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Repórter News - reporternews.com.br
Saúde
Sábado - 12 de Janeiro de 2008 às 08:59

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Desigual. Assim é o acesso dos brasileiros aos transplantes de órgãos no País. Enquanto a espera por um fígado pode durar mais de oito anos na Bahia, para os pacientes com maior urgência em São Paulo esse tempo não passa de um. No Rio Grande do Sul, um receptor passa em média dois anos esperando por um coração. No Pará, isso pode durar três vezes mais.

Uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) aponta, a partir de análises estatísticas, os tempos máximos e mínimos para realização de transplantes nos Estados. Com dados de 2004 a 2006, do Sistema Nacional de Transplantes (SNT), o estudo revela esperas de mais de 20 anos por um rim na Paraíba ou por uma córnea no Amazonas.

"Quando você encontra dados como 28 anos (tempo máximo de espera por um rim no Rio Grande do Norte), isso significa que as pessoas não foram operadas ali. Ou morreram na fila, ou fizeram a operação em outro lugar", diz o economista Alexandre Marinho, um dos autores da pesquisa.

Há uma clara relação entre o número de equipes de transplantes por Estados e as operações realizadas. Uma das conclusões dos pesquisadores é que, assim como o Sistema Único de Saúde (SUS), o SNT - segundo maior do mundo, com gastos de mais de R$ 500 milhões por ano - também apresenta enormes desigualdades.

Em 2006, 63.975 pessoas estavam na fila de espera no Brasil. Naquele ano, 14.098 transplantes foram realizados no País (10.676, ou 75,7%, nas regiões Sul e Sudeste). São Paulo aparece no topo da lista com 6.433 procedimentos, o resto do País fez 7.665. A produtividade das 603 equipes cadastradas pelo SNT está entre as mais altas do País. Do lado de baixo da lista aparecem Alagoas, com 43 procedimentos, e Mato Grosso, com 40.

Apesar da clara tendência de concentração desses procedimentos no Sul e Sudeste, o Rio se destaca negativamente. Em 2006, suas 208 equipes cadastradas pelo SNT realizaram uma média de 1,98 transplante cada uma, ou 400 procedimentos. Em 2004, foram 596 transplantes. No ano seguinte, 524.

Para a coordenadora da Central Estadual de Transplantes do Rio, Ellen Barroso, a queda no número de transplantes no Estado segue uma tendência nacional. Outro problema é a falta de capacitação de alguns hospitais. "Uma das dificuldades é a falta de infra-estrutura para procedimentos de alta complexidade", afirma. Ellen também cita a baixa remuneração do Ministério da Saúde e a falta de cobertura dos planos de saúde.

MIGRANTES -- A dificuldade em conseguir um órgão faz com que os pacientes abandonem seus Estados à procura da cirurgia no Sul e Sudeste. "Quando uma pessoa se desloca do Amazonas para o Rio Grande do Sul, isso tem um custo para o sistema e para o bem-estar desse paciente", diz Marinho.

Em São Paulo, a Associação para Pesquisa e Assistência em Transplantes (Apat) - criada por médicos, em 2003 - abriga cerca de 300 pessoas por ano vindas de fora de São Paulo. O comerciante Maurino Dias Bezerra, de 53 anos, deixou para trás a mulher e duas filhas em Rio Branco, no Acre, para conseguir um novo fígado. Antes, passou três meses internado com uma cirrose em estágio avançado causada por hepatite C. Seu filho, Waldemiro Dias Bezerra Neto, de 24 anos, veio com ele, para se candidatar como possível doador. "É uma dificuldade parar toda sua vida para ir a outro lugar em busca de tratamento", diz Neto.

Por esse trabalho, a Apat desembolsa cerca de R$ 8 mil por mês. "Antes da criação da casa, tínhamos casos como o de uma paciente que veio para São Paulo e se hospedou em um abrigo municipal", diz o cirurgião Tércio Genzini, coordenador da Apat. "Essa mulher contraiu tuberculose no abrigo e passou sete meses internada, à beira da morte."

O coordenador do SNT, Abrahão Salomão Filho, não contesta a pesquisa do Ipea e elogia a minúcia de detalhes de seus autores. Segundo ele, uma solução deve sair do papel em breve. O projeto de lei que cria as brigadas de procura de órgãos nos Estados pode ser aprovado pelo ministro José Gomes Temporão ainda neste começo de ano.

Salomão diz que a desigualdade entre Estados é resultado da falta de equipes capazes de realizar os transplantes, principalmente no Norte e Nordeste. A baixa remuneração dos procedimentos é outro fator que causa desinteresse dos centros médicos em criar equipes, afirma Salomão.





Fonte: Estadão

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