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Economia
Segunda - 14 de Dezembro de 2009 às 06:40
Por: Fabiana Reis

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Profissionais de Mato Grosso descobrem o caminho certo para se tornarem empreendedores, consolidam clientela e abrem novos mercados para a produção regional

De um complemento da renda familiar à principal fonte de recursos mensal. É assim que vem se comportando a atividade artesanal desenvolvida por algumas famílias em Mato Grosso. Inicialmente, apenas as mulheres se dedicavam à atividade, para ajudar o marido no sustento da casa. Mas atualmente, o negócio vem dando certo e o que se observa em Mato Grosso é uma verdadeira transformação. Artesãos de ambos os sexos estão se tornando empreendedores do artesanato. Homens deixam seus empregos para ajudar as esposas na produção e assim atender a demanda. E para isso estão desenvolvendo outras habilidades, que vão além da arte, e envolvem gestão e estratégias de negociação.

A gestora do Programa de Artesanato do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas em Mato Grosso (Sebrae-MT), Lusia Cristina Freitas de Souza, explica que desde o ano 2000 o órgão desenvolve ações voltadas para os artesãos do Estado e que a profissionalização do setor vem evoluindo a cada ano. Ela conta que eles estão sendo preparados para se tornar empreendedores de um negócio que conquista todo o mundo. Prova disso é a participação de artesãos locais em feiras e exposições em vários países da América Latina, sem contar que as peças andam mundo afora nas mãos dos turistas que visitam as cidades mato-grossenses.

"O Sebrae vem ajudando no apoio aos artesãos no sentido de desenvolver neles a prática de gestão e espírito de empreendedorismo", diz ao analisar que o artesão tem um talento nato ou uma habilidade adquirida, mas que isso não basta para fazer o negócio girar e se tornar uma fonte de renda para a família. Ela conta que são realizados cursos e palestras direcionadas para que esses profissionais da arte melhorem a produção e tenham uma noção dos custos e do lucro com a venda das peças.

Lusia exemplifica dizendo que a atividade de muitos artesãos se resume à compra da matéria-prima, produção e venda da peça, mas que não existem uma contabilidade exata dos custos e da receita, que propicie a avaliação de que a atividade está rendendo ou não. "E é nessa hora que o Sebrae atua, sugerindo colocar na ponta do lápis todos os gastos e ganhos, uma forma de profissionalizar a produção".

A gestora do Sebrae conta que o artesão empreendedor devem proceder como se o negócio dele fosse uma empresa, com todas as anotações possíveis. Dessa forma é possível mensurar a evolução da atividade. "O artesão tem a vantagem de estar em contato direto com o comprador, diferente de um empresário, que tem alguém para comprar a matéria-prima, produzir e vender. No artesanato é diferente, é preciso estar à frente de várias etapas desde a produção até à comercialização".

As artesãs Rita Rezende e Cláudia Brecht, do ateliê Arcobaleno, localizado em Cuiabá, afirmam que fazem questão de participar pessoalmente das feiras onde os seus produtos são expostos. Cláudia diz que isso vem sendo feito porque muitas vezes não há uma preparação adequada das pessoas que vão trabalhar no atendimento aos clientes nos estandes. "É preciso treinar uma pessoa sobre o produto. De onde vem, como é feito, para que serve. Afinal estamos vendendo a cultura e os costumes de Mato Grosso". Rita complementa que já deixaram de participar de alguns eventos, aqueles em que só o produto é enviado, sem a participação efetiva do artesão.

No ateliê são produzidas diversas peças, sendo que os copos de diferentes tamanhos, são o carro-chefe. Neles são desenhados temas da cultura e folclore cuiabano, como a viola-de-cocho, arara, caju, entre outros. Rita também pinta telas, desde as pequenas para usar como peças decorativas em mesas e aparadores, até as grandes, para serem colocadas na parede. As temáticas também são voltadas para a cultura cuiabana, como viola-de-cocho, siriri, rasqueado, pilão (da tradicional paçoca de pilão), peixe, entre outros.

Números do artesanato -Balanço da Secretaria de Indústria, Comércio, Minas e Energia (Sicme) revela que ao longo de 2009 foram realizadas 8 feitas, 3 mostras, 9 cursos e 13 palestras voltadas para os artesãos. Em todas essas atividades foram 13,863 mil beneficiados. O secretário da pasta, Pedro Nadaf complementa dizendo que foram quase R$ 2 milhões investidos na atividade ao longo do ano e que mais recursos serão aplicados para o desenvolvimento e aperfeiçoamento do artesanato local.

"Estamos trabalhando para que artesanato passe de uma fonte de renda de subsistência para negócio. Esta é uma proposta de governo", declara Nadaf ao adiantar que para o ano que vem o Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO) terá uma linha de crédito especial para fomentar os diversos segmentos do turismo, entre eles o artesanato. Tudo com vistas a preparar melhor o setor para a Copa de 2014, que terá jogos em Cuiabá, e consequentemente milhares de turistas.

Na opinião da artesã Cláudia Brecht, os recursos devem ser melhor aplicados, especialmente no apoio às feiras e outros eventos que os artesãos são convidados. Ela diz que a gestão está melhorando mas que ainda há muito para evoluir. "Precisamos de apoio do governo, nem que seja para o transporte das peças daqui ao local do evento. Isso ajuda bastante", diz ao revelar que o principal benefício concedido pelo Estado à classe é a isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) na comercialização das peças, mas que a cada venda é necessário o deslocamento até a Secretaria de Estado de Fazenda (Sefaz) para emissão da nota.

O ateliê Arcobaleno produz, somente para atender a Casa do Artesão, em Cuiabá, cerca de 500 copos. "Mas esse número pode aumentar bastante, o que vai depender da demanda". Para ajudar no desenvolvimento de outros artesãos, Rita e Cláudia montaram o projeto Demais de Bom, em que há uma integração dos artesãos e que quando um expõe, logo arranja um jeito para encaixar um outro colega no evento. Também são preparadas peças especiais, a exemplo dos kits, que contém uma caixa, um copinho, um licor ou guaraná ralado, cada produto confeccionado por um artesão diferente. "Dessa forma fomentamos a produção de diferentes artesãos", explica Rita.

Profissionalização - Quem também aderiu a profissionalização na produção artesanal foi a ceramista Cleide Rodrigues de Moraes. Com uma produção de peças nos fundos de casa na comunidade São Gonçalo Beira Rio, a família se uniu a ela para dar contas dos pedidos que se avolumaram e com isso tornaram o artesanato a principal fonte de renda. "Trabalhava sozinha e quando os pedidos aumentaram meu marido que trabalhava fora, saiu do emprego e passou a me ajudar". As peças, que tem como vedete as galinhas de angola, são produzidas com uma mistura de argila e barro, e que até se chegar ao produto final são várias etapas.

O marido de Cleide, José Luiz Antunes Pereira, fica com a tarefa de colocar a argila nos moldes e desenformar. Em seguida ele acerta as peças, para que não fique nenhum relevo ou outra deformidade. Depois vai para a secagem. O filho dele, Victor Felipe de Castro Pereira, fica com a fase do acabamento, que é de pintura das galinhas. Cleide participa de todos os processos, mesmo que apenas supervisionando, já que além do corte de algumas peça e pintura, ela trabalha na venda do produto.

As galinhas de angola de Cleide já estão famosas em todo o Brasil. Durante cinco anos ela forneceu o produto para a Tok & Stok, experiência que ensinou a trabalhar controlando a produção, com data de entrega e tudo. Para que as peças, que viajam mundo afora, ela providenciou embalagens especiais como caixas e plástico-bolha, que protegem melhor as peças.





Fonte: A Gazeta

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