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Internacional
Sexta - 03 de Junho de 2011 às 21:46

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Portugal pode estar próximo de uma mudança de ciclo político, se as sondagens de intenção de voto para as eleições parlamentares se confirmarem nas urnas no próximo domingo, quando acontecerá a votação.

As eleições acontecem no momento em que o país enfrenta uma forte recessão econômica e aceitou um plano de ajuda financeira elaborado pelo Fundo Monetário Internacional, pelo Banco Central Europeu e pela Comissão Europeia.

As pesquisas indicam que, depois de seis anos no poder, o Partido Socialista deixará o governo e o país passará a ser dirigido por uma coligação de centro-direita.

O Partido Social-Democrata (PSD) deverá ter entre 36 e 39% dos votos, enquanto os socialistas conquistarão entre 31% a 33% dos eleitores. O terceiro partido mais votado, ainda segundo as sondagens, deverá ser o Centro Democrático Social, de direita, que com 11% a 13% das intenções.

Os dois partidos mais à esquerda, o PCP e o Bloco de Esquerda, que se recusaram fazer parte de qualquer governo de coalizão por discordarem da intervenção externa no país, tiveram 6% e 9% das intenções de voto cada um.

A votação é o resultado de uma crise política deflagrada em 23 de março, quando o parlamento rejeitou um plano de medidas de austeridade proposto pelo governo socialista - o segundo plano em menos de um ano.

Após a derrota, o primeiro-ministro português pediu demissão e um novo pleito foi marcado para junho. A rejeição do pacote econômico também provocou o descrédito dos mercados internacionais na capacidade de Portugal pagar suas dívidas.

Quando os bancos deram sinal de que não conseguiriam financiamento no exterior - o país tem pouca poupança interna e toda a economia depende de empréstimos externos - o governo foi forçado a pedir a intervenção do FMI e do Banco Central Europeu.

CENÁRIO POLÍTICO

Nos últimos seis anos, o governo socialista adotou uma série de medidas impopulares para conter a dívida pública do país, que dobrou, e o déficit público, que ultrapassou 9% do PIB em 2009 e 2010. As medidas incluíram a redução dos salários dos funcionários públicos diminuíram em até 10% e o aumento da idade para aposentadoria.

Mas ao contrário do que aconteceu na Irlanda e na Grécia, em que os partidos que governavam antes da crise econômica foram derrotado fragorosamente nas urnas, em Portugal os socialistas passaram a maior parte da campanha em um empate técnico com os sociais-democratas.

Segundo o cientista político André Freire, do Instituto Universitário de Lisboa, as razões para isso foram as diferenças entre as campanhas dos partidos.

Freire diz que os eleitores podem ter ficado receosos da agenda liberal seguida pela direção atual do Partido Social-Democrata, que inclui ideias de privatização da saúde, do ensino e mais facilidades para as empresas. "A atitude dos portugueses não é defender a desigualdade como estímulo à competitividade", explica.

Para o jornalista Francisco Sarsfield Cabral, o líder do PSD, Pedro Passos Coelho, teve uma campanha com reformulações excessivas. "A grande inconstância prejudicou a campanha do PSD" afirmou.

Cabral diz que grande parte do período anterior às eleições foi gasta por Passos Coelho corrigindo afirmações e propostas de pessoas ligadas ao seu partido.

Do outro lado, o primeiro-ministro socialista José Sócrates fez uma campanha como se a crise econômica que assola o país fosse normal. "Sócrates faz a campanha como se não houvesse dificuldades e tenta se apresentar como defensor do estado social", avalia Cabral.

Segundo os especialistas, as discussões sobre os programas de governo estiveram ausentes da campanha, porque as principais diretrizes da política econômica já foram definidas pelo memorando de entendimento assinado com o Fundo Monetário Internacional, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia.

O memorando foi divulgado em maio pelo governo e prevê mais medidas de austeridade, como a redução dos gastos públicos e do aumento dos impostos, além do aumento dos valores cobrados pelo atendimento no sistema público de saúde, a diminuição do número de municípios e a redução do número de funcionários públicos.

Durante a campanha, os dois principais partidos optaram pelos ataques pessoais. O PSD acusava José Sócrates de enganar os portugueses e de levar o país à falência. Já os socialistas acusavam Passos Coelho de ser incoerente em suas opiniões e de não ter um projeto claro para o país.

O fiel da balança do novo governo, o partido conservador Centro Democrático Social - Partido Popular (CDS-PP), espera ter um crescimento grande. Aproveitando a guinada à direita do PSD, o CDS optou por ocupar espaço no centro político.

Paulo Portas, o líder do partido, afirma na campanha que será o lado social do governo na coligação com o PSD. Líder de um partido que se recusou a assinar a primeira constituição democrática em 1976, Portas apareceu numa ação de campanha com um cravo na lapela, símbolo da revolução que trouxe a democracia ao país, em 1974.

INSPIRAÇÃO BRASILEIRA

O candidato José Manuel Coelho, figura mais midiática do Partido Trabalhista Português, admitiu se inspirar em políticos brasileiros e tentar unir Jânio Quadros e Lula durante a campanha.

Coelho, que já foi militante do Partido Comunista Português, aparece frequentemente segurando uma vassoura de palha voltada para o alto - até em debates de televisão. "É para varrer a corrupção. A ideia vem do Brasil, do Jânio Quadros", contou à BBC.

Ele diz ainda que pretende repetir em Portugal o que Lula fez no Brasil. "Desde o presidente Lula, o Brasil tem um projeto. O Brasil está construindo o homem novo. Lula tentou criar uma sociedade com todos os valores do PC, mas sem a imagem desgastada da foice e do martelo", diz.

Nestas eleições há dois candidatos com nacionalidade brasileira, além da portuguesa. Em Lisboa, a cabeça de lista do Partido Popular Monárquico é Aline Hall, nascida no Rio Grande do Sul, filha de pai português, e que atualmente tem um lugar na assembleia municipal da cidade.

O advogado Gustavo Behr, que já foi presidente da Casa do Brasil de Lisboa, uma associação de imigrantes, é o primeiro candidato do Bloco de Esquerda e ora da Europa. Ambos têm poucas chances de serem eleitos.






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