Em um momento de crise interna do PSDB, o lançamento do livro Mário Covas: Democracia - Defender, Conquistar, Praticar, realizado na noite desta quinta-feira, em São Paulo, serviu para reunir dois dos principais caciques tucanos. Geraldo Alckmin, atual governador do Estado, e José Serra, ex-governador e ex-candidato à Presidência da República, pareciam alinhados no discurso para negar a atual fase de instabilidade do partido, que tem São Paulo como berço político. "O PSDB não está afundando", afirmou Serra.
Tanto Serra quanto Alckmin exaltaram o número de governadores tucanos eleitos em 2010 e de votos obtidos pelo PSDB na disputa contra a presidente eleita pelo PT, Dilma Rousseff.
"O PSDB sempre trabalhou coletivamente. Claro que como todo organismo político, (o partido) tem diferenças, mas o fundamental é a unidade. De maneira que o partido vai continuar indo bem. Elegeu oito governadores, tivemos 44 milhões de votos, representamos uma parcela grande da população brasileira", afirmou Serra.
Diante da insistência de perguntas sobre a crise do partido, sinalizada pela debandada de seis vereadores e do deputado federal Walter Feldman, cofundador da legenda, Serra foi categórico. "O PSDB não está afundando. (A saída de Feldman) foi uma decisão dele, pessoal", disse.
O ex-candidato tucano à Presidência da República chegou ao Museu da Casa Brasileira, onde ocorreu o evento, por volta das 19h50. Logo depois, encontrou-se com Alckmin para, juntos, diante dos fotógrafos, folhearem as páginas do livro que narra episódios da trajetória política de Mário Covas, um dos nomes emblemáticos da formação da legenda social democrata.
Às 20h22, cerca de 30 minutos depois de sua chegada, Serra deixou o local. Mais quinze minutos e foi a vez de Alckmin se dirigir à saída do Museu para fazer declarações semelhantes às do colega de partido. "O PSDB é um partido forte, é um partido que tem uma grande contribuição ao Brasil com o presidente Fernando Henrique, um partido que tem uma grande contribuição em São Paulo, desde a época do governador Mário Covas (seu padrinho político). Então, nós elegemos o maior número de governadores do País - oito governadores, o partido que mais elegeu governadores. Nosso candidato à presidência da República obteve mais de 44 milhões de votos, ganhou em 11 Estados brasileiros", disse Alckmin.
Assim como Serra, diante da insistência de repórteres, o governador paulista voltou a negar a crise. "Não tem nenhuma instabilidade. O PSDB é um partido forte, é um partido que vai crescendo, não tenho a menor dúvida. O partido do futuro, o partido de quadros, de propostas. Não é o único, mas é um dos partidos mais importantes da política brasileira", disse o governador, que pontuou a "relevância" do partido na oposição. "É tão patriótico ser governo quanto ser oposição".
Nos bastidores, apesar do tom cordial demonstrado à imprensa, o comentário é que a rixa entre os tucanos permanece e que os dois "evitam ficar juntos". Nas eleições municipais de 2008, apesar da boa aceitação de Alckmin, José Serra apoiou o atual prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, ex-DEM e atual PSD, o novo partido que tem atraído a atenção na política brasileira. O "grupo" de Alckmin, contrário ao apoio de Serra a Kassab, é apontado como responsável pela dissidência dos seis vereadores tucanos, ocorrida em abril.
Crise na oposição
Depois da derrota nas eleições presidenciais de 2010, a oposição enfrenta uma crise marcada por rachas internos e a possível fusão de PSDB e DEM. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou que há possibilidade de união entre as duas legendas, mas disse que as conversas são "preliminares". Anteriormente, o senador Aécio Neves (PSDB) disse que as reuniões dos tucanos com o DEM devem começar já para a definição das candidaturas para as eleições municipais do ano que vem. Aécio, no entanto, descartou uma fusão das duas siglas.
Na capital paulista, sete vereadores haviam anunciado saída do PSDB, mas Adolfo Quintas voltou atrás e ficou no partido. Segundo o grupo dissidente, a decisão foi tomada em razão da dificuldade de diálogo com a nova cúpula do PSDB no município, presidido por Julio Semeghini.
Ao mesmo tempo, o prefeito paulistano Gilberto Kassab deixou o DEM e iniciou um processo de criação de um novo partido - o PSD - que ganha força com a adesão de outros políticos descontentes dentro da oposição. Em 2 de maio, o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, anunciou sua saída do DEM e ingresso no PSD. Outra que já manifestou apoio ao PSD foi a senadora Kátia Abreu (DEM-TO). Quanto à orientação do PSD, Kassab disse que será "independente".
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