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Cultura
Quinta - 14 de Abril de 2011 às 18:36

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Apontados como "pais" do Parque Indígena do Xingu (MT), que completa 50 anos nesta semana, os irmãos Villas Bôas --Orlando, Cláudio e Leonardo-- não têm seu legado avaliado com unanimidade entre os índios da região. Os três lutaram pela demarcação e consolidação da área.

Mesmo reconhecendo que o parque representou um refúgio diante das frentes de colonização que avançavam Brasil adentro a partir da década de 1940, muitos índios se queixam por terem sido transferidos, contra a vontade, de suas terras originais.

"O grande erro deles foi ter trazido outras etnias para o Xingu. Os mais velhos jamais esqueceram as terras tradicionais", diz Korotowi Ikpeng, filho de pai icpengue e mãe caiabi -- etnias não originárias das terras do parque.

Os icpengues foram transferidos para o parque em 1967. "Ninguém sabia falar português. Mesmo não querendo, foram levados à força", afirma Korotowi.

Grupos caiabis, que habitavam a região dos rios Teles Pires e Arinos (entre o norte de Mato Grosso e o sul do Pará), foram levados à região do parque em 1952 e 1973.

Na década de 1970, foi a vez dos suiás (conhecidos hoje como kisêdjês), iudjás, panarás e txucarramães (hoje chamados de metuktires) --os dois últimos conseguiram voltar às áreas tradicionais na década de 1990.

Da etnia kisêdjê, o coordenador-regional da Funai em Canarana (827 km de Cuiabá), Nhonkoberi Suyá, 44, diz que os Villas Bôas "sempre lutaram junto com os índios, mas também erraram".

"Não deviam ter trazido índios para terras que não eram deles", afirma Suyá. "Foi muito sofrimento."

MULTICULTURALISMO

Para o advogado Orlando Villas Bôas Filho, o trabalho de seu pai, morto em 2003, deve ser analisado "no contexto da época".

"Meu pai nunca levou ninguém para lá porque quis. Essas atitudes extremas foram tomadas porque o contexto era simplesmente de extermínio", diz.

À ocasião da transferência para o parque, segundo Villas Bôas Filho, os panarás estavam reduzidos a "80 indivíduos com tuberculose".

Ele diz que a demarcação defendida por seu pai previa a inclusão das nascentes do Xingu. "Ele sempre viu as exclusão das nascentes com muito temor", afirma.

Os 50 anos do parque, segundo ele, contam uma "experiência bem-sucedida de multiculturalismo".

"Uma coisa é falar disso hoje, outra é falar disso na década de 1940, fazer a figura do índio ser aceita, reconhecida e respeitada em uma sociedade de perfil muito mais etnocêntrico do que é hoje."






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