União Europeia pede "reformas profundas" após violência na Síria
Após a morte de mais de 80 manifestantes na sexta-feira (22) e de ao menos nove pessoas que acompanhavam seus funerais neste sábado na Síria, a União Europeia (UE) classificou a repressão no país como "intolerável" e pediu "reformas profundas" ao regime do ditador Bashar al Assad, cuja renúncia é reivindicada pelos protestos.
A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, condenou neste sábado os atos "intoleráveis" de violência na Síria e considerou "essencial" que Damasco inicie reformas políticas.
O governo sírio deve "parar imediatamente de recorrer à força brutal contra os manifestantes" e começar a "respeitar seu direito de protestar", disse.
Os tiros contra os manifestantes "são intoleráveis", destacou a Alta Representante da UE para Relações Exteriores, ao afirmar que "todos os responsáveis pelos crimes deverão ser levados à justiça".
Apesar do anúncio da suspensão do estado de emergência na Síria, "reformas confiáveis só poderão ser medidas com verdadeiros progressos no terreno".
"Peço ao governo sírio que realize reformas políticas profundas, começando pelo respeito aos direitos mais elementares, às liberdades fundamentais e ao Estado de direito".
MORTOS
Tropas de segurança do ditador sírio Bashar Assad abriram fogo contra milhares de participantes das procissões dos funerais de rebeldes neste sábado, matando no mínimo nove pessoas. Em protesto, dois deputados sírios também renunciaram.
Os disparos teriam ocorrido em dois funerais: em Douma (perto da capital Damasco) e no vilarejo de Izraa. No primeiro, quatro teriam sido mortos pelas forças de segurança sírias. Já em Izraa, cinco pessoas teriam morrido, de acordo com ativistas de direitos humanos.
Segundo testemunhas, cerca de 50 mil participaram dos dois funerais. Não se pôde confirmar o relato porque a Síria expulsou e restringiu o acesso de jornalistas ao país. A testemunha falou sob condição de anonimato por temer represálias.
A renúncia dos parlamentares Nasser Hariri e Khalil Rifai ocorreu para protestar contra a sangrenta repressão das manifestações contra o regime. Ambos alegaram frustração por não poder proteger os eleitores.
CONFRONTOS
Entre hoje e ontem, 120 pessoas teriam morrido, no período mais sangrento desde que começaram as manifestações contra o regime sírio, segundo segundo a ONG Organização Nacional por Direitos Humanos da Síria.
Segundo ativistas da oposição, algumas áreas de Damasco amanheceram cercadas pelo Exército e a polícia, enquanto na cidade central de Homs as autoridades rejeitam entregar os cadáveres a suas famílias até que estas digam à televisão que grupos de salafistas mataram seus filhos.
Não houve pronunciamentos do governo de Damasco sobre os distúrbios.
De acordo com organismos de direitos humanos, cerca de 300 pessoas morreram desde que, em meados de março, se intensificaram os protestos políticos na Síria, que começaram em fevereiro.
EUA E FRANÇA CONDENAM
Em reação ao dia mais sangrento da repressão síria aos protestos, o presidente americano Barack Obama pediu o fim "imediato" dos confrontos e condenou o "recurso ultrajante à violência" utilizado pelo governo de Al Assad pra conter as manifestações e apontou ajuda de Teerã a Damasco.
"Este ultrajante uso da violência para conter os protestos precisa ser interrompido imediatamente. Ao invés de ouvir seu próprio povo, Assad está culpando outros enquanto busca auxílio do Irã para reprimir os cidadãos da Síria por meio das mesmas técnicas brutais que já foram usadas pelos aliados iranianos", disse.
Os comentários de Obama chegam pouco após o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, ter conversado com jornalistas durante um voo da comitiva presidencial entre a Califórnia e Washington.
Ele pediu que o governo sírio "interrompa e desista do uso de violência contra manifestantes" e "implemente as reformas prometidas".
A França também exigiu das autoridades sírias o fim do "uso da violência contra seus cidadãos" e a realização de reformas.
"As autoridades sírias devem renunciar ao uso da violência contra seus cidadãos", diz um comunicado da chancelaria francesa lido pela porta-voz Christine Fages.
"Apelamos ao início, sem demora, de um diálogo político inclusivo e que leve a reformas que respondam às aspirações legítimas do povo sírio. O fim do estado de emergência deve ser traduzido em fatos".
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