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Economia
Domingo - 19 de Abril de 2009 às 08:34
Por: Michael Luo

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Quando Ben Sims, 57 anos, apareceu para uma entrevista de emprego em Richardson, Texas, há algumas semanas, ele percebeu que a gerente de recursos humanos - décadas mais nova do que ele - vacilou ao vê-lo no saguão.

"Ela ficou de queixo caído", disse Sims, que foi à entrevista em um terno digno de seus 25 nos de carreira no setor de recursos humanos da IBM.

Mais tarde, no escritório dela, depois de algumas questões perfunctórias, a executiva disse a Sims que não achava que o cargo fosse "adequado" para ele, e menos de 10 minutos mais tarde se levantou para sinalizar o final da entrevista.

"Eu sabia já ali que era a questão da idade", disse Sims, que está à procura de emprego desde novembro de 2007, um mês antes que a desaceleração econômica começasse.

A recessão surgiu em um momento no qual Sims e muitos outros integrantes da chamada geração "baby boom" (os americanos nascidos entre 1946 e 1964) estão ainda a anos de suas aposentadorias. Mas as pessoas desempregadas dessa faixa de idade, muitas das quais imaginavam estar ainda no pico de suas carreiras, agora precisam enfrentar a dura realidade de que as perspectivas de emprego para elas estão entre as mais desfavoráveis em um mercado de trabalho sombrio para todos.

Os trabalhadores com mais de 45 anos são parcela considerável da categoria mais afetada pela recessão, a dos desempregados de longo prazo - seis meses ou mais sem trabalho, pela classificação do Serviço de Estatísticas do Trabalho.

Os trabalhadores demitidos nessa faixa etária passaram em média 22,8 semanas desempregados em 2008, ante 16,2 para os mais jovens. E mesmo que enfim encontrem trabalho, em geral experimentam queda de salários muito mais aguda do que a de seus colegas mais jovens.

Os trabalhadores mais velhos têm certas vantagens, porém. Muitos deles evitaram demissões na recessão, e as estatísticas do governo demonstram que as pessoas de mais de 45 anos sofrem de desemprego inferior ao dos trabalhadores mais jovens.

Alicia Munnell, diretora do Centro de Pesquisa da Aposentadoria, no Boston College, disse que as empresas muitas vezes relutam em perder a experiência dos trabalhadores mais velhos, muitos dos quais contam com proteção que deriva de sua idade e posição hierárquica.

Os dados recentes demonstram que essa vantagem está se deteriorando, no entanto. "Se você é mais velho e tem mais tempo no emprego, a probabilidade de demissão é menor, ainda que essa vantagem esteja se reduzindo nas últimas semanas", diz Munnell.

O índice de desemprego para os trabalhadores de mais de 45 anos era de 6,4% em março, o mais alto desde 1948, quando o Serviço de Estatísticas do Trabalho começou a acompanhar o desemprego em base mensal.

Mas caso um trabalhador mais velho perca o emprego, diz Munnell, "a situação tende a se tornar horrível". Os trabalhadores mais velhos enfrentam dificuldade muito maior para encontrar novos empregos do que os mais jovens, e as estatísticas parecem demonstrar que as coisas estão mais difíceis para eles na atual recessão do que em crises econômicas do passado.

Nas desacelerações de 1982 e 2001, os trabalhadores com mais de 45 anos ficaram desempregados em média por 19 semanas e pouco menos de 17 semanas, respectivamente.

Muitos dos profissionais desempregados mais velhos estão desesperados, e considerando medidas como encurtar seus currículos de maneira a ocultar suas décadas de experiência, ou tingir os cabelos.

Muitos deles preferem contra-atacar. As queixas de discriminação por idade cresceram em quase 30% em 2008, ante o ano anterior, de acordo com a Comissão de Igual Oportunidade no Emprego, e o ano fiscal se encerrou antes que o pior da recessão começasse.

Mas a vasta maioria das queixas envolve casos de demissões vistas como injustas. A discriminação na contratação é muitas vezes quase impossível de provar. "Especialmente em uma era como a atual, quando a pessoa se candidata online a um posto, ela não é informada nem mesmo por que foi recusada na primeira triagem", disse Laurie McCann, advogada sênior da Associação Americana dos Aposentados (AARP).

Sims ficou tão irritado com o tratamento que recebeu em sua entrevista que tentou ligar para o presidente-executivo da companhia, mas não conseguiu falar com ele. No entanto, não considerou fazer uma queixa formal.

"Conheço bem os procedimentos e situação do setor de recursos humanos", disse. "Uma queixa não teria chegado a lugar algum".

É difícil avaliar a incidência da discriminação por idade no mercado de trabalho. Os trabalhadores mais velhos decerto acreditam que seja muito elevada - uma pesquisa da AARP em 2007 com trabalhadores dos 45 aos 74 anos constatou que 60% dizem ter testemunhado ou experimentado situações de discriminação por idade.

Joanna Lahey, professora de Economia na Universidade A&M do Texas, conduziu um estudo, publicado em 2005, no qual enviou os currículos de candidatas hipotéticas a emprego, mulheres dos 35 aos 62 anos, a quatro mil empresas de Boston e St. Petersburg, Flórida.

A única coisa que ela alterava nos currículos era o ano de formatura no segundo grau, um indicador de idade. Lahey constatou que as candidatas com menos de 50 anos de idade tinham probabilidade 40% maior de serem chamadas para uma entrevista.

Os trabalhadores mais velhos muitas vezes acumulam conhecimentos específicos sobre suas empresas que os ajudam a obter proteção contra demissões, diz Lahey. Mas essas informações muitas vezes são menos úteis a outros empregadores.

Os trabalhadores mais velhos também precisam batalhar contra estereótipos sobre sua energia e adaptabilidade, bem como com a realidade de que seus custos de saúde tendem a ser mais elevados.

Os membros mais velhos da geração baby boom agora estão começando a se aposentar. Mas devido à queda abrupta no valor das contas de aposentadoria, mais trabalhadores de idade avançada estão tentando se manter na força de trabalho. E alguns dos desempregados da geração baby boom, depois de longos meses de buscas infrutíferas, concluíram que só lhes restava a opção de dar as costas a carreiras bem sucedidas e começar de novo com salário muito mais baixo.

Tradução: Paulo Migliacci ME.




Fonte: The New York Times

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