Nova gestão aponta superfaturamentos na Assembleia do PR
Caixas de refrigerantes comprados a um custo até 100% maior do que nos mercados. Compra de computadores ao primeiro sinal de defeito das máquinas antigas.
Irregularidades como essas ocorriam até o último ano na Assembleia Legislativa do Paraná, segundo levantamento da nova direção.
A Assembleia foi o foco de escândalo em 2010, quando foram reveladas nomeações feitas por "diários secretos".
O então diretor, Abib Miguel, ficou cinco meses preso e responde na Justiça a acusação de liderar o esquema. Seu advogado, Eurolino dos Reis, disse que Valdir Rossoni (PSDB), atual presidente, deve provar as acusações.
Cerca de R$ 100 milhões foram desviados por meio da contratação de funcionários-fantasmas entre 1994 e 2010, diz o Ministério Público.
A nova direção da Casa, empossada em fevereiro, elaborou um levantamentos de gastos. Foi constatado que 14 dos 35 contratos de prestação de serviço estavam vencidos, mas ainda eram pagos.
Um relatório parcial sobre o patrimônio da Assembleia apontou ainda que a regra era comprar um computador assim que o atual desse defeito, sem levar para reparo.
Na folha de pagamento, cerca de R$ 3,6 milhões começaram a ser economizados a partir deste mês com a demissão de 360 pessoas com cargos comissionados.
Segundo a Mesa Diretora, a economia poderá atingir R$ 43,3 milhões com pessoal.
A mudança também mexeu no bolso dos deputados, que estão proibidos de ter despesas com diárias dentro do Estado. Dados oficiais apontam economia de R$ 315 mil no quesito em fevereiro.
Servidores relataram à nova direção práticas de seguranças que haviam sido contratados sem concurso e foram demitidos em fevereiro.
Funcionários afirmam que havia esquema ilegal de cobrança de estacionamento no pátio. Dependendo do lugar, eram cobrados de R$ 50 a R$ 100 de mensalidade.
OUTRO LADO
O advogado de Abib Miguel disse que o ex-diretor da Assembleia virou o "bode expiatório" da crise na Casa. "É muito fácil jogar tudo nas costas do Abib", disse.
Miguel ficou 20 anos no cargo. Reis diz que o atual presidente da Casa, Valdir Rossoni (PSDB), deve provar as acusações com documentos e encaminhá-las ao Ministério Público.
"É obrigação dele enquanto servidor público encaminhar esse material e dar nome aos bois, mas o que percebo é que está apenas jogando para a torcida", afirmou.
Reis declarou que não poderia comentar especificamente cada suposto gasto irregular por não ter tido acesso "a uma única nota fiscal".
"O cara [Rossoni] agora quer vir aí pintar uma de bonzinho, de integro e honesto."
O deputado Nelson Justus (DEM), que era presidente da Casa até fevereiro, não foi localizado na sexta-feira para comentar o assunto. No gabinete dele, um funcionário não soube informar os telefones de contato do deputado ou de seus assessores.
Anteriormente, Justus havia falado que sua gestão implantou mecanismos de transparência na Casa, como divulgação da lista de funcionários na internet.
"Desde os primeiros dias da sua gestão, o deputado iniciou profundas transformações no Legislativo, enfrentando inúmeras questões que há anos não sofriam qualquer interferência", diz uma nota publicada em sua página na internet.
Justus também afirmou que as medidas contribuíram para dar ao Paraná "uma das Casas Legislativas que menos gastam" no país.
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