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Economia
Domingo - 10 de Junho de 2007 às 13:03

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SÃO PAULO - Carnês, cartões de crédito, de débito e de lojas estão roubando o espaço do cheque no comércio. No ano passado, as transações com cartões de crédito somaram 1,99 bilhão e superaram o volume de cheques compensados, que foi de 1,71 bilhão. Os pagamentos com cartões de débito e crédito ultrapassaram 3,6 bilhões. O dinheiro de plástico se popularizou tanto que é aceito até em barraca de feira.

Nas compras de supermercado, o cheque também está perdendo fôlego. A participação dele baixou 7,5%, para 3,8%, entre 2002 e 2006, enquanto a do cartão de crédito subiu de 17,8% para 20,1% e a do cartão de débito, de 9,5% para 14,8%, no mesmo período de comparação.

O dinheiro ainda é o meio de pagamento mais usado pelo consumidor no supermercado. Mas perde participação nas vendas a cada ano, devido ao crescimento dos cartões. Em 2002, os pagamentos em dinheiro correspondiam a 33,7% das vendas. Em 2006, o porcentual caiu para 28,2%.

Os números da Serasa, empresa de análises e informações financeiras, revelam que nos últimos 15 anos o número de cheques compensados no sistema bancário caiu quase 50% - despencou de 3,2 bilhões, em 1991, para 1,71 bilhão, em 2006.

´É claro que o cenário econômico mudou muito nos últimos anos e outras formas de pagamento conquistaram o consumidor´, observa o assessor econômico da Serasa, Carlos Henrique Almeida. Ele lembra que antes do Plano Real a inflação altíssima inibia o uso do cartão de crédito. O pagamento em cheque predominava no comércio. Nessa época, os cartões de débito nem sequer existiam - só aparecerem depois de 1996.

Fora de moda

Mesmo num período mais recente, o volume de cheques compensados vem minguando. Em 1999, a participação, em quantidade, dos cheques como instrumento de pagamento era de 62,5% e caiu para 27,4% em 2005, segundo números do Banco Central. Já a presença dos cartões de crédito subiu de 13,8% para 28% no mesmo período. Nos cartões de débito, o salto foi de 2,7% para 17,2%.

Os especialistas da área de bancos acrescentam que, além dos cartões, os cheques também perdem espaço para as transferências de crédito eletrônicas. Os números mostram isso. As transferências de crédito por meios eletrônicos (DOC e TED) nas transações de maior valor também cresceram e representam 17%.

Pesa também contra o uso dos cheques o custo das tarifas bancárias. Só para enviar um talão de cheque via correio, por exemplo, as instituições financeiras podem cobrar de R$ 3,60 a R$ 6,00, segundo a última pesquisa do Procon. Isso, sem contar as taxas cobradas por uso acima do previsto das folhas do talão. E há ainda quem observe no comércio que há mais consumidores que evitam o cheque por segurança, com receio de falsificações.

Não é que o cheque vá desaparecer, na avaliação da Serasa, mas ocupará um outro nicho com o crescimento de novos meios de pagamento. ´Afinal, 1,7 bilhão de transações com cheques representam um volume significativo´, diz Almeida. ´A grande vantagem do cheque ainda é ser um instrumento barato para o lojista. Tanto é que uma parcela evita o uso de cartão por causa dos custos.´

As administradoras de cartões não divulgam as taxas cobradas no comércio na negociação, mas o varejo cita porcentuais de 3% a 5% sobre a venda. ´Há estabelecimentos que chegam a pagar 7%, mas quem tem margem muito baixa paga menos, assim como as maiores redes´, diz um lojista.

Além do empenho das bandeiras Visa e Mastercard e dos bancos de divulgarem cada vez mais seus produtos nos últimos anos, o parcelamento sem juros no cartão substituiu o cheque pré-datado. Nas Lojas Cem, por exemplo, as vendas com cheque pré-datado representavam entre 2% e 3% do faturamento há quatro anos. Hoje, com a oferta de cartões que permitem parcelamento em até sete vezes sem juros, a participação do pré-datado encolheu para 0,5%. Nas compras a prazo, 12% são pagas com cartão, 0,5% com cheque e o restante no carnê. ´Incentivo a venda no carnê porque ela traz o consumidor de volta às lojas´, diz o supervisor-geral da rede, Valdemir Colleone.

Nas Casas Bahia, metade dos pagamentos é feita em carnês. Mas a venda com cartões, aceita na rede há quatro anos, já tem 40% de participação.As vendas à vista com cheque ou dinheiro representam 10% do faturamento.

Preferência por carnê

Uma pesquisa da inSearch sobre carnês revela que o consumidor, principalmente o de menor renda, tem mais segurança em pagar prestações no carnê do que no cheque ou no cartão de crédito. ´Ele encontra flexibilidade na negociação da data, caso atrase o pagamento´, explica o diretor da empresa, Fábio Mariano.

O levantamento, com base em 900 entrevistas, mostra que 65% preferem pagar parcelado em carnê a ter de usar cheque pré-datado. Entre os entrevistados, metade acredita que os juros das compras parceladas em carnês são menores do que os juros cobrados nos cheques pré-datados. Quando se trata de cartões de crédito, 55% consideram as taxas maiores do que as aplicadas no parcelamento no carnê.

O parcelamento em carnê, avalia o diretor da inSearch, é menos burocrático do que a análise do crédito para cheque pré-datado. ´Muitas vezes um histórico de inadimplência atrapalha a concessão do crédito em cheque´, diz. ´Há também lojas que consideram importante que o cliente nunca tenha deixado de pagar um carnê, mesmo que esteja inadimplente em outro lugar.´

O pré-datado ainda resiste no comércio da periferia e nas pequenas lojas. Segundo uma pesquisa da Telecheque, em torno de 70 % dos cheques emitidos em 2006 foram pré-datados. ´Nos shoppings e nas grandes redes o pagamento com cartão de crédito e débito pode predominar. Mas em lojas menores, o pré-datado ainda está muito bem´, diz o vice-presidente da Telecheque, José Antonio Praxedes Neto.

Ele observa que na baixa renda há até o ´cheque família´, que é ´emprestado´ a parentes para o consumo à vista ou parcelado. ´Quem tem o talão cede as folhas para compras diversas e até para prestações feitas com pré-datados, por exemplo, em pequenas lojas de material de construção.´ Um dos maiores motivos de inadimplência com cheques, revelam pesquisas da Associação Comercial de São Paulo, é o empréstimo do nome ou do cheque para compras feitas por parentes e amigos.





Fonte: Estadão

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