidente Dilma Rousseff, ao casal ministerial Paulo Bernardo (Comunicações) e Gleisi Hoffman (Casa Civil) e até ao ministro demitido dos Transportes e seu sucessor Paulo Sérgio Passos. Mas deu um nó no governo, quando amarrou o destino de todos os diretores do Dnit ao seu.
Mais do que dividir responsabilidades, Pagot informou que todas as decisões sobre obras do Dnit são tomadas por um colegiado formado por ele e outros seis diretores, entre os quais o petista de Infraestrutura Rodoviária Hideraldo Caron. E mais: em sua gestão, só projetos e obras "aprovados por unanimidade" eram aprovados realizados. Foi assim que Pagot se sentiu à vontade para, ao final, contestar publicamente o ministro chefe da Controladoria Geral da União (CGU), Jorge Hage. "O Dnit não tem o DNA de corrupto".
A tática foi sutil e competente para quem tem a pretensão de permanecer no cargo. Ao detalhar as normas internas do Dnit, na abertura de sua exposição aos senadores das comissões de Infraestrutura e Fiscalização e Controle, Pagot explicou que "o órgão superior de deliberação é um Conselho de Administração", formado pelo Dnit e por representantes de diversos ministérios (Transportes, Planejamento e Fazenda).
Em seguida, relatou que a diretoria colegiada era o "órgão executivo", composto pelo diretor geral e pelos diretores executivo, administrativo e financeiro, de infraestrutura rodoviária, ferroviária e aquaviária, além do diretor de planejamento. Destacou aí, mais uma vez, que, embora o colegiado tivesse poder legal para decidir por maioria de votos, adotou a prática do consenso.
"O que não tem entendimento de todos é retirado da pauta", declarou. Deixou claro, assim, que tirar o diretor geral do Dnit e manter intacto o colegiado que tomava decisões por unanimidade é o mesmo que não mudar absolutamente nada, sobretudo em um cenário em que o novo ministro é o secretário executivo do antecessor demitido.
A oposição questionou o diretor geral do Dnit, mas a demonstração de boa vontade veio logo na abertura, quando tinha direito à exposição de 20 minutos. A pretexto de conceder ao convidado mais 5 minutos de tolerância, a presidente da Comissão de Infraestrutura, senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO), acabou dobrando o tempo do pronunciamento.
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