Senador pediu criação de comissão para investigar patrimônio de diretor
Senador chama Pagot de "burro" e o compara a Palocci
O senador Mário Couto (PSDB-PA) voltou a atacar o diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit), Luiz Antonio Pagot. Novamente, ele chamou Pagot de "ladrão", acrescentando que o diretor é "burro". O político também comparou Pagot ao ex-ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, que caiu após denúncias de enriquecimento incompatível com sua realidade.
O discurso do parlamentar, nesta quarta-feira (8), foi motivado pela atitude de Pagot em encaminhar uma denúncia ao Conselho de Ética do Senado, pedindo a cassação do mandato de Couto. "Olha, Brasil, aonde chega a audácia do Pagot! O Pagot, primeiro, lesou os cofres deste Senado. Tens de devolver, para eu deixar de te chamar de ladrão, tens de devolver o dinheiro do Senado. Se tu devolveres, talvez eu não te chame mais de ladrão", declarou.
Quanto a pretensão de Pagot, o senador afirmou que o diretor do Dnit é "burro" na tentativa de cassá-lo. "Vou ter de aumentar: além de ladrão, és burro, porque tu não podes cassar o meu mandato, Pagot (...) Ora, logo tu, que o Tribunal, todos os anos, manda dizer que cometes irregularidades. Logo tu, que levastes R$ 500 mil daqui do Senado, Pagot! (...) Pagot, tu jamais vais calar a minha voz aqui. Jamais. A não ser que tu uses de outros métodos - já comecei a desconfiar", acusou o parlamentar tucano.
"Desgramado, sem-vergonha e patife"
O senador afirmou que Pagot, ao acioná-lo na Comissão de Ética, afirmando que ele proferiu contra o diretor palavras injuriosas e caluniosas, atingindo sua honra de cidadão honesto ao acusá-lo de "ladrão", tenta intimidá-lo.
"O desgramado ainda vem tentar me intimidar aqui neste Senado, o sem-vergonha, o patife! Descarado! Está aqui na minha mão: entrou no Conselho de Ética contra a minha pessoa, para calar a minha voz", disse.
Mário Couto ainda comparou Pagot a Palocci, ressaltando que ambos se enriqueceram de forma inexplicável. O senador afirmou que vai pedir a formação de uma comissão para levantar o patrimônio dele, fazendo um apelo aos demais senadores que aprovem essa comissão para investigar o diretor do Dnit.
"O Palocci vai dizer ao Pagot: Eu sou fichinha perto de ti, Pagot. Eu me sinto tão pequenininho perto de ti, Pagot (...) Esta minha luta é longa", declarou.
Mário Couto, em pronunciamentos anteriores, afirmou que Pagot era "corrupto e ladrão", e citou matérias da imprensa apontando irregularidades em 32 obras do Dnit. A denúncia contra Mario Couto no Conselho de Ética será avaliada pelo presidente do colegiado, senador Jayme Campos (DEM-MT), que decidirá se ela é procedente ou não.
Outro lado
A reportagem ligou no celular de Luiz Antônio Pagot, por três vezes, inclusive deixando recado em sua caixa de mensagem. Até a edição desta reportagem, Pagot não havia retornado a ligação e nem a mensagem deixada em seu celular, na manhã desta quinta-feira (9).
Confira o discurso de Mário Couto na íntegra:
MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA) - V. Exª é um homem que entende o Parlamento, por isso, deixa os Senadores à vontade. Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Senador Pedro Simon, V. Exª há muitos anos está neste Senado. V. Exª é um dos mais experientes Senadores deste Parlamento, Senador Pedro Simon.
Eu recebi em meu gabinete, ontem, uma notificação, se assim posso falar, da Comissão de Ética, me avisando que o Pagot - aquele Pagot, Brasil, que todos já conhecem - pede a minha cassação por decoro parlamentar.
Aloysio Nunes Ferreira (Bloco/PSDB - SP. Fora do microfone.) - O quê? Está doido?
MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA) - Eu tenho em mãos aqui. Fui comunicado, ontem, pela Comissão de Ética.
Diz ele que eu não posso mais falar no nome dele aqui.
Ora, Pagot, eu apenas falei, aqui, o que o Tribunal de Contas da União esclarece a mim, mas, Pagot, tu jamais vais calar a minha voz aqui. Jamais. A não ser que tu uses de outros métodos - já comecei a desconfiar. Aí, talvez, tu consigas, mas continuar defendendo o dinheiro público, Pagot, eu vou continuar defendendo o dinheiro público.
Olha, Brasil, aonde chega a audácia do Pagot!
O Pagot, primeiro, lesou os cofres deste Senado.
Tens de devolver, para eu deixar de te chamar de ladrão, tens de devolver o dinheiro do Senado. Se tu devolveres, talvez eu não te chame mais de ladrão. Agora, o pior é que vou aumentar ainda mais a frase, Pagot. Vou ter de aumentar: além de ladrão, és burro, porque tu não podes cassar o meu mandato, Pagot.
Ora, logo tu, que o Tribunal, todos os anos, manda dizer que cometes irregularidades. Logo tu, que levastes R$500 mil daqui do Senado, Pagot!
Aí, ele diz assim, na representação dele, Brasil:
Dos Fatos - O Senador Mário Couto Filho por reiteradas vezes na tribuna do Senado Federal, afrontando este local sagrado da democracia brasileira, proferiu palavras injuriosas e caluniosas contra a pessoa de Luís Antônio Pagot, atingindo assim a sua honra, em seu aspecto objetivo e subjetivo, de cidadão honesto [dá vontade de rir], trabalhador (...)
Senador Jayme Campos, tu que és lá da terra do Pagot, ele está dizendo, aqui, que eu ofendi a honra dele, que ele é um homem honesto e trabalhador. Só vendo a tua fortuna, Pagot.
Disseram-me na rua, fala-se por aí, e o Palocci e o Pagot dão o mesmo caldo: "Olha, Senador Mário Couto, o Palocci tentou imitar Cristo." Falei: "Não!" "Ele tentou imitar Cristo."
Cristo fez o milagre da multiplicação dos pães.
Cristo pegou cinco pães - Pagot e Palocci, a mesma coisa -, multiplicou para cinco mil e serviu àqueles que o escutavam.
Isto foi o Senador Ataídes que me trouxe das ruas: o Palocci tentou imitar, fazer o milagre da multiplicação. Em pouco tempo, Palocci multiplicou o real. Só que ele cometeu um grande equívoco: conseguiu o milagre da multiplicação do real, mas não fez como Cristo. Cristo conseguiu e deu para as pessoas; Palocci ficou com o real para si. A mesma coisa, o Pagot.
Olha, Pagot, olhando para Cristo, eu diria assim: Cristo, afaste de mim esse cálice. Que eu nunca possa ser contaminado, na minha vida, meu Pai, pelas atitudes do Palocci e do Pagot.
O Tribunal de Contas da União aponta irregularidades graves em 32 obras do DNIT. O órgão que mais cometeu irregularidades, de toda a Administração Pública brasileira, é aquele dirigido pelo Pagot.
Esse homem tem muita força neste Governo, Senador Aloysio. Esse homem faz o que quer com o dinheiro público. Esse homem já me levou por quatro vezes ao Supremo, tentando calar a minha voz. Agora, entra no Conselho de Ética do Senado para cassar o meu mandato.
Pagozinho, não vai ser por aí, Pagozinho. Tu não vais conseguir cassar o meu mandato assim.
Ele é muito bem protegido.
Nação brasileira, eu nunca vi um cidadão com tanto relacionamento. Esse cidadão é poderoso.
Esse cidadão é milionário!
Ora, calculem o apartamento do Palocci. Esse aí, é só mandar uma comissão, eu vou pedir agora, vou pedir a formação de uma comissão para levantar o patrimônio do Sr. Pagot.
O Sr. Palocci vai dizer ao Pagot: "Eu sou fichinha perto de ti, Pagot. Eu me sinto tão pequenininho perto de ti, Pagot."
Precisamos, Senadores, precisamos, meu Presidente, imediatamente, formar uma comissão de Senadores para levantar o patrimônio do Sr. Pagot. Tentei isso por várias vezes, Aloysio. Esta minha luta é longa. Já se vão, aí, quase quatro anos lutando para mostrar quem é o Sr. Pagot à Nação brasileira, mas esse homem é forte, esse homem é protegido! Às duas horas da madrugada tiraram as assinaturas da CPI, arquivando a CPI aqui.
Ninguém toca nesse homem! Isso é um mau exemplo à Nação brasileira, isso é um mau exemplo para os administradores brasileiros! Se não pega nada com o Palocci, todo mundo pode fazer o que quiser nesta Nação! Isso é uma vergonha! E o desgramado ainda vem tentar me intimidar aqui neste Senado, o sem-vergonha, o patife! Descarado! Está aqui na minha mão: entrou no Conselho de Ética contra a minha pessoa, para calar a minha voz.
A Globo, Pagot, o jornal O Globo, Brasil, mandou fazer um levantamento em 333 obras do DNIT.
Brasil, todas, todas tinham irregularidades. Todas!
(Interrupção do som.)
MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA) - Se um dia Pagot - eu vou descer, Presidente -, você conseguir provar que é honesto, não precisa tu entrares na Comissão de Ética; prova que tu és honesto que eu peço a minha retirada daqui deste cenário. Eu mesmo a peço, Pagot! Se tu provares que tu és honesto, não precisa tu entrares no Supremo nem tentares cassar o meu mandato aqui. Eu mesmo peço para sair. Agora, tu não vais me impedir nunca. Em cansei de te chamar de corrupto, cansei. Por isso eu troquei a palavra para ladrão. E agora eu posso te chamar de um ladrão burro, porque tu expões a tua riqueza e tu tentas cassar um Senador da República, quando tu não conheces as leis. Mas tudo é a tática da intimidação.
Pensas tu, Pagot, que estás lidando com um covarde? Já era tempo de tu saberes que o Senador Mário Couto não é covarde! Que o Senador Mario Couto não vai parar nunca de proteger aqueles que pagam os seus impostos! É, Pagot, este é o pior bandido que tem: é aquele que rouba o bolso do pobre brasileiro que paga os seus impostos em dia. É esse dinheiro, Pagot, é exatamente esse dinheiro que eu quero proteger desta tribuna. Esse dinheiro que tu desvias, Pagot, comprovado pelos Tribunais, esse dinheiro é do povo brasileiro, Pagot! Esse dinheiro é da Nação! Esse dinheiro é para melhorar as estradas brasileiras, Pagot! Nunca para o teu bolso.
Esse dinheiro é para a saúde, para a educação brasileira, para manter a segurança deste País, para as estradas, Pagot, que estão todas danificadas neste País. Sequer pode-se indicar uma estrada que esteja boa, com exceção das terceirizadas.
E ninguém o tira. Não tem Dilma, não tem ninguém que tenha a coragem de tirar o Pagot do cargo. O homem está completamente protegido. Não sei por quê? O povo brasileiro sabe. Eu sei também. Eu sei o porquê, e o povo brasileiro sabe por que o Pagot está tão blindado assim.
Senador Ataídes, com muita honra.
Ataídes Oliveira (Bloco/PSDB - TO) - Meu notável Senador Mário Couto, volto a repetir: sou um "chegante" nesta Casa. E vejo que um pedido de cassação do nobre Senador é meramente uma brincadeira incabível, do meu ponto de vista, vez que estamos em um regime Democrático de Direito, e que, nós Senadores, temos todo o direito de expor as nossas ideias de forma clara e sucinta. E, dessa forma, é o que vejo que o nosso Senador sempre tem colocado desta tribuna. Percebo, meu caro Senador, que V. Exª é um homem de atitude, muita atitude. E o povo brasileiro é carente de homens de atitude como V. Exª. Pode ter certeza, nobre Senador, que se o povo brasileiro pudesse ter acesso a esta tribuna, nessas últimas semanas, faria das suas palavras as palavras deles. Não tenho dúvida disso. Então, eu admiro sempre o meu nobre companheiro Mário Couto. Parabéns, Senador.
MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA) - Obrigado, Senador.
Só mais dois minutos, e eu concluo, Sr. Presidente.
Senador Alvaro.
Alvaro Dias (Bloco/PSDB - PR) - Senador Mário Couto, apenas uso deste aparte para, mais uma vez, transmitir a solidariedade da bancada do PSDB. V. Exª tem o direito de dizer o que desejar dizer desta tribuna, mesmo que não concordemos. É um direito de V. Exª. Veja o que diz o Ministro Celso de Mello: "A garantia constitucional da imunidade parlamentar em sentido material (Constituição Federal, art. 53, caput) exclui a possibilidade jurídica de responsabilização civil do membro do Poder Legislativo por danos eventualmente resultantes de suas manifestações orais ou escritas, desde que motivadas pelo desempenho do mandato ou externadas em razão deste, qualquer que seja o âmbito espacial em que se haja exercida a liberdade de opinião, ainda que fora do recinto da própria Casa Legislativa, independentemente dos meios de divulgação utilizados nestes, incluídas as entrevistas jornalísticas". Portanto, V. Exª é livre. V. Exª tem a Constituição a defendê-lo. É uma bobagem representar contra um Parlamentar por entender que ele esteja dizendo coisas que desagradam. V. Exª pode continuar com a sua coragem e com a sua ousadia na tribuna do Senado.
MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA) - Obrigado, Senador Alvaro.
Desço desta tribuna, Sr. Presidente, lendo algumas informações que tenho selecionado do Dnit: Globo, Folha de S.Paulo, Tribunal de Contas.
(O Sr. Presidente fez soar a campainha.)
MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA) - Já vou descer, Presidente.
Globo: "Dnit é um ninho de irregularidades"; Folha: "Irregularidades encontradas pelo TCU somam um bilhão de reais em contratos". Um bilhão, Nação brasileira!
E esse homem quer que eu fique calado! Esse homem quer levar o dinheiro público no silêncio, sem que ninguém possa perturbá-lo! Pagot, eu tenho o dever, Pagot! É minha obrigação, Pagot! O povo do Pará que me mandou para cá, Pagot, me obrigou, um milhão e meio votos, me obrigou a chegar a esta tribuna e denunciar os ladrões da Pátria brasileira!
A covardia, Pagot, não faz parte da minha vida. A minha vida está exposta, Pagot, para quem quiser.
Mas a maior vontade que eu tenho é entrar neste Dnit. Infelizmente, meu nobre Aloysio, este homem é blindado pelo Governo. Infelizmente somos a minoria. Infelizmente estamos perdendo o poder de fiscalizar o Governo. Isto é muito ruim para a nossa Pátria. Isto é extremamente grave para a nossa Nação, para o nosso povo, que tem neste Senado a esperança fiscalizadora deste País.
Pagot, tu já devias estar na cadeia, Pagot, há muito tempo Pagot! Tu estás com muita sorte, não brinca com a sorte; não brinca com a sorte!
Meu nobre Presidente, antes de descer desta tribuna, peço a V. Exª que aceite a solicitação deste Senador - devo dar entrada amanhã na Mesa -, pedindo que um grupo de parlamentares possa, pelo menos ter a condição de pedir ao Sr. Pagot que possa nos informar seu patrimônio. Eu quero saber o patrimônio do Pagot, o que ele tem lá, nobre Senador Jayme, lá nas suas terras, eu quero saber que patrimônio o Pagot tem?
Mas posso garantir, Presidente, que o Palocci, quando souber do patrimônio do Pagot, vai dizer assim: "Oh, me tiraram só por causa de um apartamento! Só por causa de um apartamento me tiraram da Casa Civil, e o Pagot, olha o que o Pagot tem e ele fica lá, meu Deus do céu!" Que prestígio tem o Pagot? Mais do que o Palocci. E aí é preciso respeitar, Presidente. Aí é preciso respeitar.
Pagot, quero te desejar felicidades na tua vida, e te dizer o seguinte:
e te dizer o seguinte: esta boca tu não vais calar. Sinceramente, eu acho que tu és um ladrão. E um grande ladrão!
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