Dilma contraria a base e indica Ideli para a articulação política
A escolha da presidente marca mais um passo de Dilma para mostrar que tomou conta de seu governo e para ampliar a presença feminina no Planalto – algo também demonstrado pela nomeação de Gleisi Hoffmann (PT-PR) para a Casa Civil.
Nomeação da ministra pode agravar a crise, alertam deputados
Parlamentares dizem que a nomeação de Ideli Salvatti para a articulação política frustrou a base na Câmara e pode complicar a relação do Planalto com o Congresso. No Senado, Ideli virou a “pitbull” do governo
A nova ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti (PT-SC), de 59 anos, é casada e tem dois filhos. Nascida na cidade de São Paulo, fez carreira política em Santa Catarina – onde ajudou a fundar o PT no estado e foi eleita a primeira senadora da história catarinense. Sua trajetória pessoal inclui uma passagem pelo Paraná: ela é formada em Física pela UFPR.
Mas a indicação de Ideli também pode ser considerada uma decisão arriscada de Dilma, ao desprestigiar sua base na Câmara e ao nomear alguém que encontra resistências no Congresso. Ideli, quando era líder do governo Lula no Senado, ganhou o apelido de “pitbull” do Planalto em razão de seu estilo pouco amigável.
Já Luiz Sérgio, que era considerado inapto para o trabalho de articulação política, continuará na Esplanada, em um cargo menos importante: o de novo ministro da Pesca, função que era de Ideli. A troca oficial entre os dois ministros está marcada para a segunda-feira.
Fim da crise
Com a posse de Ideli, Dilma pretende encerrar a crise que culminou na demissão do ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci. A presidente também quer melhorar a interlocução com o Legislativo, que vem dando mostras de insatisfação – o que ficou claro na aprovação, pela Câmara, do texto do novo Código Florestal que desagrada o governo.
Apesar das manifestações oficiais de apoio à nova ministra da base de Dilma na Câmara, o fato é que a indicação de Ideli foi uma derrota para os deputados petistas. Eles consideravam que o Ministério das Relações Institucionais era cota da bancada, já que Luiz Sérgio é deputado licenciado. A bancada do PT tentava emplacar o nome de Cândido Vaccarezza (PT-SP), líder do governo na Câmara, como novo ministro.
Além disso, Ideli foi senadora até o ano passado – o que, nas entrelinhas da política, foi interpretado como uma forma de prestigiar o Senado ao mesmo tempo em que a Câmara perde pontos. A nomeação da também senadora Gleisi já havia indicado que o Senado está em alta no Planalto.
A escolha da ministra, embora tenha sido pessoal de Dilma, também passou pelo Senado. A presidente se reuniu ontem pela manhã com o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), e com o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL). Eles chancelaram o nome de Ideli. Mas Dilma ontem também conversou com o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), para aparar possíveis arestas e insatisfações.
A escolha de Ideli é mais um indicativo de que Dilma decidiu tomar conta do próprio governo e que, após a crise, tenta impor seu estilo à administração federal. Com a catarinense, a presidente afasta do cargo um nome da cota da bancada do PT. E Gleisi substituiu um nome ligado ao ex-presidente Lula.
Gleisi, por sinal, daqui para a frente, deve ser essencialmente a gestora de programas governamentais, como Dilma foi para o ex-presidente. E Ideli fará a ponte entre o Planalto e o Congresso.
Apesar disso, Ideli disse ontem que vai “parceirizar” a articulação política com Gleisi, ao tentar afirmar que irá dividir essa atribuição. “Imaginar que a ministra Gleisi Hoffmann vai executar apenas tarefas de gestão é desconhecer sua trajetória”, disse Ideli. Não foi o que a própria Gleisi havia afirmado quando foi nomeada. Ideli também tentou apagar a imagem de “pitbull”. “Não sei se [meu estilo] vai ser a Idelizinha paz e amor, mas vou ouvir muito; negociar muito.
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