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Sexta - 06 de Maio de 2011 às 16:30

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O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, admitiu nesta semana a existência de um "conflito armado interno" no país, fato apontado como mais um exemplo do distanciamento do atual mandatário de seu antecessor e padrinho político, Álvaro Uribe.

Na última quarta-feira, Santos defendeu que a expressão "conflito armado interno" seja colocada na Lei de Vítimas, em análise pelo Senado. O reconhecimento provocou uma reação imediata de Uribe que, em oito anos de poder, nunca admitiu este fato.

O projeto de lei, idealizado no governo de Uribe, prevê a reparação de danos morais e materiais às vítimas de violência na Colômbia. Um de seus pontos principais é a restituição de terras que caíram ilegalmente nas mãos de guerrilheiros ou paramilitares.

Uribe criticou a mudança defendida por Santos tanto em seu perfil no serviço de microblogging Twitter quanto em entrevista a uma rádio colombiana. Para ele, "reconhecer o conflito armado é uma ameaça à democracia".

O ex-presidente, que sempre se referiu aos grupos armados como "terroristas" e "organizações criminais", disse que a medida poderia legitimar as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e criar um estado de "guerra ou belicoso".

Essa divergência em relação à terminologia, no entanto, reflete um distanciamento ideológico que, segundo analistas, sempre existiu.

Embora Santos tenha atuado como ministro da Defesa durante o governo Uribe e tenha sido eleito endossado pela popularidade de seu antecessor, os dois têm raízes políticas bem distintas.

"Uribe é conservador em suas opiniões e na maneira de governar. É ligado à classe média rural, e seu pressuposto básico é segurança. Já Santos é um liberal que vem de uma família empresarial tradicional, sempre ligada a ideia de modernizar a Colômbia", diz o professor de Ciência Política e Relações Internacionais da Pontifícia Javeriana de Colômbia, Eduardo Pastrana.

Tomada de posição

Para Pastrana, reconhecer o conflito armado é mais uma tomada de posição de Santos rumo à consolidação de seu projeto de um governo liberal. O cientista político avalia que o presidente quer imprimir sua própria marca, assim como fez Uribe.

"Santos é um político racional e pragmático de tendências modernizadoras. Ele acredita que a Colômbia precisa encerrar este ciclo de violência, e que isso depende de reparação das vítimas. Além disso, ele aposta no diálogo porque, neste momento, esse é um caminho possível para a desmobilização paramilitar", afirma.

Em contrapartida, Uribe viveu uma fase bem distinta, onde a tentativa de diálogo com as Farc havia fracassado e a alternativa palpável era a guerra.

"Uribe é passional e um gerenciador de crises. Quando ele começou a governar, a Colômbia precisava de seu perfil, duro e centralizador", diz o professor.

"O diálogo havia fracassado, e a guerrilha estava quase que incontrolável. Ele obteve êxitos importantes, especialmente contra as Farc."

No campo das relações internacionais, Santos também se aproximou dos presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e do Equador, Rafael Correa. A relação da Colômbia com estes dois países ficou estremecida durante o governo Uribe.

Base governista

Perto de completar um ano de mandato, Santos também se distanciou de Uribe na hora de escolher seus auxiliares de governo.

Parte de sua equipe é composta por políticos e executivos reconhecidamente críticos da política uribista, como a atual chanceler, Maria gela Holguín, e o ministro da Agricultura, Juan Camilo Restrepo.

Com o apoio do vice-presidente Angelino Gárzon, historicamente ligado aos movimentos sindicais, Santos tem transitado bem entre conservadores e liberais.

"Ele quer criar um grande bloco de centro-esquerda, mais uma vez em uma corrente ideológica oposta à de Uribe", afirma Pastrana.

Com atitudes e posições divergentes, analistas políticos apostam que o distanciamento entre Santos e Uribe deve ser mantido. Alguns acreditam que a "era Uribe" pode estar se encerrando - mesmo que o atual presidente tenha sido eleito com cerca de 70% de votos, creditados em grande parte à alta aprovação popular de ex-presidente.






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