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Politica Brasil
Sábado - 29 de Novembro de 2008 às 20:40
Por: Carlos Alberto de Araújo

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Em viagem ao interior do Estado, mais precisamente na cidade de Nortelândia, onde fui assinar um documento no Cartório local, encontrei-me com uma senhora de aproximadamente 65 anos, acompanhada por uma filha e seu genro. Tudo normal, pessoas a gente encontra em qualquer lugar, ainda mais dentro de um Cartório, local público onde necessariamente todos freqüentam, seja para registrar uma criança, casar, fazer um contrato de compra e venda ou até mesmo reconhecer uma firma.

Mas o que me chamou a atenção foi o fato do proprietário do Cartório estar revirando as folhas de um antigo livro de registros de nascimentos, à procura de algo, alguma informação, quando de repente ele disse: “Aqui está, realmente ele nasceu no ano de 1966, e hoje está com 42 anos de idade”.

Ao ouvir o nome da criança, me interessei pelo assunto, pois conheço a família, e passei a conversar com essa senhora sobre o que estava acontecendo. Ela me relatou que no ano de 1966, deu a luz a um menino no hospital local e logo em seguida, com ela ainda internada, seu marido “deu” o seu bebê para um conhecido senhor que ali residia. Ao sair do hospital, debilitada e fraca, e segundo ela ainda desnorteada pela depressão pós-parto, vieram embora para Cuiabá, retornando a Nortelândia somente naquele dia, 42 anos depois, para tentar reencontrar aquele seu filho que fora dado para esse senhor, hoje já falecido e sua esposa ainda viva, mas debilitada e sem condições de prestar quaisquer informações referentes a esse assunto.

O semblante dessa senhora era de alegria, pois o ano de nascimento de um dos filhos desse senhor que “adotou” o seu, coincidia com o ano de nascimento do seu filho. Ficou ainda mais feliz quando soube que essa criança, hoje, era um respeitado cidadão, gerente de uma agência do Banco do Brasil em uma promissora cidade do Norte de Mato Grosso, numa região rica, produtora de soja. Essa alegria era visível também na sua filha e seu genro, que a acompanhavam, chegando essa filha a perguntar para o proprietário do cartório: “o fulano, meu irmão, se parece comigo?”

Naquele momento, para eles, era fato verídico, procura finalizada com sucesso. Já haviam localizado o filho ausente, que não recebera seus cuidados, mas por ela nunca esquecido. Estavam irradiantes por saberem que ele fora bem criado, já fazendo até planos para saírem dali e irem procurá-lo na cidade onde está residindo atualmente.

Aí que entrei na história, dizendo achar estranho que esse rapaz não fosse filho legítimo do pai que o criara, pois a aparência física dele coincide em muito com a de seus outros irmãos. Como diz o ditado popular, é “cara de um..... de outro”. Dalí mesmo liguei para uma prima desse rapaz (que reside em Cuiabá) e ela me disse que tinha certeza que ele é filho legítimo do pai que o registrou e criou, pois acompanhou a gravidez de sua tia, até o dia do seu nascimento.

Disse para eles o teor da minha conversa e logo notei que aquele semblante de alegria e felicidade começou a esfriar, talvez pela decepção da possível possibilidade desse gerente não ser o filho procurado. Afinal, seria gratificante descobrir um filho perdido no passado, bem encaminhado na vida.

Convidei-os para ir até a casa de uma senhora, cunhada do “adotante”, pois somente ela poderia esclarecer esse mistério. Lá chegando, disse-lhe o motivo da visita, relatando o que estava acontecendo. Então, ela disse que realmente a história dessa senhora era verdadeira, que ela se lembrava desse episódio. Porém.... tinha um porém: Assim que recebeu a criança, ele não ficou com ela, pois sua esposa estava com gestação bastante avançada e não teria condições de criar dois recém-nascidos.

Então a deu de imediato para um de seus irmãos, que há muito tempo era casado, mas nunca tinha sido agraciado com um filho. E assim, o casal o criou como filho legítimo, dando-lhe amor e carinho, até o falecimento de ambos, poucos anos atrás. Esse episódio ficou guardado em segredo por todos esses anos, não sendo do conhecimento nem dos filhos legítimos do, na época, “adotante”.

Não tinha dúvidas nenhuma. Com essa confirmação, eles perguntaram onde se encontrava esse rapaz órfão, e ela lhes disse que o mesmo estava morando na cidade de Nova Olímpia, dando-lhes inclusive o endereço e que, por ter ficado órfão, certamente ficaria muito feliz em conhecer sua mãe biológica, que poderia dar-lhe apoio e possivelmente reconstruírem uma nova relação familiar.

Uma grande história de desencontros, que acontece com muitas pessoas desse nosso Brasil, e que poderia ser até matéria para programas de televisão, não fosse um pequeno detalhe: Já decepcionados pela certeza de não ser o gerente do banco o filho que procuravam e com 99,9% de possibilidade de ser o órfão de Nova Olímpia, essa senhora que sabia tudo o que tinha acontecido disse-lhes na saída: “Olha dona Maria, o Divino precisa muito de vocês. Ele vive lá meio jogado, vivendo de favores, pois é meio fraco da cabeça”.

Pronto. Jogou-lhes um balde de água fria no rosto, e somente ouvi a filha dizer: “Mãe, a senhora está com idade avançada, vai querer mesmo conhecer o Divino? E depois, vai dar conta de cuidar dele?

Agradeceram pela ajuda e sairam rumo à Nova Olímpia. Meia hora depois vim para Cuiabá. Antes de chegar na cidade de Barra do Bugres ultrapassei o veículo onde estava Dona Maria, sua filha e seu genro. Parei o carro e disse-lhes que a entrada para Nova Olímpia já tinha ficado uns 2 km para trás, ao que me responderam: “ah já? Então nós vamos voltar”.

Liguei meu veículo e segui adiante, sem ao menos olhar pelo retrovisor para ver se realmente retornaram. Nesse momento tive medo de me decepcionar com o ser humano. Mas fiquei com uma grande vontade de saber o final dessa história.

Carlos Alberto de Araújo carlosaraujo30@bol.com.br




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