Repórter News - reporternews.com.br
Noticias da TV
Domingo - 23 de Setembro de 2007 às 09:42

    Imprimir


Gilberto Braga não escreve cenas como quem olha pelo buraco da fechadura e relata a intimidade das pessoas, como faz Manoel Carlos. Muito menos atrai a atenção do público com mirabolantes personagens de realismo fantástico, como há tempos fazia Aguinaldo Silva. Também não aposta no tom policial com sotaque paulistano, típico do texto de Silvio de Abreu. Gilberto investe na sofisticação.

Tanto que, com Paraíso Tropical, conseguiu até influenciar as coleções de primavera-verão das principais grifes nacionais através do figurino de uma personagem considerada até então ralé pela maioria da sociedade: uma prostituta do calçadão de Copacabana. Na pele sarada de Bebel, emoldurada pelo resgate do decote "engana-mamãe" no maiô, pelos brilhos e saltos altíssimos, Camila Pitanga construiu uma personagem que entrou para a história das novelas.

Com muita "catiguria" - como a personagem diria -, Bebel caiu nas graças do povo. A atriz agarrou com longas unhas vermelhas o papel que foi escrito para Mariana Ximenes - que recusou alegando cansaço por trabalhos consecutivos - e humanizou uma prostituta que deveria ser vilã. A garota de programa que queria ser exclusiva até se apaixonou pelo fiel cliente Olavo, outro destaque de Wagner Moura em sua breve trajetória na tevê.

Méritos não faltam na trama que acertou desde sua abertura, com belas tomadas aéreas de Copacabana embaladas pela voz de Maria Bethânia. Uma verdadeira reverência ao mais conhecido cartão-postal do país. E homenagens também não faltaram na novela. A primeira foi Gilberto Braga tentar fazer com que Tony Ramos fosse odiado no papel do ambicioso Antenor. Mais uma vez, como já era de se esperar, o ator "pôs a novela no bolso" e conseguiu fazer outro vilão querido e perdoável, apesar das atitudes insanas.

No entanto, histórias insensatas também mereceram destaque e deixaram a desejar. Foi quase um desserviço criar um casal gay, de Carlos Casagrande e Sérgio Abreu - que interpretam, respectivamente, Rodrigo e Tiago ¿ e ignorar que eles poderiam ter o óbvio destaque de mostrar com mais profundidade um casamento homossexual bem-resolvido. Não apenas mostrá-los como uma espécie de figuração na trama. Foi um evidente desperdício.

Mas Gilberto Braga e Ricardo Linhares foram generosos em grandes doses com outros personagens. Luli Miller, como a doce Gilda foi um dos destaques da trama, assim como Patrícia Werneck e sua cansativa boa-moça Camila. Missão cumprida também para o quarteto Chico Diaz, Beth Goulart, Daniel Dantas e Fernanda Machado. Com os personagens Jáder, Neli, Heitor e Joana, os atores aproveitaram textos elaborados para destacar dramas e conflitos sem cair na pieguice. Sempre na dose certa, medida com cautela pela regência do diretor Dennis Carvalho.

A trama, que se estabilizou em modestos 41 pontos de média e 68% de participação nessa reta final, teve vários tons pincelados por Dennis. A história começou com sombrios matizes de cinza para apresentar o submundo de Copacabana e seus muitos personagens à margem da sociedade. No entanto, a trama foi se tornando cada vez mais solar até ser fisgada por atuações mais cômicas, como a despachada Dinorá, bem composta por Isabela Garcia.

Na contramão do riso, veio a sordidez cada vez mais evidente de Taís, a interessante gêmea má de Alessandra Negrini, que trabalhou em dose dupla. Apesar de não convencer muito no início com os "xis" arrastados da carioca Taís para contrastar com a voz mansa da monótona gêmea "do bem" Paula, Alessandra ganhou terreno aos poucos. E mostrou, sem escorregar numa atuação caricata, interessantes e difíceis contrastes entre as personagens.





Fonte: 24 Horas News

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/206120/visualizar/