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Economia
Segunda - 19 de Outubro de 2009 às 07:45
Por: Maria Angélica de Moraes

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A imprecisão na compra de materiais, ineficiência no processo de construção e os equívocos na elaboração e execução dos projetos, somados às perdas no transporte e no armazenamento representam desperdício de 10% nos canteiros de obras no Brasil. Dos materiais descartados das obras que acabam se transformando em entulho 65% são produtos inertes como argamassas, concretos e telhas. O fato está virando problema de saúde pública em grandes centros urbanos que encontram dificuldades na deposição dos resíduos e vem se transformando em uma grande fonte de preocupação dos ambientalistas. "São necessárias ações diversas e diferenciadas de todos os envolvidos na construção civil, da construtora ao transportador, do poder público às empresas. Se cada um fizesse a sua parte haveria menos desperdício de material e, consequentemente, mais economia", observou Sheila Marcon de Mesquita, engenheira civil do Sindicato da Indústria da Construção Civil em Mato Grosso (Sinduscon-MT).

Entre as iniciativas governamentais para a gestão dos resíduos da construção civil está a Resolução nº 307 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) de 5 de julho de 2002 cujo objetivo principal é implementar diretrizes para a redução dos impactos ambientais gerados pelos resíduos oriundos da construção civil. A Resolução deveria entrar em vigor no início do ano seguinte mas, por conta dos já conhecidos entraves burocráticos, ainda caminha a passos lentos. Portanto, o que motiva as empresas a investir - mesmo que uma pequena parcela de recursos e ideias - em iniciativas que evitem o desperdício de material de construção e resultem na chamada obra limpa são as certificações de qualidade, necessárias, por exemplo, para os licenciamentos das obras e a liberação de financiamentos.

"As empresas normalmente fazem o mínimo que a Resolução exige que é cuidar dos resíduos. Isso significa quase sempre contratar uma empresa credenciada para jogar o entulho no lixão", frisou a engenheira Flávia Garcia da Silva Neiva que presta consultoria em certificação (Iso 9001), Segurança do Trabalho e PBQP-H. "Hoje em dia o lucro é cada vez menor e muitas vezes não sobram recursos para serem investidos em iniciativas de reaproveitamento do material não utilizado na construção como, por exemplo, britadeiras que moem o tijolo, centrais dosadoras de material cerâmico e argamassa, ferramentas de reaproveitamento do concreto estrutural e o uso de sistemas inteligentes, automatizados".

O irônico é que, segundo Flávia Neiva, ao investir em programas que evitam o desperdício a empresa tem a economia como retorno já que haverá menos perda de material ao longo da obra. "O planejamento é fundamental e deve ser feito antes de a obra sair do papel. Além disso um canteiro organizado não tem resíduos o que diminui o retrabalho dos funcionários. Acredito que ainda falta informação e conhecimento por parte de muitos empresários e também a contrapartida do poder público em incentivar projetos e iniciativas neste sentido".

Boas ideias - Algumas empresas, no entanto, já desenvolvem trabalhos que evitam o acúmulo de resíduos e o consequente desperdício no canteiro de obras. O Grupo Plaenge, por exemplo, firmou no início deste ano um compromisso com o Projeto Mato Forte e passou a doar todas as lonas utilizadas nas obras para a produção de peças artesanais. São produzidas bolsas, sacolas, artigos decorativos para casa, tudo feito com os mais variados tipos de embalagens: garrafas, recipientes de detergentes, amaciantes, sacos de aninhagem, banners publicitários. Todos os artigos são decorados com motivos que lembram a fauna, flora ou cultura do estado de Mato Grosso. Além disso a Plaenge utiliza fôrmas de metal, e não mais a madeira, na fabricação dos pilares e vigas.

O uso de madeira também foi reduzido nas obras da construtora Embracon. Cláudio Cleber Ottaiano, proprietário da empresa, revelou que optou por utilizar fôrmas de metal e estrutura metalizada nos telhados. Os andaimes também são do mesmo material. "Com o metal há um reaproveitamento infinito em termos de fôrma e estrutura. Uma casa pequena requer cerca de um metro cúbico de madeira. Para construir 500 casas seriam 500 m3 só em estrutura de telhado, o que em termos de árvore significa três vezes mais. Em 500 casas economizamos nada menos que 500 m3 de madeira", observou. "O mercado nos forçou a esta mudança, tomamos a iniciativa quando começou a faltar madeira. Além disso não temos uma obra suja com restos de material e contribuímos para preservar o meio ambiente".

Investimento em qualificação para que a obra siga os padrões corretos desde o início. Esta foi a iniciativa tomada pela ANN Construção e Incorporação Ltda. De acordo com Maria Silvina Tim Rocha, responsável pela direção no programa de qualidade na empresa, os programas de reaproveitamento exigem muito investimento. Por isso a ANN optou por treinamentos periódicos dos funcionários que trabalham diretamente nas obras. "Falamos sobre desperdício, uso correto dos materiais. Frisamos que quando se erra menos, quando há menos coisa para desmanchar, mais economia se consegue dentro da obra. Acredito que o primeiro investimento tem que ser feito com a pessoa. Essa falta de qualificação ainda é um problema em todas as áreas, não apenas na construção civil. Por isso nossos funcionários, além de capacitados, são avaliados constantemente".

Na opinião de Maria Silvina a construção brasileira ainda utiliza muita mão-de-obra mas o investimento em fabricados e pré-moldados, por exemplo, é uma tendência. "Ele gera entulhos pequenos mas pede investimentos. Por enquanto estamos focados em fazer uma obra correta, sem sobras, do início ao fim e em um ambiente limpo. Conseguimos detectar as falhas logo no início que evita desperdício e retrabalho". A iniciativa tem mais de cinco anos e os resultados têm sido satisfatórios para a empresa.

Programa de qualidade - O Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H) é um instrumento do governo federal cuja meta é organizar o setor da construção civil em torno de duas questões principais: a melhoria da qualidade do habitat e a modernização produtiva. A busca por esses objetivos envolve um conjunto de ações, entre as quais se destacam a melhoria da qualidade de materiais, formação e requalificação de mão-de-obra. Entre os resultados está a redução de custos com moradia e infra-estrutura urbana de melhor qualidade. Além disso, com a redução do desperdício de materiais e melhoria na qualificação das empresas construtoras é possível reduzir custos das unidades habitacionais e efetivamente obter melhorias na qualidade.




Fonte: A Gazeta

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