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Repórter News - reporternews.com.br
Politica Brasil
Segunda - 30 de Abril de 2007 às 07:41
Por: Adriana Vandoni

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Bastou Blairo viajar para instalar de vez a bagunça no quintal do governo. É deputado pedindo vistas disto, vistas daquilo. É outro falando duro que não precisa do governo. Daí vem outro e diz que são independentes. Tudo conversa fiada pra boi dormir. Como já disse o próprio Blairo: quando chegam pra falar comigo, vêm todos mansinhos.

Desmoralização e desprezo com o outro poder!

A verdade é que nunca na história de Mato Grosso a Assembléia Legislativa foi tão quintal do governo estadual como hoje. É toma lá, dá cá. Se vocês não aprovarem minha mensagem eu não faço tal coisa, é assim que funciona. Vez ou outra aparece um mais brabinho dizendo que vai investigar isso ou aquilo pelo bem da população. Mas eles não falam sério. Faz parte do toma lá, dá cá. Pela situação dos serviços prestados pelo Estado, comprova-se que as preocupações dos parlamentares passam bem longe das necessidades ou carências do povo.

Enquanto os meninos bagunçam o quintal de Blairo, a população fica à mingua. Mato Grosso sedia três municípios com os piores índices de educação do país, outro como o mais violento. Isso porque Blairo disse que nunca usaria a educação para politicagem. Ironicamente no seu primeiro mandato colocou uma secretária que, como escutei o prefeito de Rondonópolis dizer: uma educadora que se formou em um curso vago. Nada pessoal, mas ouvi isso. Porém ela tinha uma experiência e tanto. Em votos, claro. Depois veio o trator que, convenhamos, é mais eficiente para contratar empreiteira e tocar obra que para lidar com seres humanos. Agora, a educação em frangalhos, foi negociada e entregue ao PT. Foi mais uma vez usada como barganha política.

Um senhor idealista este governador!

Outra área que foi arrasada nesta "ousada e moderna" administração foi a saúde. Sabem como vai a saúde? Muito bem, obrigada!, devem agradecer assim os pacientes de outros estados que estão recebendo órgãos daqui. Para quem não sabe, nos tornamos bons exportadores de órgãos, aliás, nunca exportamos tantos órgãos para transplante, como se não houvesse no estado 1.245 pessoas na fila aguardando a chance de continuar vivendo. Enquanto se discute quem será o candidato a prefeito daqui ou dali, ou enquanto constroem sonhos presidenciais, corações, fígados e rins saem de Mato Grosso para salvar vidas em outros estados. Em 2002 foram realizados 74 transplantes no estado; em 2005 foram 45, sendo 42 de córnea; em 2006 apenas 40, sendo 39 de córnea e 1 de rim. E reparem, existem 848 pessoas na fila aguardando um rim em Mato Grosso.

Ah, para os interessados em confirmar os números sobre transplantes no estado, obtidos no Ministério da Saúde, aqui vai um conselho: não adianta ligar para a coordenadora da Central de Transplantes de MT, ela só fala sobre o assunto com autorização da assessora de imprensa. Eu liguei e ela me informou: "Liga pra ela [assessora de imprensa], se ela me autorizar eu falo". Não liguei, claro, a resposta da coordenadora me bastou para comprovar o descaso com os pacientes que aguardam a chance de um transplante, a coordenadora apenas acrescentou a falta de transparência.

Que vexame! Os indicadores da saúde são vergonhosos.

O coeficiente de "prevalência de hanseníase" é de 17,13 casos para cada 10 mil habitantes, índice considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como "Muito Alto". Sabem o que indica isso? Negligência à atenção de saúde básica. Abandono no atendimento de necessidades primárias.

Mato Grosso, nas mãos deste "ousado, moderno e transparente" governo, enterra 82,78 mães para cada 100 mil nascidos vivos. Esse índice em 2002 era de 48,73 para cada 100 mil. Mas o que é isso? Nada mais que um "mero" indicador de condições de vida da população e de qualidade da atenção à saúde da mulher. Demonstra que os cuidados oferecidos à população são deficientes e pioraram. Segundo a OMS, 98% dessas mortes seriam evitáveis se existissem políticas públicas sérias voltadas para a saúde da mulher. Em países desenvolvidos, como nos Estados Unidos, onde o governador está agora marretando seu negócio, as taxas de mortalidade materna variam de 4 a 8 óbitos por 100 mil nascidos vivos.

Pois é, né? Vou repetir: em Mato Grosso o número é de 82,78 mães mortas. Será que deu pra captar?

Não digo que este governo seja incompetente, competência ele tem. Diria que até demais. O que falta é responsabilidade e compromisso com o povo deste estado e isso, aliado à inoperância da Assembléia Legislativa como fiscalizadora, fará dos dois, Executivo e Legislativo, cúmplices de homicídios.

Pior que uma Assembléia ineficiente é uma subserviente.

Adriana Vandoni é economista, especialista em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas/RJ, professora do curso de pós-graduação em Gestão de Cidades e escreve às quartas e aos domingos em A Gazeta. E-mail: avandoni@gmail.com





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