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Economia
Terça - 15 de Maio de 2007 às 18:39

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Os preços relativamente altos de alguns dos principais produtos agrícolas exportados pelo Brasil minimizam o impacto do câmbio valorizado nas contas dos produtores, afirmaram analistas e um representante do setor nesta terça-feira.

Mas, assumindo que o real continue nestes níveis, eles prevêem problemas graves nos próximos anos, com as cotações agrícolas retornando para perto das médias históricas, como normalmente ocorre nas commodities.

'Estamos numa fase de preços internacionais bons para alguns produtos. (Mas) logicamente temos uma preocupação muito grande com o médio e longo prazo, porque acreditamos que os preços bons não se sustentam', afirmou Flávio Turra, gerente técnico-econômico da Ocepar (Organização das Cooperativas do Estado do Paraná).

Pelos cálculos da Ocepar, o valor médio recebido pelo exportador brasileiro de soja este ano está em 270 dólares por tonelada, ante uma média nos últimos seis anos de 228 dólares.

No caso do farelo, a diferença é também de 40 dólares por tonelada entre os valores deste ano e a média recente.

O principal fator a impulsionar os preços dos grãos este ano foi a demanda aquecida nos Estados Unidos por milho, para alimentar a crescente indústria de etanol.

Considerando que os valores voltem para o patamar médio, a Ocepar calcula que para as contas ficarem no azul seria preciso um câmbio de 2,21 reais no caso da soja e 2,81 reais no do milho.

'Num determinando momento, vamos ter problemas seríssimos, quando os preços internacionais vierem para perto da média histórica. Não vamos ter condições de competir', disse Turra.

'Se o preço do milho recuasse para o patamar vigente um ano, um ano e meio atrás, seria um desastre', concordou Fábio Silveira, analista da RC Consultores.

Turra vê problemas já no ano que vem no caso de os norte-americanos conseguirem obter uma safra de milho superior a 300 milhões de toneladas, o que seria suficiente para atender seu mercado interno e o mercado cativo de exportação.

EFEITO HETEROGÊNEO

Ao mesmo tempo em que reduz os ganhos do produtor em real, o dólar baixo reduz os custos de produção, já que parte dos insumos são importados. Mas esse efeito é bem limitado.

Os preços dos fertilizantes estão especialmente altos este ano, com o aquecimento da demanda mundial e problemas na oferta. E custos como o da mão-de-obra, que não são afetados pelo câmbio, vêm subindo nos últimos anos, lembrou Silveira.

Turra sugere como medidas alternativas de ajuda a serem tomadas pelo governo, caso o câmbio continue nestes níveis, uma redução nos custos de infra-estrutura, das taxas de juro para o setor e a abertura do comércio intra-Mercosul, principalmente para agroquímicos.

Silveira afirmou que, assim como nos grãos, a situação é relativamente confortável para as áreas de carnes e suco de laranja. No caso do setor sucroalcooleiro, a situação é um pouco diferente, com o preço do açúcar bruto atingindo nesta terça-feira o menor valor em dois anos em Nova York.

'O que está compensando é o volume produzido e exportado pelo setor, que tem aumentado. O preço do álcool está razoavelmente bem. O açúcar já está prejudicado', disse.

'No conjunto, o agronegócio tem um desempenho razoável com a taxa de câmbio que está aí, que vai permitir que as exportações este ano aumentem em relação ao ano passado', disse Silveira, que prevê aumento dos embarques de praticamente todas as commodities agrícolas, exceto o café.

Ele prevê uma expansão de 8 a 9 por cento na receita com exportações em dólar para o ano, para 43 bilhões de dólares. Em real, o aumento ficaria em 2 por cento. Silveira projeta o câmbio médio no ano em 2,06 reais, contra 2,18 reais em 2006.

O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Homero Pereira, observou que a situação é mais complicada para produtores de áreas mais distantes dos portos. 'Toda a eficiência que o produtor tem dentro da porteira, ele perde', acrescentou Pereira, para quem o fortalecimento do real 'vai gerar perda de renda e endividamento.'




Fonte: Reuters

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